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21/04/2018

Em novo depoimento, Joesley liga Aécio a repasse de R$ 110 milhões

Foto: Michel Filho / Agência O Globo

Em interrogatório na PF na quinta, dono do grupo J&F disse que repasse a tucano estava condicionado ‘a contrapartidas’

Em novo depoimento prestado à Polícia Federal na quinta-feira, em Brasília, o empresário Joesley Batista afirmou ter repassado R$ 110 milhões ao senador Aécio Neves (PSDB) durante a campanha eleitoral de 2014. Segundo O Globo apurou com fontes ligadas ao caso, Joesley teria confirmado que os repasses milionários ao tucano estariam atrelados à futura atuação de Aécio em favor dos negócios do grupo J&F.

 

O repasse milionário teria sido dividido pelos tucanos com outros partidos que apoiaram Aécio. Os valores já constavam da delação da empresa, mas desta vez, para comprovar os repasses, Joesley ainda entregou aos investigadores uma extensa planilha de “doações” e um calhamaço de notas fiscais e recibos que comprovariam que parte da bolada foi repassada via doações oficias e outra parte, via caixa dois. Aécio sempre negou qualquer irregularidade nas suas relações com o dono do grupo J&F.

 

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O empresário Joesley Batista foi interrogado na condição de colaborador. O depoimento de quinta-feira foi um complemento de um interrogatório realizado no dia 26 de março, que também teve o senador tucano como personagem. Nesta sexta-feira, o jornal “Folha de S.Paulo” publicou detalhes de outro depoimento prestado pelo dono da J&F, em agosto de 2017, em que Joesley revela ter pago uma mesada de R$ 50 mil reais ao tucano, durante dois anos.

 

 

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Segundo o jornal, o dinheiro teria sido repassado a Aécio por meio de uma rádio da qual o senador era sócio. Joesley disse que os pagamentos teriam sido solicitados diretamente pelo tucano em um encontro no Rio, no qual Aécio disse que usaria o dinheiro para “custeio mensal de suas despesas”. Joesley entregou aos procuradores 16 notas fiscais emitidas entre 2015 e 2017 pela Rádio Arco Íris, afiliada da Jovem Pan em Belo Horizonte.

 

No depoimento prestado na quinta-feira, cujo teor foi obtido pelo GLOBO, Joesley detalha valores muito mais eloquentes que os R$ 50 mil da mesada paga a Aécio. Segundo o dono do grupo J&F, os R$ 110 milhões foram divididos entre o PSDB e dois partidos que integravam a coligação do senador mineiro. Os tucanos teriam ficado com R$ 64 milhões. O PTB, do ex-deputado Roberto Jefferson, teria recebido R$ 20 milhões. Já o Solidariedade, do deputado Paulinho da Força, teria levado R$ 15 milhões. O restante dos recursos teria sido dividido entre as campanhas de políticos indicados pelo PSDB, que apoiaram a candidatura de Aécio à Presidência da República.

 


Para comprovar as acusações, o empresário entregou uma extensa planilha de "doações" e um calhamaço de notas fiscais e recibos usados para simular prestação de serviços. O material seria ainda mais detalhado que as provas apresentadas pelos executivos da Odebrecht.

 

O depoimento de Joesley foi tomado no âmbito do segundo inquérito aberto contra o tucano em decorrência da delação dos executivos da J&F, holding que controla a JBS. Ao todo, a defesa de Joesley apresentou por escrito, em agosto do ano passado, à Procuradoria-Geral da República, 32 anexos complementares que envolvem episódios já relatados pelos delatores da empreiteira. O caso da rádio de Aécio foi um destes episódios, sobre o qual ele depôs pela primeira vez neste ano. Desde o começo do ano, Joesley já compareceu seis vezes para depor aos investigadores sobre os episódios que constam em seus anexos complementares. Seus anexos complementares não deram origem a nenhum inquérito novo.

 

Segundo Joesley relatou aos investigadores, ele aceitou repassar a bolada milionária a Aécio nas eleições de 2014, porque considerou que o tucano “era um candidato em ascensão e, para alguns, seria o próximo presidente da República”. Ele disse que teria feito o acordo com o tucano quando ele surgia como o principal adversário da ex-presidente Dilma Rousseff. Pelo acerto, os valores seriam pagos em duas etapas no primeiro e no segundo turno das eleições.

 

Depois de pagar os R$ 110 milhões, Joesley disse que foi procurado novamente pelo candidato do PSDB depois das eleições. Aécio teria pedido mais R$ 18 milhões para cobrir dívidas da campanha. A partir daí, ficou acertado que a transação seria mascarada com a compra de um prédio em Belo Horizonte. O negócio seria intermediado por Flávio Jacques Carneiro, um dos donos do jornal “Hoje Em Dia”.

 

A defesa de Aécio tem se esforçado para provar que o senador foi vítima de uma armação do empresário com a intenção deliberada de obter munição para um acordo de delação. Boa parte das acusações contra Aécio já constam dos depoimentos da delação premiada de Joesley. A diferença é que, desta vez, ele detalhou os repasses e apresentou documentos adicionais para reforçar o relato.

 

 

Joesley já tinha revelado repasses a Aécio

 

 

Num dos depoimentos da delação premiada ano passado, Joesley Batista disse que pagou R$ 60 milhões para Aécio nas eleições de 2014. Na delação, Batista fez uma explanação geral do que pretendia revelar. Agora ele reafirma o que diz e aprofunda o relato sobre o suposto pagamento de propina. É a partir desse material que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, deverá decidir se faz ou não nova denúncia contra o senador. Na primeira denúncia, recebida pelo Supremo Tribunal Federal, o senador é acusado de receber R$ 2 milhões do dono da JBS. É suspeito também de agir para atrapalhar as investigações da Lava-Jato.

 

Como prestou depoimento à PF na condição de colaborar, Batista tem a obrigação legal de dizer a verdade. O empresário fez acordo de delação premiada em maio do ano passado. Em setembro, o ex-procurador-geral Rodrigo Janot pediu a rescisão do acordo com o argumento de que, durante as negociações, o empresário omitiu informações relacionadas ao ex-procurador Marcelo Miller, contrato para ajudar na negociação da leniência da JBS.

 

O ministro Edson Fachin, relator do caso no Supremo, ainda não decidiu o que fazer. Batista prestou depoimento na Polícia Federal em Brasília. O interrogatório foi acompanhado por uma procuradora da equipe de Raquel Dodge, responsável por uma das frentes da Lava-Jato em Brasília.

 

 

Delator "mente mais uma vez", diz defesa de tucano

 

Numa resposta por escrito às declarações de Joesley Batista à Polícia Federal, o advogado Alberto Toron disse que o empresário está tentando "de forma desesperada manter seu acordo de delação premiada que aguarda há sete meses para ser discutido pelo STF. E, por isso, mente mais uma vez". Segundo o advogado, o PSDB recebeu R$ 60 milhões na campanha de 2014 e os recursos estão "devidamente declarados" à Justiça Eleitoral.

 

Toron argumenta ainda que "doações feitas a outros partidos não podem ser considerados de responsabilidade do PSDB tampouco de seu então presidente". O advogado diz ainda que Aécio "em toda sua vida pública, jamais atendeu a qualquer interesse do sr. Joesley ou de seu grupo e, portanto, não teria razões para fazê-lo no futuro".

 

O Globo

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