25 de Abril de 2024 - Ano 10
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14/03/2015

Wilson Périco adere à onda “fora Dilma” e defende permanência de Gustavo Igrejas na Suframa

Foto: Marcos Gomes / PORTAL DO ZACARIAS

Wilson Périco: "Eu vou usar o meu direito de cidadão. E não será uma manifestação partidária, não será uma manifestação contra um indivíduo, mas contra os rumos que o País está tomando"

Nesta entrevista ao PORTAL DO ZACARIAS, o presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, protesta contra a incompetência e os descaminhos do Governo Federal, elogia José Melo e Arthur Neto e diz que somente uma Suframa autônoma poderá irradiar verdadeiro desenvolvimento socioeconômico aos estados do Norte. “Uma canetada do governo Collor acabou o comércio da ZFM. Vivemos hoje o terceiro momento, que é a atividade industrial, e não podemos nos permitir repetir o que fizemos no passado”, desabafa.

 

Por J Taketomi, editor de Política do PORTAL DO ZACARIAS

 

PORTAL DO ZACARIAS – Por que o senhor vai participar das manifestações pelo ‘Fora Dilma” no domingo?


Wilson Périco – Eu vou usar o meu direito de cidadão. A democracia brasileira me garante esse direito. E não será uma manifestação partidária, não será uma manifestação contra um indivíduo, mas contra os rumos que o País está tomando. O Brasil é um país que não cresce, há quatro anos com uma atividade econômica definhando e o desemprego aumentando no Sul e aqui na nossa Região Norte. Esse movimento é uma demonstração de que a população não concorda com a forma como está sendo conduzida a coisa pública.


Portal – A presidente Dilma diz que não há crise brasileira e que apenas o País é vítima de uma conjuntura econômica internacional bastante problemática. É isso mesmo ou o caso brasileiro é uma questão de incompetência?


Périco – Se nós olharmos o cenário econômico mundial, vemos a economia norte-americana se recuperando, a gente vê a China já retomando o seu crescimento pujante, a gente vê uma Europa já estabilizada apesar de alguns problemas. O Brasil é diferente, tem potencial e pode continuar crescendo em qualquer cenário por conta de suas riquezas e do tamanho do País. Mas não cresce por quê? Existe uma pressão tributária muito grande sobre a atividade produtora, existe uma displicência do Governo Federal com relação ao planejamento econômico do País, ninguém vê investimento em infraestrutura para beneficiar o desenvolvimento econômico brasileiro.


Portal – E a indústria brasileira?

 

 

“Existe uma pressão tributária muito grande sobre a atividade produtora,

existe uma displicência do Governo Federal, que não se

preocupa com o futuro, tudo o que a gente vê em ternos de

investimento é pra cobrir rombos, déficits que já existem”

 

Périco - A indústria brasileira é quem mais sofre, chegou a representar 26% do PIB e hoje não passa dos 15%. O governo não se preocupa com o futuro, tudo o que a gente vê em ternos de investimento é pra cobrir rombos, déficits que já existem. A atividade agrícola não tem como crescer porque ninguém tem como escoar por conta das limitações portuárias e das rodovias em frangalhos. Se o Brasil estivesse crescendo 5% ao ano já teríamos tido um apagão, porque não temos fornecimento de energia pra atender esse crescimento. Vejamos o Sudeste do País sofrendo uma crise hídrica que foi anunciada pela primeira vez em 1998 e que em 2003 isso foi colocado como prioridade e nada foi feito. Vejamos a nossa Região Norte passando por descasos, retiraram toda a representatividade e autonomia da Suframa. Estamos indo pra oito meses sem uma reunião do Conselho Administrativo da Suframa e projetos estão aí aguardando pra serem aprovados e empregos serem gerados aqui. Eu não vejo crise mundial afetando o Brasil, eu vejo isso como uma má gestão da coisa pública.


Portal
– Em um cenário ruim como esse, que perspectivas há em relação à Zona Franca de Manaus?


Périco – Há uma inércia em função de problemas gerados lá atrás. O Governo Federal, em vez de fazer uma reforma tributária pra ajustar os seus custos, ele busca repassar isso pra sociedade como aumento da carga tributária, com o aumento das contas de energia e isso pesa no bolso do cidadão e na atividade produtora como um todo, fica mais caro o Custo Brasil tirando competitividade da indústria brasileira dentro do próprio território nacional. Isso traz uma círculo vicioso, você tem menos dinheiro circulando, menos consumo, menos demandas por novos produtos e a diminuição da atividade industrial, e mais desemprego. Então, o movimento popular deste domingo tem esse viés.


Portal – A indefinição acerca do comando da Suframa não piora a situação da ZFM numa conjuntura de caos como a que vivemos?


