24 de Abril de 2024 - Ano 10
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21/08/2017

Atriz Maria Fernanda Cândido fala de política, filosofia, rock'n'roll e filhos

Maria Fernanda Cândido fala sobre filhos e rotina de gravação

Maria Fernanda Cândido nunca foi loura, não ficou famosa pelo sotaque francês (pelo italiano, sim — lembra de “Terra nostra”?), nem viveu uma dona de casa entediada que encontra, na cama de um prostíbulo, a emoção que lhe falta na vida.

 

Mas quando pensamos em celebrar os 50 anos do filme “A bela da tarde”, de Luis Buñuel, com um ensaio no Copacabana Palace, o primeiro nome que surgiu foi o desta paulistana.

 

Mesmo sem ter os 24 anos de Catherine Deneuve à época, a brasileira, de 43, tem a elegância, a beleza e o ar cult que fazem dela a nossa belle de tous les jours.

 

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O momento não poderia ser melhor. Depois de dez anos longe das novelas (mas séries e filmes houve aos montes), hoje ela encarna a dondoca Joyce, uma das mulheres mais populares da novela “A força do querer”. E olha que atrizes badaladas não faltam no folhetim de Glória Perez.

 

A personagem de Maria Fernanda vive o peso da traição do marido e a dificuldade em aceitar a transexualidade da filha, tudo feito com sensibilidade e até uma boa dose de humor, segundo Glória. Para a atriz, este trabalho é “um universo em que se encontram o velho mundo e as novas questões”. Viu a razão do adjetivo cult?

 

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Quase tudo vira filosofia na mente de Maria Fernanda (um dos cacoetes de linguagem dela é a expressão “a se pensar”). No início do ano, até ganhou outro espaço para colocar o tema no ar: o programa “Terradois”, da TV Cultura. Por lá, ela e o psicanalista Jorge Forbes refletem sobre diversos aspectos da era contemporânea num formato que mescla dramaturgia e mesa de discussão.

 

— Sou uma pessoa muito interessada — diz ela, usando um eufemismo para o título de “inteligente”, que, hoje, pode soar até como um constrangimento. — Tenho prazer em conhecer as coisas, em entender variados pontos de vista. É da minha natureza desde a época em que era aluna.

 

A época de aluna é o tempo da USP, onde se formou como terapeuta ocupacional. Quando apresentou o trabalho de conclusão de curso, em 2003, já era uma estrela da TV e “a mulher mais bonita do século XX”, segundo votação popular aberta pelo “Fantástico” no ano 2000; mas, desde então, trabalha pesado para mostrar que, com ela, beleza tem conteúdo.

 

Maria Fernanda não faz o estilo discurso ensaiado nem foge da raia. Na semana das fotos deste ensaio, a votação pela denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara dos Deputados fez com que ela postasse uma imagem da transmissão ao vivo com os emojis de “estamos de olho”. Mencionar essa foto deu pano para a manga no bate-papo, que teve também psicanálise (“Sou analisada desde sempre”), poesia (“Minha avó reunia a família em recitais”) e rock and roll, seus assuntos prediletos.

 

— Temer teria que ser julgado agora e não daqui a pouco. Mas, enfim, o jogo está sendo jogado — diz, antes de emendar reflexões sobre o impeachment de Dilma Rousseff. — Foi um uso oportunista das leis e das bases da democracia. O que seria correto, para mim, era a cassação da chapa pelo TSE.

 

Maria Fernanda Cândido

 

Foto: Pedro Garrido



Apesar de ligada no noticiário, ela se entristece por não estar por dentro das reformas trabalhista e previdenciária, mas advoga pelo sistema distrital misto. A empolgação com o tema foi tanta que nem deu tempo de falar da outra Maria Fernanda, aquela que mata um leão por dia para ser a melhor mãe e profissional possível.

 

Sobre a família, Maria Fernanda diz:

 

— A gente está batalhando para que os meninos não sintam tanto minha falta, mas eles cobraram neste último mês. Não vou mentir: é difícil. Mas não tenho a ilusão de que vou ser uma mãe perfeita. Está tudo certo.

 

Os amigos também andam sentindo sua falta. O advogado e professor de Direito Pierre Moreau que o diga. Na última quarta-feira, ele jantou só com o marido e os filhos da atriz em São Paulo, enquanto ela batia ponto nas lanchonetes do Projac. Sinal de grande amizade.

 

Pierre e Fernanda fazem parte do grupo que se fortaleceu nos “saraus etílico-filosóficos” promovidos nas casas de publicitários, empresários e banqueiros da capital paulista. A atriz pintou nessas reuniões, que misturavam uvas Pinot Noir e o Panóptico, de Foucault, numa mesma conversa, porque ela namorava um dos participantes. O relacionamento acabou, mas a agregada acabou incorporada à patota.

 

— A gente se reunia para tomar vinho e estudar, mas sempre chamávamos um professor para orientar a bagunça — conta.

 

As reuniões começaram a lotar, e até mesmo as mansões ficaram pequenas. Surgiu a ideia: abrir um espaço para cursos para que um público pagante pudesse passar uma tarde com a elite econômico-filosófica do país. Nasceu assim a Casa do Saber, que teve a atriz envolvida em todos os detalhes, dos tijolos aos livros.

 

— Na obra, precisávamos ver onde instalar uma das paredes. A Fernanda, então, fez uma simulação. Abria os braços e falava: “Aqui fica bem”? A gente olhava para aquela mulher linda, falando de parede, e não conseguia pensar direito. Foi difícil concentrar — brinca Pierre.

 

Muita coisa mudou 13 anos depois daquela obra, mas Pierre e, principalmente, o público continuam hipnotizados.


O Globo 

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