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02/09/2017

Crise da meia-idade é mito ou tem alguma comprovação científica? CONFIRA O QUE DIZEM OS ESTUDOS

Foto: Reprodução / Folha de S. Paulo

Numa pesquisa feita com 1,3 milhão de pessoas em 51 países, foi constatado que as pessoas relatam declínio de felicidade que começa na casa dos 30 anos

Dois economistas apresentaram neste mês um trabalho que oferece provas científicas da existência da crise da meia-idade.


Em pesquisa feita com 1,3 milhão de pessoas em 51 países, os pesquisadores constataram que as pessoas relatam um declínio mensurável de felicidade que começa na casa dos 30 anos e continua até por volta dos 50, quando começam a sentir-se satisfeitas com a vida outra vez.


"Estamos vendo essa curva em U, essa queda psicológica, inúmeras vezes. Existe, sem dúvida, uma fase de baixa na meia-idade", disse o economista Andrew Oswald, da Universidade de Warwick (Inglaterra), coautor do estudo.


Há apenas um problema: psicólogos dizem que a crise da meia-idade não existe.

 

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"Tive uma pequena divergência com Oswald sobre isso um ou dois anos atrás", revelou Susan Krauss Whitborne, professora de psicologia e ciência cognitiva na Universidade de Massachusetts-Amherst (EUA) e uma entre vários psicólogos que compartilham uma visão distinta daquela dos economistas.


"Passei toda a minha vida profissional pesquisando o desenvolvimento adulto e nunca encontrei um vínculo definitivo entre a idade de uma pessoa e qualquer coisa psicológica. Você pode dizer que se trata de uma crise da metade da vida, de uma crise de um quarto da vida. Mas não é possível colocar a culpa em sua idade."

 

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"Não sei por que alguns psicólogos dizem que ela não existe", afirmou o colega de Oswald no estudo, David Blanchflower, professor de economia no Dartmouth College (EUA). "É mais do que evidente que existe. O que fizemos foi simplesmente apresentar os dados em gráficos."


"Não entendo por que eles estão investindo tanto nisso", retrucou Whitborne. "Eles são economistas. E se eu tentasse empregar medidas psicanalíticas para indexar a economia?"


A divergência não é de natureza puramente acadêmica. Ao lado de fatores econômicos tradicionais, o bem-estar social é uma medida cada vez mais levada em conta na definição de políticas públicas e, com frequência, de empresas. Porque as pessoas deveriam ser felizes, sim, e porque a felicidade tende a andar de mãos dadas com a saúde e a produtividade, ambas salutares para a economia.


Felicidade

 


A ONU estuda a felicidade. O Butão, também. Em 2011, o Reino Unido começou a conduzir pesquisas nacionais sobre o estado de ânimo da população, na esperança de que as decisões sobre políticas públicas possam um dia ser pautadas pelo senso geral de bem-estar do país, como são pautadas pelo Produto Interno Bruto e pela inflação.


O governo dos EUA não faz uma pesquisa semelhante, mas o Centro de Pesquisas de Opinião Nacional (Norc) da Universidade de Chicago vem conduzindo desde 1972 sua Pesquisa Social Geral, que inclui perguntas sobre felicidade.


Oswald e Blanchflower ressalvam que não cabe a eles dizer o que governos e empresas devem fazer com suas conclusões. Mas isso poderia ser relevante, por exemplo, para a política de saúde pública em relação à dependência de opiáceos ou para tentar reduzir o índice de suicídios (os dois economistas estão interessados no uso de antidepressivos por pessoas de meia-idade).


"Estamos apenas preocupados com o bem-estar do país", disse Blanchflower. "A felicidade faz parte disso."


A ideia de uma crise da metade da vida, ou crise da meia-idade, surgiu no início dos anos 1960 com um psicólogo canadense chamado Elliott Jaques. Enquanto estudava os hábitos criativos de 310 artistas famosos, como Mozart, Rafael e Gauguin, Jaques observou um traço em comum: quando os artistas chegaram à metade da casa dos 30 anos, sua produção criativa diminuiu.


Alguns entraram em depressão. Alguns poucos cometeram suicídio. Ele então observou essencialmente o mesmo padrão entre seus pacientes.

 

Quando as pessoas se aproximavam da meia-idade, muitas tomavam consciência aguda de que sua vida era finita e, com isso, relatavam um medo crescente de que nunca conseguiriam alcançar suas metas.


O estudo resultante escrito por Jacques, "A Morte e a Crise da Meia-Idade", publicado no "International Journal of Psychology" em 1965, deu origem a um novo termo científico-popular e ofereceu justificativas para os homens fazerem enxertos capilares ou comprarem um carro esportivo.


(O estudo também trata da razão pela qual a maioria dos clichês sobre crise da meia-idade envolve homens; Jaques acreditava que as mulheres, pelo fato de passarem pela menopausa, não viviam essa crise.)


