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08/03/2019

As mulheres 'apagadas' por ataques com ácido, a luta de Laxmi Agarwal

Foto: EFE

Em 2013, Supremo Tribunal indiano ordenou restrição da venda de ácido e compensação de US$ 5 mil às vítimas. Laxmi foi atacada aos 14 anos

Na entrada da casa da indiana Laxmi Agarwal, em um bairro de Nova Délhi, há fotos dela, com seus grandes olhos e sorriso, as duas únicas expressões que ficaram intactas depois do brutal ataque com ácido de um pretendente há quase 15 anos que desfigurou seu rosto.


Laxmi sofreu o ataque em 2005, quando tinha 14 anos. Agora lidera a luta na Índia contra as agressões com ácido e sua perseverança fez com que em 2013 o Supremo Tribunal indiano ordenasse a restrição no país da venda de ácido e a compensação de US$ 5 mil às vítimas, que são mulheres em sua imensa maioria.


"O desafio das meninas começa quando são concebidas", disse Laxmi em entrevista à Agência Efe, na qual expôs a luta vivida pela mulher para sobreviver em uma sociedade patriarcal como a da Índia, onde as meninas não costumam ser bem-vindas desde o nascimento.


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Sentada em um tamborete na varanda de sua casa , Pihu, a filha de quatro anos, pinta de preto e marrom as cabeleiras das Barbies de seu caderno, tal como os longos cabelos de sua mãe, a quem beija e acaricia o rosto.


"Se digo à minha filha que sua beleza e seu rosto são importantes, então ela só focará em seu rosto. Quem me atacou pensou em me jogar ácido no rosto. Não lançou ácido sobre nenhuma outra parte do corpo. Se eu não fosse mulher dele, não seria de mais ninguém. Não me matou, atacou meu rosto", disse a jovem mãe que redimensionou o valor de ser mulher.


Para a ativista e líder da ONG Stop Acids Attacks, que luta com rebeldia em um país profundamente tradicional, homens e mulheres são convencidos desde pequenos de que têm diferentes papéis na vida e "enquanto para menina se fala sobre sua beleza, ao menino se alimenta o ego".


"Se uma menina diz não a uma proposta de casamento ou à amizade de um homem, o ego dele se vê afetado porque foi ensinado desde a infância que tudo lhe pertence", argumentou.


Apesar de ter crescido em um país onde as lutas feministas são uma briga de sobrevivência e as reivindicações são batalhas sobre temas fundamentais e inclusive de liberdades individuais, a exigência de Laxmi escapa das matizes dos extremismos.


Durante suas campanhas de conscientização, segundo contou à Efe, Laxmi sempre pergunta: "Querem respeito?" E todo mundo responde que sim. Depois pergunta aos homens: "As mulheres devem ser respeitadas?" E eles também respondem que sim.


"Mas honestamente, sinto que não quero respeito. O que quero é igualdade. Se houver igualdade, o respeito virá automaticamente com isso. Então, esta diferenciação entre meninas e meninos está piorando as coisas e aumentando os crimes", explicou.


De sua casa, em um bairro humilde do leste da capital indiana, em meio ao barulho de um mercado local repleto de mulheres que ganham a vida em suas barracas de rua, Laxmi acredita que celebrar um dia para as mulheres tem pouco sentido.


"Para celebrar o dia da mulher, não há necessidade de nos fazer nos sentirmos especiais", afirmou, acrescentando que não faz sentido destacar um só dia no qual devem ser respeitadas.


"Um dia nos respeitam e depois da meia-noite nos atacam em estupros em grupo, ataques com ácido e violência doméstica", lamentou de forma enfática a ativista.


"Eu não celebro o Dia da Mulher", completou.

 

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Laxmi não tem certeza se a solução para o problema de igualdade está logo na virada da esquina, porque "o maior problema é como saber qual é o problema? Onde começa tudo?".


"Temos que encontrar a raiz. Seja um menino ou uma menina, ambos nascem do mesmo ventre. As vísceras não são diferentes. Tudo começa aí", assegurou, ao argumentar que talvez a solução não esteja muito distante, que tudo depende dos pais.


"Os bebês são como o barro, tomarão a forma como moldarmos. Então, tudo depende de como estamos criando nossas filhas e filhos dentro das famílias", finalizou.

 

R7

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