20 de Abril de 2024 - Ano 10
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22/10/2017

Bianca Bin, que será agredida em ‘O outro lado do paraíso’, se diz feminista: ‘Eu me meto em briga de marido e mulher, sim!’

Foto: Rodrigo Lopes

Bianca: “Eu era líder de turma, organizava motins na escola em prol de melhorias"

Conscientização. Conquista da capacidade de participação. Inclusão. Exercício da cidadania. Fortalecimento. Libertação. Empoderamento é tudo isso e muito mais.

 

O termo — que ganhou popularidade nos últimos tempos ao ser empregado no discurso pela equidade dos gêneros nas mais variadas atividades sociais — se faz cada vez mais significativo para Bianca Bin.

 

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A atriz, que se declara “feminista desde criança”, encara sua primeira protagonista do horário nobre, aos 27 anos. A partir da próxima segunda-feira (dia 23), com a estreia de “O outro lado do paraíso”, ela se transforma em Clara aos olhos dos telespectadores da nova novela das nove da Globo. No início, a personagem se mostra aparentemente frágil ao se tornar vítima de agressão, mas terá uma grande virada na segunda fase da trama, ao ressurgir vingativa para retomar tudo o que é seu.

 

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— Essa novela tem uma função social muito importante. A violência contra a mulher, assunto abordado no meu núcleo, é algo que me toca profundamente. Nunca aconteceu comigo, mas tenho casos na família e amigas que viveram relacionamentos abusivos.

 

É uma grande honra e uma responsabilidade tremenda carregar esse papel agora, num momento tão simbólico. Distanciar a mulher empoderada, que estou tentando me tornar, de Clara, uma menina ainda imatura, ingênua, é um desafio e tanto! Eu vou contar a história dela, mas também a de Maria da Penha (vítima emblemática de violência doméstica, que dá nome à lei que pune agressores de mulheres), que por sinal eu adoraria conhecer pessoalmente, e de tantas outras que foram assediadas, abusadas, violentadas e até morreram por isso. Não podemos nos calar! — brada a artista.

 


“Distanciar a mulher empoderada, que estou tentando me tornar,

de Clara, uma menina ainda imatura, ingênua, é um

desafio e tanto”,  diz Bianca (Foto: Rodrigo Lopes)


De pele alva, olhos claros e voz doce, Bianca é a delicadeza em pessoa. Mas também passa o batom vermelhão (símbolo do feminismo) e vai à luta. Impulsiva, a atriz toma as dores da vítima sempre que presencia um ato de covardia:


— Esse negócio de não se meter em briga de marido e mulher não está com nada! Eu me meto, sim! Às vezes, na rua, meu marido (o ator Pedro Brandão, de 32 anos) me segura e pede para eu me controlar.

 

Quero dizer para aquela mulher que ela não está sozinha, que estou ali se ela precisar. Temos que gritar, denunciar. Eu me envolvo demais! Novinha, eu dizia que queria ser psicóloga, e meu pai respondia: “Não é profissão para você, porque vai absorver os problemas do mundo”.

 


A atriz e o marido, Pedro Brandão: parceria (Foto: Reprodução de Instagram)


Esse “espírito revolucionário” amadurece desde cedo na menina nascida em Jundiaí e criada em Itu, ambas cidades do interior de São Paulo.


— Eu era líder de turma, organizava motins na escola em prol de melhorias. Acredito na proatividade, na transmutação, em transformar o negativo em positivo para não ficar replicando ódio por aí — ensina ela, lembrando que, muitas vezes, teve que ir na contramão do que aprendia dentro de sua própria casa: — Recebi uma educação muito machista.

 

Sou de família italiana tradicional, religiosa, careta. O que mais me incomodava era ver meu irmão muito mais livre do que eu. Ia e vinha quando quisesse. Eu, não. E não era por conta da idade, já que ele é só um ano e meio mais velho que eu, mas porque é homem.

 

E foi a primeira pessoa a praticar bullying comigo, quando percebi meus seios crescendo, na pré-adolescência. Comecei a andar curvada e com dois casacos para me esconder, de vergonha do meu corpo. Tudo isso é sintoma dessa sociedade patriarcal, que oprime, aponta o dedo. Nós, mulheres, lutamos por nossos direitos desde que nascemos. Se não acontece dentro de casa, rola na rua, no trabalho. Não é fácil!