A teoria de Jaques foi bem aceita durante algum tempo. Popularizou-se no best-seller "Passagens: Crises Previsíveis da Idade Adulta" (1976), de Gail Sheehy. Em 1978, o "New York Times" publicou um perfil de um psicólogo que dizia que as crises da meia-idade sempre ocorrem entre três anos antes e três anos depois de um aniversário que é um marco, como o de 30 ou o de 40 anos.


Mas várias pesquisas psicológicas mais recentes não constataram nenhuma ansiedade específica da meia-idade –ou até a desmentiram por completo.


O Instituto Nacional sobre o Envelhecimento relata que apenas um terço dos americanos com mais de 50 anos afirma ter passado por uma crise da meia-idade. Metade deles atribui suas crises a "turbulência interna e angústia existencial associadas ao envelhecimento", enquanto outros apontam para um acontecimento traumático fora de seu controle, como um divórcio.


Susan Whitbourne, de sua parte, passou a maior parte da carreira acompanhando centenas de pessoas, desde a formatura delas na universidade, em 1965, até os dias atuais, acrescentando mais jovens ao longo do caminho.


"As pessoas de fato passam por períodos de autoavaliação, mas isso não é vinculado a uma idade. Se uma pessoa próxima a você morre e você começa a pensar em como a vida é limitada, isso é uma crise da meia-idade? Ou é apenas uma reavaliação sadia de suas prioridades na vida?", indagou ela.


Mesmo assim, apontam Oswald e Blanchflower, parece, sim, ocorrer uma redução nítida na felicidade das pessoas quando alcançam a meia-idade.

 


O que eles constataram é bastante simples: mesmo levando em conta status de emprego, situação conjugal, situação econômica, raça, gênero, nível de instrução e se as pessoas têm ou não filhos, os entrevistados tendiam a relatar satisfação menor ao longo das décadas.


Em outras palavras, a vida se apresenta como ótima para as pessoas na casa dos 20 anos; para quem tem entre 30 e 40 anos, as perspectivas parecem menos animadoras, e para as pessoas de 40 a 50 anos elas se aproximam do deprimente. E essa queda é sentida tanto por homens quanto por mulheres (estejam elas ou não na menopausa).


"Queremos principalmente que as pessoas entendam que isso está acontecendo, só isso", disse Oswald. "Como isso afeta o trabalho das pessoas? Seu casamento? Sua atividade econômica? Não sabemos tudo."


Satisfação

 


A existência de tal queda na felicidade não significa que as pessoas de meia-idade odeiem sua vida.


Na verdade, quando uma pesquisa conduzida em 2010 pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA indagou a americanos "no geral, até que ponto você está satisfeito com sua vida?", numa escala de 1 a 4 (sendo quatro "muito satisfeito"), a mudança de percepção ao longo do espectro de faixas etárias foi pequena.


O grupo com idades em torno dos 21 anos se deu nota 3,75, enquanto os entrevistados do final da casa dos 40 anos definiram seu grau de contentamento em 3,5 –ainda um bom nível.


Oswald e Blanchflower estudam a relação entre felicidade e idade há mais de dez anos; o primeiro artigo que publicaram sobre o tema, em 2004, identificou o ponto mais baixo como sendo 37 anos, para os homens, e 41, para as mulheres.

 

Fotos: Reprodução


"Não há explicação disponível, nem sequer na literatura psicológica", observou a dupla à época. Um artigo de 2008 reiterou as mesmas conclusões em países desenvolvidos e em desenvolvimento, e novamente sustentou que "a causa desta aparente curva em U é desconhecida".


Em última análise, é possível que ambos tenham razão. A queda na felicidade encontrada por Oswald e Blanchflower talvez não indique a angústia existencial teorizada por Elliott Jaques nos anos 1960. Ela pode, em vez disso, ser um efeito colateral geral da idade adulta contemporânea.


A queda ocorre durante os anos de produtividade máxima das pessoas no trabalho. É também o período em que a maioria delas se casa, forma famílias, contrai financiamento para a compra da casa própria e, possivelmente, sofre choques imprevistos como divórcio ou desemprego.


O período de "baixa na meia-idade" paira sobre vários outros estudos, incluindo um divulgado recentemente por uma firma britânica de recursos humanos que constatou que funcionários entre os 35 e 55 anos de idade têm probabilidade maior de odiar seu trabalho.


Um estudo de 2005 do Instituto de Famílias e Trabalho concluiu que as pessoas na faixa dos 40 aos 55 anos tendem a se sentir mais sobrecarregadas de trabalho, mas observou que esse sentimento decorre de empregos que lhes exigem muito e de suas obrigações familiares, não de sua idade.
 

Folha de Sã

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