Périco – Acho que nós temos condições de como resolver algumas questões regionais. Sentimos uma preocupação grande por parte do ministro Armando Monteiro quanto a Zona Franca de Manaus, ele foi tido como o quarto senador do nosso Estado no Congresso Nacional. Eu acho que as manifestações deste domingo vão ajudar o governo a adotar as medidas de que precisamos. A Suframa e o CBA são questões importantes. A Suframa é um direito constitucional nosso, ela tem um papel a ser executado com as taxas recolhidas aqui, Taxa de Administração da Suframa, o P&D, que é um recurso que deve ser aplicado na região onde ele é gerado e que, no entanto, está sendo investido na educação de outros estados. Por que não se trouxe o Ciência Sem Fronteiras para os alunos da nossa região?


Portal – Por que o Governo Federal, tendo todo esse dinheiro disponível, não ajuda a educação do nosso Estado, já que o dinheiro foi gerado aqui?

 

Wilson Périco com o jornalista Juscelino Taketomi: “O superintendente da Suframa tem

que ser um técnico que conheça bem nossa região, não queremos que seja um

político, retiraram toda a representatividade e autonomia da Suframa.

 

Périco – O governo deveria garantir que o recurso, uma vez que foi usado no Ciência Sem Fronteira, fosse utilizado nesse mesmo programa em benefício dos estudantes do Amazonas. E eu acho que há uma lacuna no programa Ciência Sem Fronteira, porque você não garante que esse capital intelectual vá voltar ao Brasil e à região de onde ele saiu pra trazer crescimento pra ela.


Portal
– A maioria dos empresários do PIM quer a permanência do atual superintendente da Suframa, Gustavo Igrejas, um técnico competente e bem relacionado nos escalões federais, mas, de repente, pode ganhar a disputa um técnico do MDIC dissociado da nossa realidade.


Périco – No meu entender, a gestão da Suframa passa por um enfraquecimento, mas nós tivemos dois momentos importantes na questão do superintendente, passando pela gestão do doutor Ozias Monteiro, que era uma pessoa nossa, e pela doutora Flávia Grosso, que era uma funcionária de carreira da Suframa. Esse é o caso do Gustavo. Quando defendemos o Gustavo, não é o indivíduo Gustavo, mas o que ele representa, é um cara que está aqui com a gente, é um técnico que conhece a Suframa, é benquisto pelos servidores da Suframa, conhece as urgências da nossa região. Então, ele é um bom nome. O que a gente espera que não aconteça é que esse cargo de superintendente da Suframa seja ocupado por um agente político. Nós defendemos que seja uma pessoa com conhecimento da nossa região, que tenha conhecimento do papel da Suframa na nossa região. A Suframa deveria ser a voz do Governo Federal na nossa região, se esse governo deixasse que os recursos que ela gera fossem usados para promover o desenvolvimento dos estados do Norte. Nos últimos quatro anos, mais de 3 bilhões de reais gerados pela ZFM deveriam estar sendo investidos na região e não estão. O governo represa tudo e abre espaço pra emendas parlamentares, dá papel pra deputados e senadores, quando esse papel poderia estar sendo exercido por conta da legislação que criou a Taxa da Suframa, que obriga a aplicação desses recursos pela própria Suframa. Mas, neste País as decisões ocorrem sempre pelo víeis da política e nem sempre com tecnicidade.


Portal – O senhor não acha que a nossa bancada federal tem sido omissa demais com relação à defesa da Suframa?


Périco
– Há uma bancada renovada e a gente não tem nem como cobrar nada agora neste início de legislatura. Eu tenho muito respeito por todos os nossos representantes. Antes não havia uma coesão e isso precisa ser corrigido porque senão a canoa não sai do lugar. Precisamos das lideranças do Governo do Estado e das lideranças parlamentares, para que os recursos gerados pela Suframa sejam aplicados nos estados do Norte e a nossa representação política no Congresso seja mais forte, com a região mais unida.


Portal – Em breve ocorrerá o julgamento no STF do Recurso Extraordinário 592.891, interposto pela União contra decisão que reconhece o direito ao creditamento de IPI na entrada de insumos provenientes da ZFM. Qual a sua expectativa?


Périco – Essa Súmula Vinculante foi colocada em 2009 no Supremo Tribunal Federal pelo ex-ministro Joaquim Barbosa. Existem alguns equívocos na redação dessa Súmula. Alguns ministros foram alertados e estão revendo seus posicionamentos. Acredito que isso está bem encaminhado pra evitar maiores prejuízos e redução da competitividade e dos investimentos aqui em Manaus.


Portal – O senhor tem propostas para dar mais dinamismo ao parque industrial amazonense. A próxima reunião do CAS não será um excelente palanque para divulgar e obter apoio às propostas?

