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Mulher
16/02/2017

'Estrelas Além do Tempo': as mulheres esquecidas que ajudaram a ganhar a Corrida Espacial

Foto: Reprodução / Smithsonian

As mulheres eram a solução

Enquanto os Estados Unidos estavam à beira da Segunda Guerra Mundial, o impulso para o avanço aeronáutico crescia cada vez mais, estimulando uma demanda insaciável por matemáticos.

 

As mulheres eram a solução. Introduzidas no Laboratório Aeronáutico de Langley em 1935 para suportar o peso do número de dados, elas agiam como “computadores humanos”, liberando engenheiros de cálculos décadas antes da era digital. Afiada e bem-sucedida, a população feminina em Langley disparou.

 

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Melba Roy liderou o grupo de computadores humanos que rastrearam os satélites

Echo na década de 1960


Muitas delas estão finalmente recebendo seu devido reconhecimento. Chamadas de “Computadores”, elas ajudaram a abrir caminho para matemáticos e engenheiros de todas as raças e gêneros. “Essas mulheres eram comuns e extraordinárias”, disse Margot Lee Shetterly em seu novo livro, “Hidden Figures”, que fala sobre os detalhes internos da vida dessas mulheres e suas realizações.

 

“Tivemos astronautas, tivemos engenheiros, como John Glenn, Gene Kranz, Chris Kraft. Esses caras já contaram suas histórias. Agora é a vez das mulheres”, disse Shetterly.

 

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Katherine Johnson (Foto: Reprodução / Smithsonian)


Crescendo em Hampton, Virgínia, nos anos 70, Shetterly viveu próxima de Langley. Construído em 1917, este complexo de pesquisa era a sede do Comitê Consultivo Nacional para a Aeronáutica (NACA), que se destinava a transformar artilharia em máquinas de guerra. A agência foi dissolvida em 1958, para ser substituída pela Agência Nacional de Aeronáutica e Espacial (NASA), pois a corrida espacial tinha ganhado importância.

 

As “computadores” estavam no centro dos avanços. Elas trabalharam através de equações que descreviam cada função do plano, executando os números da maior missão do projeto. Elas contribuíram para o design em constante mudança de uma coleção de aeronaves em tempo de guerra, tornando-as mais rápidas, seguras e aerodinâmicas.

 

Eventualmente o trabalho delas permitiu que algumas deixassem o meio da computação para realizar projetos específicos, como Christine Darden que trabalhou para trazer avanços no voo supersônico e Katherine Johnson que calculou as trajetórias para as missões de Mercúrio e Apollo.

 

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Christine Darden

 

A NASA dissolveu as poucas “computadores humanas” restantes na década de 1970, à medida que os avanços tecnológicos apareciam. Os negros não pisaram em Langley até a década de 1940. Embora as necessidades urgentes da guerra fossem grandes, a discriminação racial continuava alta e havia poucos empregos para afro-americanos, independentemente do sexo.

 

Isso durou até 1941 quando A. Philip Randolph, pioneiro ativista dos direitos civis, propôs uma marcha em Washington D.C., para chamar a atenção para as injustiças de discriminação racial.

 

Com a ameaça de 100.000 pessoas marchando para o Capitólio, Franklin Roosevelt emitiu a Ordem Executiva 8802, impedindo a discriminação racial na contratação de trabalho federal e de guerra. Esta ordem também abriu caminho para os homens negros que trabalhavam como computadores humanos.

 

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Franklin Roosevelt (Fotos: Reprodução / Internet)

 

Exatamente quantas mulheres trabalharam no NACA, e mais tarde na NASA, é um número desconhecido. Um estudo de 1992 estimou o total superava várias centenas, mas outras estimativas, incluindo a da própria intuição de Shetterly, diz que o número está em milhares.

 

Quando criança, Shetterly conhecia essas matemáticas brilhantes como líderes de escoteiras, professoras de escolas dominicais, vizinhas e mães de colegas de escola. Seu pai também trabalhou em Langley, começando em 1964 como estagiário de engenharia e se tornou um cientista climático respeitado.

