28 de Marco de 2024 - Ano 10
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19/08/2018

'Mudança climática é ameaça à biodiversidade', diz um dos maiores botânicos e ecologistas do mundo

Foto: Wilton Júnior / Estadão

Um dos maiores ecologistas do mundo, com mais de 50 anos de Amazônia, Ghillean Prance destaca valor das populações nativas

Quando se fala em aventureiros e exploradores, os nomes que vêm à mente são quase todos do século 19. Eram intrépidos europeus que enfrentavam florestas tropicais, exploraram regiões polares, lançaram-se aos mistérios do Oriente. O britânico Ghillean Prance, de 81 anos, considerado um dos maiores botânicos e ecologistas do mundo, é um desbravador do século 21.

 

Especialista em Floresta Amazônica, local que visita desde 1964, Prance voltou mais uma vez à mata, na semana passada. Em mais de 50 anos de Amazônia, experimentou de tudo. Viveu em 16 diferentes tribos indígenas, teve malária, estudou a biodiversidade amazônica, sofreu um desastre de avião na selva, testemunhou a destruição da mata. E carrega consigo uma certeza: as populações nativas são as mais bem preparadas para preservar, de forma sustentável, o meio ambiente.

 

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Como o senhor se apaixonou pela Amazônia?

 

Sempre fui apaixonado por plantas e exploração. Comecei a estudar as plantas tropicais porque eram as de maior diversidade. Minha tese era sobre as plantas da América Latina. Então, pensei: “Tenho de ir à Amazônia para continuar meus estudos, lá está a maior variedade de plantas”.

 

A primeira vez do senhor na Amazônia foi em 1964? O que mudou nesses anos?

 

Em 1964, como botânico, meu interesse era só na floresta. Naquela época havia pouca destruição. Mas logo depois, já em 1970, começou a construção da Transamazônica e de represas, e então comecei a notar problemas ambientais. Fui convidado a ser o primeiro diretor da pós-graduação no Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Vendo a destruição sem nenhum plano sustentável, acabei me tornando muito mais ecologista (do que botânico).

 

O senhor acha que já há perda significativa de diversidade?

 

Certamente estamos perdendo espécies. Acho que não em grande quantidade, mas também não temos dados para saber o quanto perdemos. Acontece sobretudo no caso de algumas plantas que têm distribuição restrita a apenas algumas áreas. Essas são as mais ameaçadas, juntamente com os animais associados a elas.

 

Há um risco real de desertificação da Amazônia por causa do desmatamento e das mudanças climáticas em curso?

 

Acho que sim (há risco), sobretudo por causa das mudanças climáticas. Elas estão impactando a biodiversidade mais do que qualquer outra coisa. Não estamos falando só da destruição da floresta, mas do consumo de gasolina nos Estados Unidos e na China. É um problema mundial. Temos de nos unir se quisermos resolver, ter a Amazônia no futuro. Precisamos da mata.

 

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Falando em respeito às plantas, como é a relação dos índios com a Floresta Amazônica?

 

Se você olhar o mapa da floresta, verá que as áreas onde ainda vivem os índios são as mais conservadas. Muitas das tribos não destroem grandes áreas e usam a floresta de forma sustentável. Essa é uma coisa que deveríamos aprender com eles, os métodos sustentáveis de manejo da floresta.

 

Estadão

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