25 de Abril de 2024 - Ano 10
NOTÍCIAS
Esportes
07/04/2019

Ex-remadora vira ring girl e relata depressão após Olimpíada

Foto: Reprodução

Luana Bartholo, ex-remadora olímpica e ring girl no Boxing For You

“Entrei em depressão profunda. O remo era a minha vida e senti um vazio quando parei. Achava que não servia para nada”. As duras palavras retratam o sentimento de Luana Bartholo logo após os Jogos de Londres-2012, a primeira e única vez que a remadora teve chance de viver a maior experiência como atleta na carreira.

 

Chegar à Olimpíada não foi fácil, o processo durante a competição foi ainda mais complicado e o pós a levou a uma depressão profunda, que durou três anos e meio. Foi como se, do ápice, ela fosse ao fundo do poço.


Sete anos depois do sonho quase virar pesadelo, a jovem carioca de 32 anos se dedica ao fim da faculdade de educação física, dá aula de crossfit e trabalha como modelo. Por esse último emprego, viveu a experiência de ser ring girl no “Boxing For You”, competição de boxe profissional que contou com três medalhistas olímpicos em Mangaratiba, na Costa Verde do Rio, semana passada.


Veja também

Confira decisões inesquecíveis do Campeonato Carioca


Se as atenções estavam voltadas para Adriana Araújo, bronze em Londres-2012, Esquiva Falcão, prata em Londres, e Robson Conceição, ouro na Rio-2016, além de Robenilson de Jesus, que esteve em três Jogos Olímpicos (Pequim-2008, Londres e Rio), Luana passou despercebida no meio das estrelas.

 

Ninguém sabia que aquela garota alta, de cabelos cacheados e sorriso largo, que levantava as placas a cada round, passou pelas mesmas dificuldades dos lutadores: competir sem apoio e patrocínio. Esses personagens se cruzaram na Vila Olímpica de Londres e, por coincidência do destino, reencontraram-se de forma inesperada.


Ajudada por boxeadora em 2012


A lembrança segue viva na cabeça de Luana. Ela e Fabiana Beltrame já tinham sido eliminadas na repescagem do skiff duplo peso leve (57 kg) e Kissya Cataldo, suspensa por doping. Com o fim da linha para o remo brasileiro na Vila Olímpica de Elton, a 37 km de Londres, todos deveriam deixar o local porque não há espaço para todos, e os de canoagem chegariam. Luana partiu para Londres.


Já na Vila Olímpica da capital, sem saber o que fazer, aos prantos, sentou-se em um banco com suas malas e lá ficou, até ser reconhecida por Adriana, Esquiva e outros pugilistas. Ao relatar que não tinha para onde ir, ouviu da lutadora: “Pegue suas coisas e você ficará comigo no meu quarto, tem uma vaga”.


Tudo aconteceu um dia antes de Adriana subir ao ringue e entrar para história da modalidade no Brasil. Ela foi a primeira e única mulher a conquistar uma medalha no boxe. Apesar de se falarem pelas redes sociais, o reencontro só aconteceu no último dia 30 de março.


— Eu me senti abandonada pela equipe. Ela foi a minha salvação. Por ser mulher, me ajudou muito. Eu digo que foi o meu anjo da guarda. Só tenho gratidão, porque eu iria dormir no banco da Vila. Ela peitou a todos e me ajudou — contou a ex-atleta, com os olhos já marejados.


Depressão e desvalorização pós-Londres


A Olimpíada foi o estopim para que Luana entrasse em uma depressão profunda, entre o fim de 2012 e meados de 2016. Neste período, foi mandada embora do Flamengo após a saída de Patrícia Amorim da presidência e recebeu convite do Botafogo, mas como teria que permanecer no peso leve, rejeitou.


Luana sempre sofreu para perder peso, a ponto de ter bulimia e outros transtornos alimentares. Em Londres-2012, o método adotado pelo técnico francês Jose Oyarzabal, segundo ela, foi perder o quilo extra na sauna. Desidratada e fora do peso, a ex-remadora teve que ir ao posto médico tomar soro na véspera de competir.


— Não me senti valorizada pela Confederação. Tentei me manter remando, mas não conseguia, não tinha forças nem foco para remar. Não tinha condições psicológicas. Tudo que vislumbrei como atleta olímpica foi por água abaixo.

 


Ao lado de Fabiana Beltrame (à esquerda), Luana disputou a prova

de remo em Londres-12 (Foto: Leandra Benjamin / Divulgação)


A ex-remadora não esquece o sofrimento:


— Eu estava doente. Sofri muitos transtornos alimentares, tive bulimia pesada, tomei remédios de tarja preta um tempo. Foi um período bem complicado, mas fiz acompanhamento psicológico e consegui me reerguer, recomeçar do zero. O trabalho de modelo me ajudou e me distraiu.


Feliz com sua vida atual, ela revela que não conta para os alunos que é ex-atleta. Tem uma tatuagem em homenagem à única Olimpíada da carreira, mas a esconde para ninguém descobrir. Luana culpa o COB por não dar um suporte aos atletas no fim da carreira:


—Não só comigo, mas acho que o COB não foi acolhedor. Eles oferecem uma bolsa de estudos no programa de transição, mas é só.

 

Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS no Facebook e no Twitter.


O COB, que ofereceu um quarto em Londres fora da vila para Luana em 2012, diz que gostaria de fazer mais pelos atletas, mas alega que as dificuldades de inserção no mercado de trabalho são um problema do Brasil.


— Oferecemos cursos, capacitação para a inserção de uma nova caminhada, mas infelizmente temos essa dificuldade, essa carência no país —diz o diretor de esporte do COB, Jorge Bichara.

 

Extra

LEIA MAIS
DEIXE SEU COMENTÁRIO

Nome:

Mensagem:

publicidade

publicidade

publicidade

publicidade

publicidade

Acompanhe o Portal do Zacarias nas redes sociais

Copyright © 2013 - 2024. Portal do Zacarias - Todos os direitos reservados.