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Internacional
14/01/2019

Cesare Battisti desembarca na Itália e é encaminhado para a prisão

Foto: Alberto Pizzoli / AFP

Cesare Battisti desembarca na Itália e é encaminhado para prisão

Cesare Battisti está na Itália. A aeronave Falcão 900 do governo italiano aterrissou no aeroporto de Ciampino, em Roma, às 11h37min (8h37min de Brasília), conforme o jornal italiano Corriere Della Serra.

 

O ex-ativista, que foi preso na Bolívia no sábado, desceu do avião de cabeça alta usando calça jeans e jaqueta marrom, sem algemas nos pulsos. Ele foi imediatamente escoltado pelo Grupo Operacional Móvel da Polícia Penitenciária e levado para a prisão de Rebibbia, na periferia da capital italiana. Lá, ficará em uma cela sozinho, com seis meses de isolamento diurno, no circuito de alta segurança reservado aos terroristas.

 

À espera de sua chegada, estavam o vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Matteo Salvini, e o ministro da Justiça, Alfonso Bonafede. "Com o retorno direto para a Itália da Bolívia, não é o acordo feito pelo meu antecessor com o Brasil, que era a extradição e 30 anos de prisão. Então ele virá para pegar prisão perpétua", explicou Banafede. "Hoje dizemos ao mundo que ninguém pode escapar da justiça italiana. Esse é o resultado de uma equipe que trabalha de forma compacta, não só do governo e agências de aplicação da lei, mas de todas as instituições italianas. É um resultado histórico e, se as instituições são compactas, ninguém vai nos parar", completou.

 

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No Twitter, Salvini escreveu: "finalmente, o assassino comunista retorna à sua terra natal".

 

"Eu tenho esperado 37 anos por este dia, eu levei 37 anos para ver essa coisa estupidificante que me pareceu sorridente apesar das mortes em seus ombros. Espero não encontrá-lo de perto. Quem está errado paga. Finalmente, terminará onde um assassino comunista, um delinquente, um covarde merece. Uma grande satisfação, vai apodrecer na cadeia. É um dia memorável para a Itália", acrescentou o ministro do Interior durante a coletiva.

 

A prisão de Battisti não é um "ponto de chegada, mas um ponto de partida", afirmou Salvini. "Tenho certeza de que a polícia, com os serviços de inteligência, será capaz de assegurar as prisões de dezenas de criminosos, covardes e assassinos que estão em todo o mundo para aproveitar a vida. Hoje penso que a Itália deve celebrar, com muita demora.

 

A Itália redescobriu sua centralidade, respeito e respeitabilidade, e estou feliz que vocês possam ver essas imagens em todos os lugares, um sinal de confiança renovada e justiça", finalizou.

 

Policiais, junto com os oficiais da prisão, escoltaram o carro que, de Ciampino, tomou a Via Ápia e o anel viário para sair, em seguida, na via Tiburtina, e rapidamente chegou a Rebibbia. Na prática, nenhum distrito da capital foi afetado: as patrulhas policiais fecharam os cruzamentos. Posteriormente, é possível que Battisti seja transferido para uma prisão em Milão, já que as sentenças a seu respeito foram emitidas pelo Tribunal Criminal da cidade, e a investigação coordenada pelo Procurador-Geral de Milão foram cruciais para capturar o terrorista.

 

Uma vida de fugas

 

Battisti passou cerca de 40 anos em fuga quase permanente, com períodos de prisão e lutas político-judiciais para evitar a Justiça do seu país. Condenado à revelia à prisão perpétua na Itália, o ex-ativista, de 64 anos, passou por México, França e Brasil, onde a Justiça rejeitou em um primeiro momento sua extradição para a Itália para depois autorizá-la. Com a detenção, a Itália quer punir um dos últimos protagonistas dos “anos de chumbo” de violência dos anos 1970.

 

Poliglota de voz suave e conhecido por suas polêmicas, Battisti nasceu no sul de Roma em 18 de dezembro de 1954 em uma família comunista, mas também católica. Após passar várias vezes pela prisão por crimes comuns, no final dos anos 1970 entrou para a luta armada dentro do grupo Proletários Armados Pelo Comunismo (PAC).

 

“Tentar mudar a sociedade com as armas é uma estupidez, mas bom, naquela época todo mundo tinha pistolas”, declarou em 2011. “Havia guerrilheiros no mundo inteiro, a Itália vivia uma situação pré-revolucionária”, acrescentou. Após ser detido em Milão, Battisti foi preso em 1979 e fugiu em 1981. Em 1993, foi condenado à revelia à prisão perpétua por dois homicídios e por cumplicidade em outros dois, cometidos em 1978 e 1979, crimes pelos quais diz ser inocente.

 

Passou pelo México, mas encontrou refúgio na França entre 1990 e 2004, graças à proteção do ex-presidente socialista François Mitterrand, que se comprometeu a não extraditar nenhum militante de extrema esquerda que tivesse renunciado à luta armada. Assim como uma centena de militantes italianos dos anos 1970, Battisti refez sua vida em Paris. Trabalhou como vigia em um prédio e começou a escrever e publicar uma dezena de romances policiais com muitos elementos autobiográficos, que abordam temas como a redenção ou o exílio de ex-militantes extremistas.

 

Em 2004, o governo de Jacques Chirac decidiu pôr fim à "jurisprudência Mitterrand" e extraditá-lo. Apesar do apoio de várias personalidades, a Justiça francesa recusou o recurso contra a extradição. Battisti, então, fugiu para o Brasil com uma identidade falsa, segundo ele, com ajuda dos serviços secretos franceses. Depois de três anos vivendo na clandestinidade, em 2007 foi detido no Rio e ficou quatro anos na prisão, onde fez uma greve de fome porque dizia preferir morrer no Brasil a voltar para a Itália.

 

“Escrever para não me perder na névoa dos dias intermináveis, repetindo-me que não é verdade. Que não sou eu esse homem que os meios transformaram em monstro e reduziram ao silêncio das sombras”, diz em “Minha fuga sem fim”, livro escrito no cárcere.

 

Em 2009, o Supremo Tribunal Federal autorizou sua extradição, mas deixou a decisão final nas mãos do então presidente Lula, que acabou rejeitando extraditá-lo. Em represália, a Itália chama a consultas seu embaixador em Brasília. Em junho de 2011, Battisti é libertado e consegue obter a residência permanente no Brasil. Instala-se em Cananeia, litoral Sul de São Paulo, onde continua escrevendo e tem um filho.

 

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Após a eleição, em outubro passado, do presidente de direita Jair Bolsonaro, que prometeu extraditá-lo, Battisti voltou à clandestinidade após 40 anos de fuga até este sábado, quando sua prisão foi anunciada em Santa Cruz de la Sierra, a 900 quilômetros de La Paz. 

 

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