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08/07/2017

'Eleições de 2018 não vão trazer consolo ao brasileiro', diz presidente de consultoria de risco dos EUA

Foto: Getty Images

Especialista em países emergentes diz que eleição de 2018 vai ser entre "o velho e o novo"

Em um tuíte recente, o americano Ian Bremmer, especialista em países emergentes e presidente do Eurasia Group, uma das maiores consultorias de risco político do mundo, ironizou que o "Brasil está mostrando aos americanos no que consiste realmente um escândalo político".


A publicação fazia alusão à então recém-instaurada crise no governo, deflagrada a partir da divulgação da conversa entre o empresário Joesley Batista, dono da JBS, e o presidente Michel Temer.


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Bremmer diz acreditar que as eleições do ano que vem "não vão trazer consolo aos brasileiros".


"As regras atuais que envolvem as eleições legislativas tornam mais provável que o Brasil assista a muitos dos mesmos problemas acontecendo no ano que vem, como o custo alto do pleito e muitos partidos criando um Congresso fragmentado", avalia.

 

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Apesar disso, ele se diz otimista quanto ao futuro do país.


"No fim das contas, os brasileiros devem se reconfortar com o fato de que todos esses escândalos políticos estão, na prática, trazendo à tona a verdadeira corrupção. Sim, é um processo extremamente doloroso, mas precisa acontecer", opina.


Confira a seguir a entrevista, realizada antes de Temer ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República.

 

A crise política brasileira parece interminável. O senhor vê alguma luz no fim do túnel? Qual é a solução para o Brasil?


Um bom jeito de começar seria tornar os sistemas eleitorais mais responsáveis e transparentes, com campanhas mais baratas. Isso reduziria os incentivos para a corrupção logo de cara.


Mas, no fim das contas, os brasileiros devem se reconfortar com o fato de que todos esses escândalos políticos estão, na prática, trazendo à tona a verdadeira corrupção. Sim, é um processo extremamente doloroso, mas precisa acontecer.


O Brasil precisa dar um basta na propina e na corrupção. Sem isso, as leis não vão funcionar. Também precisa cobrar maior transparência das empresas. Só dessa forma elas irão se tornar mais eficazes e eficientes.


Considero que, em última análise, a Lava Jato está ajudando o país a trilhar um caminho melhor.

 

Mas o que o Brasil deve fazer para entrar nos eixos? Quais mudanças o senhor gostaria de ver implementadas?


Além das reformas políticas que mencionei, o Brasil precisa de uma reforma previdência eficaz para colocar as finanças em ordem.


Também precisa de uma legislação tributária mais simples, de modo que as empresas - nacionais ou internacionais - tenham mais facilidade para operar. Precisa trazer a experiência de gestão para dentro das estatais.


E, por último, precisa investir em infraestrutura tanto para a classe trabalhadora quanto para a classe média.


Qual é a sua avaliação sobre o governo de Michel Temer? É melhor ou pior do que o de Dilma?


Considero o governo Temer melhor do que o de Dilma no sentido de que tem um melhor entendimento dos mercados e da economia. Mas claramente é tão corrupto e parte do mesmo sistema falido.


Olhando mais para frente, Temer parece ser o fim de um ciclo político que começou na década de 1980, quando o país estava caminhando de volta para a democracia.

 

Essa classe política específica atingiu a maioridade durante a ditadura militar, e passou as três décadas seguintes consolidando as instituições políticas (anos 1980), a estabilidade econômica (anos 1990) e os ganhos sociais (anos 2000).

 


"Governo Temer é claramente é tão corrupto e parte do mesmo sistema falido

do que governo Dilma", diz Bremmer (Foto: Richard Jopson)

 

Agora uma nova geração precisa surgir e assumir a liderança política, mas não está claro quem será. Daí o risco de grandes surpresas no ano que vem durante as eleições.


Como os políticos brasileiros podem recuperar a confiança do povo? Isso é possível?


Isso só será possível por meio da emergência de verdadeiras lideranças nas eleições brasileiras. Há dois grandes desafios para esses novos aspirantes à política: 1) melhorar as condições de vida para o brasileiro médio por meio de melhores serviços públicos e 2) não roubar.


Até o momento, tem sido difícil encontrar políticos capazes de alcançar esses dois objetivos.

 

Isso é um problema, especialmente porque os últimos protestos têm mais a ver com o fato de que as expectativas da população não estão sendo atendidas do que propriamente uma reação contra a corrupção.


O que os brasileiros podem esperar das eleições do ano que vem? O senhor acredita que as eleições podem trazer reconforto aos brasileiros dado que muitos não veem mais esperança no país?


Triste dizer, mas as eleições do ano que vem não vão trazer muito consolo ao brasileiro médio. O pleito vai ser menos entre a direita e a esquerda e mais sobre o velho e o novo - e já temos visto que a demanda por candidatos antissistema vem crescendo.


Enquanto é perfeitamente possível sermos surpreendidos com quem vai ser eleito presidente, as regras atuais que envolvem as eleições legislativas tornam mais provável que o Brasil vá assistir a muitos dos mesmos problemas acontecendo no ano que vem, como o custo alto do pleito e muitos partidos criando um Congresso fragmentado.

 


Para Bremmer, Doria não é um "messias político", mas forçará

uma mudança na área (Foto: Reuters)

 

O país precisa de uma vez por todas de reformas eleitorais essenciais, mas isso não deve acontecer a tempo das eleições do ano que vem, dado que qualquer mudança nas regras tem de ser aprovada um ano antes. Não teria essa ilusão.


Todas as atenções estão voltadas para o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). Doria se apresenta como um "forasteiro" que está mudando a forma de fazer política no Brasil. O senhor realmente considera que ele está redefinindo a forma de fazer política no Brasil?


Não resta dúvida de que Doria representa uma reviravolta na política brasileira.

 

Apesar de ele não ser o "messias político" que muitos imaginavam, a forma como ele faz política - o uso das redes sociais, a relação com o setor privado, suas habilidades de gestão - vão forçar políticos antiquados a se submeterem a uma mudança radical.


Os resultados desse novo tipo de estilo na política ainda não são conhecidos - e podem nem ser tão frutíferos quanto imaginariam os mais otimistas. Mas é difícil imaginar as coisas ficando piores do que estão atualmente.


Da forma como está agora, Doria é um candidato muito forte para 2018, não por causa dos métodos que ele vem usando, mas porque ele tem o apoio de um partido dominante, o que é importante em um país continental como o Brasil.


A legislação eleitoral dá aos maiores partidos dominantes maior alavancagem durante as eleições, seja pelo tempo de TV ou dinheiro.


Em vários países do mundo, como nos Estados Unidos e na França, candidatos que não se dizem políticos vêm sendo eleitos. Essa é a nova tendência na política?


Não. Pelo menos ainda não. Não estamos vendo isso acontecer no Japão ou na Alemanha, onde a classe trabalhadora ou a classe média não têm os mesmos níveis de populismo dos Estados Unidos. Ou na China, onde o Partido Comunista continua firme e forte.


Os contextos locais importam, mas esse tipo de perfil político está certamente crescendo - e precisamos ficar atentos a isso.

 

BBC Brasil

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