 

“Eles eram apenas parte de uma vibrante comunidade de pessoas, e todos tinham seus empregos. E esses eram seus trabalhos. Trabalhando na NASA”, disse Shetterly. Cercada por acadêmicos, levou décadas para Shetterly perceber a magnitude do trabalho das mulheres. “Até que meu marido, que não era de Hampton, estava ouvindo meu pai falar sobre algumas dessas mulheres e as coisas que elas fizeram”, disse Shetterly.

 

A centelha da curiosidade acendeu e Shetterly começou a pesquisar sobre elas. Ao contrário dos engenheiros do sexo masculino, poucas delas foram reconhecidas em publicações acadêmicas ou por seu trabalho em vários projetos. Ainda mais problemático era que as carreiras delas muitas vezes menores do que as dos homens brancos. Os costumes sociais da época ditavam que assim que se casassem e tivessem filhos, essas mulheres se aposentariam para se tornar donas de casa em tempo integral, explicou Shetterly. Muitas só permaneceram em Langley por alguns anos.

 

Mas quanto mais Shetterly procurava, mais mulheres descobria. “Minha investigação se tornou mais como uma obsessão. Eu iria andar qualquer trilha se isso significasse encontrar um traço de uma das mulheres computadores no final.”, escreveu Shetterly. Ela vasculhou listas telefônicas, jornais locais, boletins informativos de empregados e arquivos da NASA para sua crescente lista de nomes. Ela também leu memorandos, obituários, anúncios de casamento e muito mais para conseguir qualquer dica sobre a vida das mulheres.

 

“Eu recebo e-mails o tempo todo de pessoas cujas avós ou mães trabalhavam lá. Recentemente recebi um e-mail de uma mulher perguntando se eu ainda estava procurando por mulheres computadores. Ela tinha trabalhado em Langley de julho de 1951 a agosto de 1957”, disse Shetterly.

 

Langley não era apenas um laboratório de Ciência e Engenharia: “Em muitos aspectos, era um laboratório de relações raciais, um laboratório de relações de gênero”, disse Shetterly.

 

Os pesquisadores vinham de todas as partes Estados Unidos. Muitos eram de partes simpatizantes do movimento de direitos civis, que apoiavam os ideais progressistas de liberdades expandidas para negros e mulheres. Não só as mulheres raramente recebiam as mesmas oportunidades e títulos como os seus homólogos masculinos, mas também viviam com lembretes constantes de que eram cidadãs de segunda classe.

 

Shetterly destaca um incidente particular envolvendo uma placa ofensiva na sala de jantar com a designação “Computadores Coloridos”, fazendo alusão à cor de pele dos funcionários. Uma “computador” chamada Miriam Mann, respondeu à afronta como uma vingança pessoal. Ela arrancou a placa da mesa. Quando colocaram a placa de volta, ela a removeu novamente. “Foi uma coragem incrível. Aquele era ainda um momento em que as pessoas eram linchadas por se sentarem no lugar errado”, disse Shetterly.



Eventualmente Mann venceu e a placa desapareceu. As mulheres lutaram muitas mais destas batalhas aparentemente pequenas, contra banheiros separados e acesso restrito às reuniões.

 

Foram essas pequenas batalhas diárias que Shetterly se esforçou para capturar em seu livro. E fora do local de trabalho, elas enfrentaram muitos mais problemas, incluindo ônibus separados e escolas precárias. Muitas lutaram para encontrar moradia em Hampton. Os homens brancos podiam morar em Anne Wythe Hall, um dormitório que ajudava a aliviar a escassez de habitação, mas os negros eram deixados por conta própria.

 

O livro e o filme não marcam o fim do trabalho de Shetterly. Ela continua a coletar esses nomes, esperando finalmente montar a lista on-line. Ela espera encontrar os muitos nomes que foram peneirados ao longo dos anos e documentar o trabalho de suas respectivas vidas. Ela também espera que seu trabalho preste uma homenagem a essas mulheres.

 

Smithsonian / CRGIS / Jornal Ciência

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