19 de Abril de 2024 - Ano 10
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24/03/2015

Marcelo Ramos: “O nosso sistema partidário é uma avacalhação”

Foto: Marcos Gomes / PORTAL DO ZACARIAS

Marcelo Ramos: “A presidente vai pra TV pedir que o povo faça sacrifícios e aí o Legislativo aumenta os salários dos deputados, o Judiciário aumenta os salários de juízes e promotores, e a presidente não diminui o número de ministros"

Nesta entrevista ao PORTAL DO ZACARIAS, Marcelo Ramos fala de suas relações com o governador José Melo e o prefeito Arthur Neto, defende a reforma política e confirma sua presença na disputa municipal de 2016. Faz duras críticas ao PT e se diz preocupado com o perigo de “venezuelização” do Brasil.


Por J Taketomi, editor de Política PORTAL DO ZACARIAS


PORTAL DO ZACARIAS – Marcelo, você já decidiu sua mudança de partido?


Marcelo Ramos – Essa é uma decisão que ainda não tomei, porque penso que, neste momento, considerando aquilo que o País e o Estado do Amazonas vivem, mais importante do que o partido a que me filiarei é organizar um conjunto de pessoas capazes em torno de um novo projeto pra Manaus, pessoas que acreditam ser necessário inaugurar um novo tempo na política do Amazonas. Há uma geração que está se esgotando na política do Estado e não teve a grandeza de preparar sua transição. São quadros que estão beirando os 70 anos, que ainda comandam a política estadual. Há um sentimento de mudança por conta disso, um sentimento que foi demonstrado na votação que recebi em 2014 através de dezessete por cento da população que votou em mim. Essas pessoas acreditam no nosso projeto e é por isso que eu mantenho firme a determinação de concorrer à Prefeitura de Manaus em 2016.


Portal – Há especulações de que você teve um recente encontro com o governador José Melo e estaria prestes a assumir um cargo no Governo do Estado.


Marcelo – Tudo na minha vida política é público. Eu me encontrei várias vezes com o prefeito Arthur Neto, com quem tenho muito diálogo via celular, pelo Watsapp, ele me liga, eu ligo pra ele, e tive um encontro com o governador José Melo, um encontro público pra conversar com ele sobre a atual conjuntura política do Estado e sobre um compromisso que ele tem comigo com relação a autonomia econômico-financeira da UEA.


Portal
– Isso pode ter influenciado na reparação que a Assembleia Legislativa fez quanto a UEA, que esteve com a sua autonomia administrativa por um fio?


Marcelo – Acho que sim, o governador assumiu um compromisso comigo e com a população amazonense em torno da UEA, quando do segundo turno das eleições. Ele tem esse compromisso com os servidores da UEA e com aqueles que enxergam a UEA como um grande instrumento de desenvolvimento do Estado. Então, o meu encontro com José Melo foi aberto, público, republicano. E outra coisa, quando eu declarei o meu voto a ele no segundo turno, escrevi que não participaria da administração do governador Melo. Quero que o governo dele dê certo e digo que o momento pra mim não é de ocupar cargo, mas de unir forças políticas em torno dessa ideia de mudar o Amazonas.

 

“Não há democracia intrapartidária. Vejam o exemplo dos vereadores Samuel e

Jacqueline, expulsos do PPS. Eles não foram chamados para a decisão

e depois foram condenados por não cumprirem uma decisão

da qual eles não tiveram a chance de participar.

Isso não é democracia, isso não é partido”

 

Portal - O projeto sobre a Rede Sustentabilidade, com Marina Silva, continua de pé?


Marcelo
– Se há um partido que faz parte do meu projeto é a Rede Sustentabilidade, pela relação que eu tenho com a Marina e com a direção da rede aqui e pela ideia de um partido mais horizontalizado. O sistema partidário brasileiro é um sistema falido, desmoralizado, as pessoas não se enxergam no sistema partidário brasileiro. Os partidos são máquinas burocráticas a serviço dos seus donos e algumas vezes dos seus donos com os seus familiares, isso não é bom, e eu acho que a Rede aponta um novo caminho, um caminho de combate ao caciquismo. No Amazonas não há um partido que não tenha o mesmo presidente há mais de dez anos, é o PMDB nas mãos de Eduardo Braga há mais de dez anos, o PSDB nas mãos de Arthur Neto, que o passou ao filho, bem como o PSB é o Serafim Corrêa há mais de dez anos, que passou o partido ao filho. O PSD é o Omar Aziz desde que ele existe e o Pros é o José Melo. O nosso sistema partidário precisa de uma reforma.


Portal
– O País reclama por uma reforma política, mas ela resolverá as coisas sem uma ampla reforma partidária?


Marcelo – O ministro Carlos Ayres Britto, no voto dele sobre a resolução da fidelidade partidária, disse que a resolução precisava necessariamente ser acompanhada de uma reforma intrapartidária, que garantisse democracia intrapartidária. Nesse sentido, vale citar o exemplo dos dois vereadores (Samuel e Jacqueline) expulsos do PPS, eles não foram chamados para a decisão e depois foram condenados por não cumprirem uma decisão da qual eles não tiveram a chance de participar. Isso não é democracia intrapartidária, isso não é partido. O nosso sistema partidário é uma avacalhação. No Brasil, o membro de um partido pode fundar outro, isso é uma avacalhação. Por isso, eu defendo algumas coisas importantes, como a proibição de reeleição dos presidentes de partidos, obrigando a alternância de poder internamente. E outro ponto: a proposta do PT de fim do financiamento privado por empresa, e fim do financiamento público com a distribuição dos recursos utilizando o mesmo critério do tempo de TV, é uma gracinha, porque, objetivamente, 50% dos recursos ficarão com PT e PMDB. Isso significa concentrar mais poderes nas mãos dos partidos hegemônicos. Uma reforma política séria determinaria exclusivamente o financiamento de pessoa física com limite de doação de 100 mil reais, com a mesma pessoa não podendo fazer doações a mais de um candidato ao mesmo cargo.


