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Arte e Fama
04/02/2018

Em entrevista, Sabrina Sato e Juliana Paes falam sobre 'perrengues' e amor pelo carnaval. VEJA FOTOS!

Foto: Reprodução

Nos primórdios das escolas de samba, a jovem da comunidade carioca costumava colocar um vestido de chita e parar o cortejo com requebrado e graciosidade emanados pelas pernas grossas, quadril malemolente e sorriso rasgado.

 

Décadas e décadas depois, não há mais roupa de tecido simples e, sim, fantasia caríssima. A rua virou um Sambódromo com nome de marquês. E a jovem foi substituída por estrelas de alcance nacional que trabalham pesado para ter samba no pé.

 

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Os tempos mudaram, mas o requebrado e graciosidade não sumiram do mapa do samba, ainda bem. Hoje, eles estão nos pés ágeis e nas bocas largas de Sabrina Sato, da Vila Isabel, e Juliana Paes, da Grande Rio, duas das maiores rainhas de bateria da festa da Sapucaí.

 

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Consideradas por gente do calibre do carnavalesco Milton Cunha como “as modernas representantes da cabrocha”, elas têm muito o que comemorar em 2018.

 

Quando o cronômetro oficial for ligado no próximo domingo, Sabrina, nascida em Penápolis (SP), vai completar 15 anos no carnaval do Rio. Na mesma noite, a niteroiense Juliana vai celebrar o retorno à frente dos ritmistas, depois de dez anos longe do posto.


— Decidi dar um tempo (sua última participação no cargo foi pela Viradouro, em 2008)porque queria me dedicar ao projeto de ser mãe e ao meu trabalho como atriz. Mas, durante todo esse período, nunca viajei, sempre assisti.

 

 

Meu caso de amor com o carnaval não é fogo de palha. No holofote ou não, estou sempre ali — conta Juliana, de 38 anos, mãe de Pedro, de 7, e Antônio, de 4.


Sabrina, no entanto, vem numa batida louca que vai além dos 15 anos de folia carioca. Antes disso, ela já cruzava o Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, pela Gaviões da Fiel, onde também desfila até hoje. E sua primeira passagem na escola não teve nada a ver com o papel que desempenha hoje.

 


— Comecei lá em cima do carro alegórico do gavião, ninguém me viu e não vi ninguém. Fui de macacão, toda coberta, parecia um biscoito — brinca a apresentadora.


Apesar de ocuparem o posto (junto com Viviane Araújo) de maiores nomes do carnaval de 2018, as duas têm estilos completamente diferentes de “produção”, como bem definiu Juliana.


— Os meus esquemas são mais tranquilos que os da Sabrina. Digamos que o meu carnaval é mais artesanal, o dela é fábrica. Faço as coisas manualmente; a Sá é linha de montagem.

 


Sabrina ri e concorda com a analogia da amiga (sim, as duas se dão bem e não há qualquer sinal de competição entre elas). O “Carnaval da Sabrina” (esse é o nome do reality showque ela lançou no YouTube para mostrar bastidores da festa) até gera empregos. Só ao baile Glam Gay, organizado por Milton Cunha, no domingo passado, ela levou oito pessoas, entre assessores, maquiador, stylist e cameramen — todo mundo atrás da rainha da festa, fantasiada de Isabelita dos Patins. Esses anjos da guarda, inclusive, ajudam Sabrina a não pirar.

 


— Tudo já aconteceu comigo na avenida. Quando era pobrezinha, usava o que me davam e uma vez arrebentou o sutiã. Já houve caso de a fantasia chegar de motoboy em cima da hora, já precisei que soldassem meus adereços a poucos minutos do desfile. Antigamente, ficava muito nervosa, hoje penso: “a equipe vai resolver”.


A turma que a acompanha sofreu um revés neste domingo, dia em que Sabrina completa 37 anos. O plano era fazer uma festa-surpresa, mas ela descobriu e pediu para cancelar.


— Não tenho tempo, gente — diz ela, emendando a gargalhada e a agenda. — No domingo que vem, termino o desfile da Gaviões umas 5h da manhã, pego um jatinho e venho para o Rio. Vou direto provar a fantasia e devo chegar no hotel meio-dia, Durmo até 16h e aí começo a maquiagem. Vou entrar na Vila destruída, cheia de bolhas (nos pés).

