24 de Abril de 2024 - Ano 10
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Internacional
14/03/2018

Análise: Merkel já entrou para História, mas mandato deve ser o último

Foto: Fabrizio Bensch / Reuters

No quarto governo, chanceler terá que lidar com insatisfação popular e reforma da zona do euro

Ao ser reeleita pelo Parlamento hoje, a chanceler Angela Merkel já entrou para a História ao seguir o caminho de ícones da política alemã, como os ex-chanceleres Konrad Adenauer e Helmut Kohl, os únicos que também foram eleitos para um quarto mandato.

 

No entanto, as 30 abstenções registradas na votação parlamentar indicam que o provavelmente último mandato da governante que veio do Leste será o mais difícil de todos, apesar do bom estado da economia do país.

 

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O longo tempo de mais de cinco meses — desde as eleições de setembro — para a formação do governo dá uma idéia do desequilíbrio que surgiu no país que é desde o final da Segunda Guerra o mais estável da União Européia do ponto de vista político e econômica. Os dois blocos da “grande coalizão” — os conservadores de Merkel e os social-democratas do SPD — perderam quase 15 pontos em votos em setembro, de eleitores insatisfeitos com o fim das diferenças entre social-democratas e os conservadores, muitos dos quais foram atraídos para as fileiras da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD).

 

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Vista como a “mulher mais poderosa do mundo” ou a política “anti-Trump”, que seria capaz de salvar o Ocidente do “politicamente incorreto” presidente americano, Merkel nunca adota posições extremas e deixa sempre aberto um caminho de comunicação. Ela, por exemplo, criticou o presidente russo Vladimir Putin pela anexação da Crimeia, em 2014, mas o presenteou recentemente com cerveja de Dresden, a cidade da extinta Alemanha Oriental onde Putin começou a sua carreira de agente da KGB.

 

Como disse o presidente alemão Frank Walter Steinmeier, o maior desafio de Merkel e da sua coalizão será superar a forte polarização que tomou conta da sociedade alemã em consequência da crise dos refugiado, sobretudo sírios, que buscaram refúgio no país a partir de 2015.

 

A disputa entre os pobres alemães e os refugiados pelos alimentos gratuitos da ONG “Tafel” é atualmente o tema mais discutido nos talk-shows de TV. Outro assunto prioritário para os alemães é a ameaça da UE de proibir a circulação de carros a diesel nas cidades alemãs.

 

O dilema do euro

 

Merkel, a política que sempre aguarda todo mundo falar para tomar uma decisão, prometeu apoiar o projeto do presidente francês, Emmanuel Macron, de maior integração econômica na Europa, com um ministro das Finanças para todo o bloco do euro. Mas, para isso, ela precisa da aprovação da União Social Cristã (CSU), que combate com toda a energia qualquer tentativa de aumento dos poderes da UE.

 

O euro será um ponto forte da política do novo governo, que vem sendo observado com grande atenção pelos países do sul da Europa, que antigamente gemiam com as exigências de austeridade na política fiscal ditadas por Berlim. Ao contrário de Wolfgang Schäuble, o novo ministro das Finanças e vice-chanceler, Olaf Scholz, do SPD, defende uma política de mais investimentos no Sul para fomentar o crescimento econômico. Os planos são de criação de uma espécie de fundo monetário europeu, para apoiar os países em crise sem depender do Fundo Monetário Internacional.

 

Possível sucessora mulher

 

Merkel é desde há 18 anos presidente da União Democrata Cristã (CDU, na sigla em alemão), mas ela se identifica mais com o SPD do que com a CSU, parceira da CDU no bloco conservador.

 

Em mais de 12 anos de governo, a chanceler pragmática, o oposto do político carismático descrito pelo sociólogo alemão Max Weber, mudou mais a Alemanha do que qualquer antecessor. Já no primeiro mandato, de 2005 a 2009, ela foi derrubando uma depois de outra posição conservadora, com o fim do serviço militar obrigatório, a decisão de fechamento das usinas atômicas do país, e, por último, a mais controvertida dentro do próprio partido, a abertura das fronteiras do país para o ingresso de 1,3 milhões de refugiados, em 2015 e 2016.

 

No entanto, mesmo com essa política mais social-democrata e verde do que conservadora, ela conseguiu abafar os críticos e criar no seu partido um sistema de disciplina rigorosa. A polarização na CDU, como em toda a sociedade alemã, não deixou, porém, de existir, e vai ficar mais visível nos próximos três anos e meio, na disputa sobre quem será o sucessor de Merkel.

 

Se ela ainda tiver poder para decidir quem vai sucedê-la à frente do partido, será mais uma vez uma mulher, Annegret Kramp-Karrenbauer, ex-governadora do estado do Sarre e atual secretária geral da CDU, que defende as mesmas posições de Merkel. Para os conservadores que receiam perder ainda mais adeptos para a extrema-direita, o político preferido é Jens Spahn, de apenas 38 anos, que poderá ser o primeiro homossexual a ter chance de governar a Alemanha.

 

O Globo

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