Portal – Como a reforma política poderia melhorar o processo político-eleitoral, de modo a evitar escândalos como o mensalão e o petrolão?


Marcelo
– O Governo Federal tenta assumir o protagonismo do combate á corrupção como se esse combate fosse obra de um poder só e como se fosse obra de uma mera alteração legislativa. Ora, a Itália conseguiu combater a máfia construindo um pacto entre os três poderes e a sociedade. O combate à corrupção pressupõe um pacto entre os três poderes, porque de nada adianta você ter uma ótima legislação sem o Poder Judiciário e o Tribunal de Contas independentes. Seria nada. Então, o Governo Federal tem que montar um Comitê Nacional de Combate à Corrupção com representantes do Executivo, do Legislativo, do Judiciário e da sociedade.


Portal
– Com a volta das grandes manifestações populares, o que se pode esperar para o País caso as reivindicações das ruas não forem atendidas?


Marcelo – Vamos separar o movimento legítimo de brasileiros que não suportam mais essa desconexão entre a política e a vida real do povo trabalhador de uma minoria atrasada, reacionária, antidemocrática. Nós temos que tomar muito cuidado com isso, não adianta mandar o PT pra Cuba porque o PT, mesmo no auge do Lula, nunca mandou o Jair Bolsonaro para qualquer Estado islâmico. A gente tem que ter cuidado com o que está por trás de uma minoria mal intencionado utilizando uma maioria ingênua. Mas, as manifestações têm um fato concreto: a crise saiu da consciência e chegou no bolso do cidadão. A presidente vai pra TV pedir que o povo faça sacrifícios e aí o Legislativo aumenta os salários dos deputados, o Judiciário aumenta os salários de juízes e promotores, e a presidente não diminui o número de ministros. Só o povo teria que fazer sacrifícios. O Poder Público, não. Ora, o povo não agüentou e foi pra rua.
Portal – Dá pra comparar a crise brasileira com a crise da Venezuela?


Marcelo
– Para o PT, é ótima essa divisão entre pobres e ricos, e o que está em jogo hoje não é essa guerra. O que está em jogo é uma guerra de retomada do crescimento do País, é uma guerra de estancar a sangria que a corrupção gera nos cofres públicos e isso une pobres e ricos. Mas, de certo modo, eu temo o perigo dessa venezuelização do Brasil. No entanto, nós temos instituições mais sólidas que a Venezuela e as nossas Forças Armadas não admitem saídas fora dos marcos institucionais e da democracia. Nós temos que parar com essa bobagem de ‘ditadura militar’.


Portal – De um 1 a 10, que nota você dá para o governo José Melo?

 

“Tudo na minha vida política é público, conversei e converso com o prefeito Arthur e com o

governador José Melo. , o meu encontro com Melo foi aberto, republicano. E quando

eu declarei o meu voto a ele no segundo turno das eleições, escrevi

que não participaria da administração do governador Melo”


Marcelo – O governo do José Melo ainda não começou, talvez esteja dando agora os primeiros passos, não temos elementos ainda pra fazermos julgamentos da administração do governador Melo. E eu poderia rebaixar a nota por conta desse atraso, já que o Amazonas não pode esperar três meses por uma reforma administrativa. Poderia, também, elevar a nota pelo fato de o governo ter cortado na carne e dado um bom exemplo. Se a sociedade faz sacrifícios, o governo tem que fazer também.


Portal – Que nota merece o governo Arthur Neto em Manaus?


Marcelo
– O prefeito Arthur ocupou duas lacunas das duas últimas administrações municipais. A administração do ex-prefeito Serafim Corrêa ficou muito marcada pelos buracos nas ruas e a administração do Amazonino Mendes ficou marcada pela ausência do prefeito. O Arthur tem procurado preencher essas lacunas e ficar muito presente nas coisas da Prefeitura, tem tido coragem de enfrentar questões polêmicas como a questão da Faixa Azul. É uma medida dura, mas necessária, e tem cometido uns erros como, por exemplo, a ciclovia do Boulevard, que não é séria. Então, eu dô pro Arthur uma nota acima de 5.


Portal
– Os problemas da Faixa Azul não seriam resultantes da falta de educação de trânsito?


Marcelo – Os governos têm muita dificuldade de dialogar com a sociedade. E uma coisa que ninguém discute: as pessoas tentam dizer que a culpa do engarrafamento do trânsito em Manaus é dos ônibus e da Faixa Azul. Sabem quanto por cento da frota de veículos são ônibus na nossa cidade ? Apenas três por cento. Como é que três por cento dos veículos são responsáveis pelo engarrafamento na cidade ? Agora, outro detalhe é que esses três por cento de ônibus transportam 56% da população. Logo, o meu carro não pode ter prioridade no trânsito em relação ao ônibus articulado, que conduz diariamente 180 pessoas, e que 80 por cento dessas pessoas andam em pé. É óbvio que esses ônibus têm que ter prioridade em relação ao meu carro. A classe média, que tem carro, não pode condenar o pobre a não sair de casa. Faltou um trabalho de convencimento prévio em torno da Faixa Azul. 

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