 


“Eu sou carente, tão dependente emocionalmente... Ops, eu era! Estou

trabalhando  isso em mim”, entrega a atriz (Foto: Rodrigo Lopes)


Ao mesmo tempo em que se revela ativista e corajosa, Bianca não esconde fragilidades. Dias antes de viajar para o Jalapão — santuário ecológico do Tocantins onde foram gravadas as primeiras cenas da novela de Walcyr Carrasco, sob a direção de Mauro Mendonça Filho —, a atriz estava uma pilha de nervos.


— Minha sensação era de estar saltando num abismo para a morte, num voo que eu não sabia onde ia dar. Eu não conhecia Clara, não a compreendia. A viagem com toda a equipe para o começo dos trabalhos num lugar afastado, quase sem conexão com a vida daqui, foi fundamental nessa imersão para a personagem.

 

Só que aí bateu saudade de casa, do meu marido, do meu cachorro... No último dia lá, liguei para a minha mãe aos prantos: “Não sei o que eu entreguei aqui, se ficou bom. Estou com muito medo!”. Dá uma angústia! Acho que só quando eu vir tudo no ar é que vou entender.

 

Eu sou carente, tão dependente emocionalmente... Ops, eu era! Estou trabalhando isso em mim — ela rapidamente se corrige, para logo emendar: — Não consegui dar prosseguimento à terapia porque tenho gravado 11 horas por dia. Só vou em casa para tomar banho, dormir e estudar os capítulos do dia seguinte.

 

O trabalho engole a gente, estou emagrecendo sem parar! E ainda descobri um nódulo na tireoide, que estou tratando. Acho que é consequência do tanto que me calo na vida. Tenho certa dificuldade de verbalizar meus sentimentos...

 


Trama do casal protagonista vai abordar o tema da violência contra a
mulher


Também “hiperativa e ansiosa assumida”, Bianca tem evitado pensar na visibilidade que seu trabalho vai ganhar em “O outro lado do paraíso”:


— Ser a protagonista do horário nobre é só um rótulo, e eu não aceito rótulos, ok? (risos) Se eu começar a pensar nisso, fico maluca. Só me causa mais cobrança e pressão, e eu já sou bastante autocrítica. Preciso me libertar e me acolher.

 

Minha eterna busca é me conectar comigo mesma, me conhecer melhor, desenvolver a minha melhor potência, a minha máxima feminilidade, sem vergonha, sem tabu, sem amarras, sem opressão. É uma luta diária.

 


Clara no campo de capim dourado: garota do interior

 

De autor e direção, a atriz parece já ter conquistado aprovação irrestrita. Por causa de seu desempenho em “Êta mundo bom”, no ano passado, Walcyr Carrasco convocou Bianca para mais esta novela. Já com Mauro Mendonça Filho, é a estreia da moça.


— Estou absolutamente encantado com ela! Acho Bianca linda, boa atriz, dedicada, concentrada, inteligente e gente boa! Sua energia é impressionante, todo mundo adora estar com ela. É uma estrela.

 

Tem só nove anos de profissão e está aí como protagonista — derrama-se o diretor, emendando: — Ela e Guizé à frente do elenco são uma aposta de Walcyr, que ficou muito satisfeito com os dois em “Êta mundo bom”.

 


Mauro Mendonça Filho dirige cena de Bianca Bin no Bar do Josafá

 

Na nova novela, Sergio Guizé dá vida ao playboy Gael, amor e algoz de Clara. Doce, romântica e sonhadora, ela cresceu num bar de beira de estrada no Jalapão, sem referência feminina alguma, junto do pai, Jonas (Eucir de Souza). e do avô, Josafá (Lima Duarte).

 

Diz que foi criada sem muito carinho, sempre em contato com homens de passagem, a maioria caminhoneiros. A moça tem essa secura do lugar, criou uma casca dura e leva um outro ritmo de vida por conta do contato com a natureza. Cortejada por Renato (Rafael Cardoso), um médico bonito e gentil da região, que chega para atender o povoado do interior e do quilombo onde ela se prepara para lecionar, Clara não retribui o sentimento.

 

Sua vida se transforma mesmo quando se apaixona à primeira vista pelo outro rapaz da capital, Palmas, num campo de capim dourado. Rapidamente, ela e Gael se casam.


— Clara tem sede de mundo, anseio de liberdade. E esse casamento permite a ela respirar novos ares, conhecer outros lugares. Gael é o passaporte de uma vida sedutora — detalha a intérprete.