 

Périco – Nós não podemos permitir que a prorrogação da Zona Franca de Manaus seja o advento de uma Copa do Mundo regional. O que eu quero falar? Nosso Estado vai passar pelo terceiro momento socioeconômico de sua história, depois do extrativismo quando o Amazonas contribuiu decisivamente para a Balança Comercial brasileira. Naquela época, não criamos tecnologia e não diversificamos nossa economia. O segundo momento foi no final dos anos 60 com o advento do modelo ZFM focado no comércio, tinha um viés agrícola e industrial. Uma canetada do governo Collor acabou o comércio da ZFM. Vivemos hoje o terceiro momento que é a atividade industrial e não podemos nos permitir repetir o que fizemos no passado. Então, temos que preservar o que sustenta o modelo, que são os polos de Duas Rodas e o Eletroeletrônico, e temos que desenvolver novas matrizes econômicas para o Estado do Amazonas, levando riqueza, emprego e renda ao interior, e é preciso trabalho forte do governo para mapear as potencialidades do nosso Estado, e, com isso, deixarmos de ser dependentes do PIM e deixarmos de ser reféns de Brasília. Na campanha política, tivemos conversas com todos os candidatos ao governo estadual nesse sentido.


Portal – O governador José Melo acena com a duplicação da Estrada AM-010 e a reestruturação do Porto de Itacoatiara como parâmetros para mudar o perfil econômico do Estado. Ele está seguindo a direção que o senhor prega e defende?

 

“Existe uma pressão tributária muito grande sobre a atividade produtora, existe uma

displicência do Governo Federal, que não se preocupa com o futuro, tudo o que a

gente vê em ternos de investimento é pra cobrir rombos, déficits que já existem”

 

Périco – Lógico, é preciso tirar essa pressão da cidade de Manaus e não podemos ficar eternamente de pires na mão pedindo esmolas de Brasília, não somos nenhum patinho feio. Das 27 entidades federativas deste País, apenas 8 devolvem pra União, em arrecadação de tributos, mais do que o repasse compulsório que recebem, e o Amazonas é uma dessas entidades. Fala-se de renúncia fiscal por conta do modelo ZFM, é verdade, mas apenas 17% da renúncia fiscal do País está aqui por conta da ZFM., ninguém fala da renúncia fiscal oferecida pra indústria automobilística, pra indústria de informática. Os investimentos do BNDES, que deveriam ajudar a diminuir as desigualdades regionais, 60% desses investimentos estão no Sudeste, que é a região mais rica do País, ninguém vê investimento do BNDES no Norte do País, mas fora do País, em Cuba, por exemplo. Nós temos que entender o Amazonas como integrante do Brasil e temos que dar liberdade para todos investirem aonde quiserem, essa é a questão do PPB. A Constituição assegura o nosso direito de produzirmos o que quisermos em nossa região com incentivos fiscais, com exceção de cinco itens: armas, munição, bebida alcoólica e perfume, fumo e carro de passeio. Quem decide aonde produzir é o investidor, não é nenhum técnico de Brasília. Se o PPB diz respeito |à ZFM, os técnicos que venham aqui discutir com os investidores e não forçar esses investidores a irem a Brasília e se expor ao assédio e à pressão de lobistas a serviços de outras regiões. Eu estou defendendo direitos assegurados pela Constituição.


Portal – A PEC sobre a ciência e a tecnologia, aprovada pelo Congresso Nacional, vai ajudar a ZFM?


Périco
– Ninguém acreditava, mas a nossa região gerou um volume de recursos muito grande em P&D. Havia uma projeção de 600 milhões em P&D pra nossa região. Para 2016 a projeção indica que a gente vai superar 1 bilhão. Qualquer País sério, numa região como a nossa, faria uma revolução. A legislação diz que a produção de P&D, deve recolher 5% que devem ser aplicados na região onde esses recursos são gerados. Nós temos que garantir que isso será aplicado aqui. E nós temos aí o CBA, que desenvolve as alternativas de biotecnologia pra nossa região, temos a UEA que a atividade industrial custeia com um por cento do seu faturamento. Se somarmos os recursos do P&D à vocação da UEA, já implantada em 61 municípios do Estado, fora a capital, e direcionarmos a grade curricular para esses municípios, conseguiremos fazer a nossa revolução em termos de desenvolvimento de atividades econômicas. Para tanto, precisamos criar capital intelectual, e precisamos começar já, não podemos esperar 30, 40 anos para fazer alguma coisa.


Portal – O senhor acha que a extinção da Secretaria de Ciência e Tecnologia foi um equívoco ou foi um acerto do governador José Melo?


Périco – Diferentemente do Governo Federal, a gente nota na administração municipal e na administração estadual uma preocupação com os custos. A extinção da Secretaria de Ciência e Tecnologia seria um equívoco se a atividade desse órgão deixasse de existir, o que eu não acho que vai acontecer. Essa atividade vai ser absorvida por outra secretaria sem reduzir a importância que ela tem. E a Sect tinha um custo para o Governo Estadual. O atual governador tem uma preocupação, ele vem do meio acadêmico, ele conhece a nossa região como poucos e tem a preocupação de levar riqueza para o interior. Ele conhece e respeita a participação da indústria na composição dos recursos para atingir esses objetivos. O nosso Estado é grande em território, mas muito pequeno quando se fala em forças, e temos que somar todos os esforços para atingirmos os objetivos que são importantes para todo mundo. 

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