Jornalista americano reúne em livro as pesquisas mais surpreendentes já feitas sobre a sexualidade feminina e revela: homens têm muito o que aprender
Esse clichê freudiano – o que querem as mulheres? – foi repetido tão exaustivamente ao longo da história que às vezes esquecemos que essa pergunta não foi propriamente respondida.
Por isso me apaixonei pelo livro do jornalista americano Daniel Bergner, O Que Realmente as Mulheres Querem? (Editora Agir), já nas primeiras páginas.
Lendo o livro fui percebendo algo que venho intuindo já há algum tempo: ao longo destas décadas, as mulheres colocaram tanta energia em conquistas sociais e políticas que a parte da sexualidade foi esquecida ou soterrada, muitas vezes sem que elas percebessem, em resquícios machistas patriarcais.
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E há uma certa resistência social em estudar mais profundamente os mistérios da sexualidade feminina.
Como diz Bergner: “Onde deveria haver uma abundância de investigações, há pressupostos comuns, teorias não comprovadas, restrições políticas, variedades de cegueiras”.
O autor fez uma profunda pesquisa e entrevistas com vários cientistas e sexólogos e coletou depoimentos muito sinceros de várias mulheres.
Chegou a conclusões megainteressantes (muitas vezes desconfortáveis) que questionam o status quo sexual e as velhas noções que o senso comum tem sobre a natureza feminina.
“O erotismo está no centro de quem somos como seres humanos, mas rejeitamos o estudo desse cerne essencial, rejeitamos, talvez, acima de tudo, onde ele é menos compreendido: nas mulheres”, diz Bergner.
Aqui algumas ideias interessantes do livro para ajudar você a entender um pouquinho mais do que realmente nos excita.
Às vezes, nem ela sabe
Uma das pesquisas mais interessantes é a primeira que Daniel Bergner cita. A cientista Meredith Chivers usou um aparelho dentro da vagina de algumas mulheres para medir a excitação delas diante de diferentes cenas pornográficas.
“Era um modo de ultrapassar o ofuscamento da mente para descobrir, num nível primitivo, o que excita as mulheres”, diz Bergner.
Para a surpresa de Chivers, as cenas nas quais as mulheres realmente tinham se excitado muito (conforme o aparelho que media o fluxo sanguíneo da área) na maioria das vezes não eram as que elas racionalmente citavam.
Por exemplo, a análise empírica mostrava que as heterossexuais se excitavam muito com uma cena de duas mulheres se masturbando uma à outra.
Mas, quando questionadas, elas diziam não ter sentido quase nada vendo essa cena. Já nos homens testados, corpo e mente contavam a mesma história.
Então, sempre pergunte a sua mulher sobre o que a excita, mas não pare em suposições óbvias, vá além. Ser compreendida, ter suas vontades descobertas, é extremamente excitante.
Ser desejada é tudo
Marta Meana, uma psicóloga citada no livro, fala que a nudez feminina é excitante para ambos os sexos. “Por ter a mesma aparência excitado ou não, o corpo feminino sempre contém a promessa, a sugestão do sexo”, diz ela.
Então, ao ver uma bela mulher nua num palco ou numa revista, a mulher se excita também, por imaginar a si mesma com aquele poder erótico – ser desejada está no centro da libido feminina.
Para as mulheres na multidão, a nudez feminina alimenta um vício: julgar seu próprio visual baseado em belezas icônicas.
O poder de gerar desejo é muito excitante para nós. Deixar a mulher segura sobre a atração que ela provoca em você é a melhor maneira de atingir esse lado narcisístico da nossa excitação.
Monogâmicas?
O livro questiona várias supostas certezas da nossa sociedade, entre elas a de que mulher precisa de “intimidade” para um sexo feliz, de “proximidade”.
E também o fato de a mulher ser naturalmente monogâmica, aquela teoria da psicologia evolucionista aceita como regra de que o homem tem em sua natureza essa coisa de espalhar suas sementes enquanto a mulher tem em si um instinto que a faz querer segurança, família, cuidar das crias.
“A monogamia é uma jaula cultural distorcendo a libido”, disse Kim Wallen, um dos pesquisadores que faziam experiências com macacos.
Ele comprovou o oposto dessa ideia – as macacas tocavam o terror muito mais do que os machos. Com isso não quero assustar você, querido leitor, dizendo que sua mulher vai dar para o jardineiro.
Mas tenha em mente que você precisa manter esse desejo aceso nela, que a sexualidade dela precisa ser estimulada. Então, não dá para vacilar.
Coma bem sua mulher e se permita questionar as ideias ultrapassadas sobre sexo que passaram a você ao longo de sua vida. A leitura desse livro é um bom começo.
3 Perguntas para Daniel Berginer
Fotos: Reprodução
Algum motivo pessoal o levou a estudar a sexualidade feminina tão profundamente?
Você vai ter que vir ao Brooklin, me colocar num divã e elaborar perguntas psicanalíticas para me fazer chegar no fundo disso [risos].
Mas por agora posso dizer que estou muito interessado em arrancar esses véus sociais, olhar além das forças culturais. Sexo é o centro da nossa psique.
Então, quando eu tive a chance, nos últimos oito anos, de seguir cientistas que estavam em busca desse centro e de falar com mulheres sobre sexualidade, como eu poderia resistir?
Sua vida sexual mudou depois de toda pesquisa?
Eu e minha namorada temos tido momentos incríveis. Isso é tudo que posso dizer.
O que você diria para os homens entenderem a sexualidade feminina?
Eu diria: tentem ouvir. Mas isso não significa que você tenha que ser politicamente correto ou excessivamente gentil e sensível.
Apenas significa que você precisa estar apto a fazer perguntas (mais de uma vez, porque você pode não ter uma resposta honesta de primeira, já que mulheres com frequência protegem nossos egos).
E você deve estar preparado para ouvir respostas que podem te deixar desconfortável.
Nossa cultura construiu muitos mitos sobre as mulheres que servem para confortar o homem.
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Nós, homens, precisamos estar dispostos a sermos desestabilizados, talvez até mesmo um pouco amedrontados.
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