 


A mocinha foi criada pelo pai e pelo avô Josafá, dono de um bar de beira
de estrada


Só que o conto de fadas da moça desmorona logo na noite de núpcias, quando ela é violentada pelo marido. Esta, aliás, foi a primeira cena gravada por Bianca e Guizé, assim que chegaram ao Tocantins, no fim de julho.


— Já começou assim, rock ‘n’ roll! Foi intenso, a cena mais difícil até agora. Mas é uma equipe tão integrada, que em nenhum momento eu me senti exposta, invadida. É uma rede de apoio mesmo.

 

Sinto que, se eu fizer uma acrobacia e cair, tem uma galera lá embaixo para me amparar — compara ela, que já perdeu as contas de quantas vezes Clara foi agredida por Gael até então: — Estamos fechando o capítulo 13 (a Canal Extra conversou com a atriz na última segunda-feira, às 22h). As cenas de violência são corriqueiras...

 

Clara está sofrendo muito! (A personagem chega a aparecer com o braço direito imobilizado, como na foto à esquerda). E não se trata só de agressão física; é moral também. Ela é muito humilhada, e ele, machista, grosseiro demais! Gael fala absurdos do tipo: “Para que se arrumar, seu eu vou tirar essa sua roupa mesmo?”. Eu digo a Guizé: a Bianca odeia o Gael, eu mataria ele! Quero muito que pague pelo crime que está cometendo!

 


Clara fica com o braço imobilizado após uma das agressões de Gael


Cenas tão intensas precisam de um cuidado a mais. Os atores passam por um aquecimento, uma preparação corporal, antes de se entregarem a tantas e fortes emoções.


— Guizé é um grande parceiro! Confio nele, sei que ele está ali, consciente, cuidando para não me machucar. A gente treinou muito para essas cenas de violência, que são mais coreografadas do que dramatizadas. Acredito muito na técnica, não só na emoção, no calor do momento. Às vezes, um ângulo de câmera faz muita diferença — atesta.

 


Clara se decepciona com Gael logo na lua de mel

 

Para o ator, mesmo a intimidade pregressa com Bianca não dissolveu a dificuldade dessas sequências.


— Nós contracenamos pouco em “Êta mundo bom!” (Maria, personagem dela, era empregada da mãe de Candinho, vivido por ele), mas já éramos amigos antes da novela. Mesmo eu a conhecendo bem, o encontro de dois novos personagens é sempre difícil num primeiro momento. Com a parceria diária, a gente vai se resolvendo em cena, aprofundando as relações — comenta Guizé, adiantando que não será o único representante do machismo nessa história: — Há vários outros personagens que também passam por aí, e alguns com convicção.

 


A mocinha com o médico Renato: ele a ama, mas ela não corresponde


Cega de amor, Clara perdoa o marido sucessivas vezes. Já Bianca diz que, com a cabeça que tem hoje, dificilmente cairia na cilada de uma relação abusiva.


— Esses caras vão dando sinais: começam com um jogo psicológico, pressionam, tentam controlar a parceira... Isso vai num crescente até virar agressão. Um monte de mulher inteligente e madura passa por isso porque está no olho do furacão, não consegue enxergar os fatos com clareza.

 

É preciso que uma amiga ou uma mãe abra seus olhos, sinalize e aponte um caminho. Mas acho que a salvação está dentro de cada uma. Ninguém pode libertar uma mulher disso tudo senão ela mesma. Cada uma tem que ouvir a sua intuição — opina.

 


Clara, Josafá, Sophia e Gael: relações complicadas

(Fotos: Raquel Cunha / Rede Globo / Divulgação)


Como se não bastasse tudo o que sofre na mão do marido, por armação da sogra, a maquiavélica e ambiciosa Sophia (Marieta Severo) — que cresce o olho na mina de esmeraldas das terras de Clara e Mustafá —, a heroína vai parar numa clínica psiquiátrica, isolada do mundo, por longos dez anos. Lá, ela se prepara para fazer valer a chamada lei do retorno, em que se baseia toda a novela: cedo ou tarde, a vida se encarrega de dar o troco. Bianca, é claro, já está na torcida pela virada de sua personagem.


— Clara mergulha no caminho do autoconhecimento pela dor, pelo sofrimento. Mas, ao descobrir sua própria potência, vira uma deusa. Não vejo a hora de esse momento chegar! — entrega a atriz, essa eterna ansiosa, que se despede da repórter com uma saudação femininista: — Força, mana! Tamo junto!

 

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