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22/03/2019

'Neste momento do Brasil, depois do golden shower, tudo é possível!', diz João Gordo

Foto: Reprodução

Aos 55 anos, músico celebra 30 anos de

Um país anestesiado pelo futebol, pelo carnaval, pela música pop, pela religião e pelos programas policiais de TV. Um surto de violência herdado dos tempos autoritários do regime militar, permeando um cenário geral em que ainda se juntam a recessão econômica, favelas em meio a uma interminável guerra entre crime, polícia e justiceiros, e uma Floresta Amazônica que vai virando cinza em ritmo acelerado.


Esse era o quadro tenebroso que a banda paulistana Ratos de Porão pintava em 1989 em “Brasil”, álbum que rapidamente se tornou um clássico do punk nacional e um dos maiores sucessos comerciais do underground roqueiro pátrio.


— Da capa às músicas, parece que tudo aquilo foi feito ontem. “Amazônia nunca mais”, “S.O.S. país falido”, “Retrocesso”.... É assustador! — reconhece João Gordo, vocalista dos Ratos e autor tanto dos versos das canções quanto da concepção da arte do disco, executada pelo quadrinista Marcatti.

 

— Algumas letras se encaixam perfeitamente nesse momento crítico pelo qual o país está passando. “Farsa nacionalista” tem 30 anos, parece coisa de Mãe Dinah! Mas não é que eu seja vidente, é que o país não muda! Só que agora é pior, porque as pessoas estão assumidamente racistas e assumidamente fascistas.


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"Retrocesso”.... É assustador! (Foto: Reprodução)


Ainda em atividade, os Ratos de Porão comemorarão/lamentarão as três décadas de lançamento de “Brasil” com uma série de shows especiais, só com as músicas do disco, que começa dia 20 de abril no festival Abril Pro Rock, em Recife. Ao longo dos ensaios, Gordo tem se confrontado com as memórias de quando começou a compor as músicas para aquele que seria o quarto álbum dos Ratos e o primeiro para uma gravadora estrangeira (a holandesa Roadrunner, que havia acabado de contratar também os mineiros do Sepultura).


— Foi bem na época do fumo da lata ( no fim de 1987, quando o barco Solana Star despejou cerca de 15 mil latas recheadas de potente maconha, na costa brasileira, para escapar da polícia ), e eu acho que até por isso o disco é tão genial! — debocha o cantor. — O país tinha um monte de problema, o Plano Cruzado II do Ribamar ( o presidente José Sarney ), congelamento dos preços, dois mil por cento de inflação... tá tudo ali registrado.


Ironicamente, “Brasil” foi gravado em Berlim, na primeira viagem que os Ratos de Porão fizeram para a Europa. Harris Johns, tarimbado produtor de discos de metal extremo, penou para extrair de Gordo um desempenho inteligível das versões em inglês das letras.


— A gente era tosco, não falava inglês nem porra nenhuma, não deu para aproveitar a passagem pela Europa da mesma forma que o Sepultura aproveitou — conta o cantor. — As pessoas lá não entendiam as letras, a capa, o disco trazia uma ideia muito particular. A gente fez poucas turnês pela Europa naquela época em que era jovem. E eram só turnês underground.


Hoje, depois de 37 anos de banda, os rolês dos Ratos pela Europa têm sido bem melhores.


— É um prazer estar, sei lá, na Eslováquia e ver o cara cantando “Crucificados pelo sistema” e “Beber até morrer” em português. E tocar em festivais junto com Slayer e Black Sabbath, que é uma coisa que não acontece no Brasil. Aqui, é como se a gente não existisse — reclama Gordo, que também tem queixas acerca do público do metal no país. — Tem muito fascista, gente que não se importa com as letras, que só quer saber do som. Mas o que eles não sabem é que periga um ( pastor Silas ) Malafaia desses proibir os shows de heavy metal satânico de que eles gostam. Neste momento do Brasil, depois do golden shower , tudo é possível!

 

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Aos 55 anos recém-completados, ele embarcou nesta semana para a Argentina, para cumprir uma série de sessões de discotecagem, tocando rock dos anos 1960. Na volta, sua vida é só dos Ratos de Porão (e um pouco de televisão, já que ele ainda tem o programa “Eletrogordo” no Canal Brasil e deve voltar com o “Panelaço”, no YouTube).


— Eu tô ótimo, fiz exames de próstata, de rim, de fígado... sou diabético, mas não cardíaco. Estou pronto para encarar outro rolê — assegura o eterno punk, pai de Victoria, 14, e Pietro, 13. — Meu filho começou a tocar bateria, e minha filha só pensa em faculdade, eles têm uma visão política bem bacana. Estão crescendo, bem diferentes dessa molecada que está aí.

 

O Globo

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