 

 

Como a atriz ainda não “enlouqueceu”, o carnaval é mais miúdo mesmo. Por causa da Grande Rio, até pediu licença do posto de rainha do Bloco da Favorita, que sai no dia 10, véspera da participação dela na Marquês de Sapucaí.


— Como disse, comigo é linha de artesanato. Não consigo entregar esse corpinho inteiro no desfile, porque esquema de bloco é diferente — diz Juliana. — Sou uma mulher de 38 anos. Não tenho a pretensão de parecer uma menina. Procuro me exercitar e me alimentar bem, porque meu corpo é minha ferramenta de trabalho como atriz. A cobrança vai até aí: de respeitar o público que quer me ver. Mas não quero nada além disso.


Com personalidades fortes, as duas confessam morrer de admiração por quatro nomes de peso da folia.

 


— Tem três imagens que são muito inspiradoras. Monique pela atitude, uma coisa no jeito de andar; Luma pela graça no porte e nos movimentos; Pinah porque era um raio, tinha uma coisa que não sei explicar — diz Juliana.


— Uma que eu amo ver em vídeos também é a Fábia Borges (rainha da Unidos da Tijuca de 1996 a 2006) — completa Sabrina. — O que gosto nessas mulheres todas é da personalidade. Todas marcaram a Avenida do jeito delas.


Monique Evans, onipresente no discurso das duas, retribui os elogios:

 


— Rainha de bateria não tem só que saber sambar. Tem que ser uma vedete. Você precisa estar grandiosa na frente da bateria. Elas conseguem.


Milton Cunha faz coro:


— Ju e Sabrina são aguardadíssimas porque encarnam os personagens, são as vedetes modernas. Elas e Vivi (Viviane Araújo) formam a trinca de mulheres do povo. Uma é japa, representa a miscigenação, as outras duas são moreníssimas, de quadrilzão. O Brasil se vê pouco nas morenas, é muita gente branca e loura na televisão.

 


As comunidades que elas representam à frente das baterias enxergam exatamente isso e abrem os braços para recebê-las. Na Vila, por exemplo, a passista de raiz Dandara Oliveira até foi uma das professoras de samba de Sabrina — a primeira foi uma amiga de infância, ainda em Penápolis. Neste ano, a paulista retribuiu os ensinamentos ao convidá-la para sair a seu lado, como princesa.


— As pessoas das comunidades curtem ter alguém que traz visibilidade para a escola. A única coisa que a gente traz de diferente de uma passista de lá é essa atenção a mais. Hoje, elas sabem apreciar isso — reflete Juliana.


As meninas da Viradouro, aliás, foram as grandes mestras da atriz na arte de sambar e “balançar as carnes”. Ela diz ter aprendido a dança só de visitar a quadra. A pena é que todo o ensinamento acaba não aparecendo tanto quanto ela gostaria. Afinal, na hora do vamos ver, Sabrina concorda, a história é outra.


— Lembro a Claudinha (a cantora Claudia Leitte foi rainha da Mocidade em 2015 e 2016)falando para mim: “Sabrina, não sabia que era desse jeito”. Na Avenida, seu fôlego acaba. Tudo que você samba nos ensaios não consegue fazer na hora, e não é só porque a fantasia é pesada. A boca seca. Não sei explicar. Tem hora que você acha que vai morrer — resume a paulista.


Apesar dos perrengues, ela não pensa em parar, mesmo com os planos urgentes de ter filhos.

 

Juliana Paes e Sabrina Sato veste Martu com joias H.Stern

(Fotos: Jacques Dequeker / Styling: Felipe Veloso)


— Vai que eu dou conta de ser mãe e desfilar? Eu amo carnaval, não consigo me ver longe. De alguma forma, vou estar junto, seja de terninho na diretoria ou de rainha mais comportada — diz a “japa”.


Nos bastidores dessas fotos, elas até brincaram que, quem sabe, podem sair na ala das baianas no futuro? A gente faz torcida para que o carnaval com as duas perdure em todas as alas.
 

O Globo

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