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04/02/2019

Flávio Bolsonaro homenageou sete colegas de suspeito de integrar 'guarnição da morte', diz jornal

Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

Apontado como chefe de milícia e outros sete policiais receberam homenagens em novembro de 2003, no mesmo dia de Fabrício Queiroz

Além do ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega — apontado pelo Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ) como chefe da milícia do Rio das Pedras e do Escritório do Crime —, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) homenageou outros sete companheiros dele no 16º BPM (Olaria). Os integrantes do grupo, conhecido como “guarnição do mal” em comunidades da Zona Norte, receberam moções de louvor na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) no dia 4 de novembro de 2003.


Só mais um policial militar da ativa foi homenageado na ocasião: Fabrício Queiroz, que viria a ser assessor parlamentar de Flávio.


Após a homenagem, num período de cerca de um mês, Adriano e os mesmos colegas do Grupamento de Ações Táticas (GAT) se envolveram no sequestro, tortura e extorsão de três jovens da favela de Parada de Lucas, na Zona Norte. Até que, em 27 de novembro daquele ano, eles foram apontados como os executores do morador Leandro dos Santos Silva, de 24 anos.


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Nas homenagens, o ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, foragido da Operação Intocáveis, do MP-RJ, e os colegas tiveram destacados a “dedicação, brilhantismo e galhardia” com que serviam à população. Nesse dia, o parlamentar deu a mesma honraria a Fabrício Queiroz, na época, policial do Batalhão de Policiamento em Vias Especiais.


Mesmo diante da prisão dos policiais, dias depois das moções, Flávio Bolsonaro não sustou as homenagens. No dia 24 de outubro de 2005, os PMs foram condenados em primeira instância. Quatro dias depois, o presidente Jair Bolsonaro, então deputado federal, discursou na Câmara em defesa de Adriano — descrito como “um brilhante oficial”.


Posteriormente, o júri que condenou os policiais foi anulado, e eles acabaram absolvidos, mesmo diante de provas técnicas apresentadas pelo Ministério Público.

 

Equipe era temida


A “guarnição do mal”, como os moradores de Parada Lucas chamavam o GAT comandado por Adriano, era temida na região. As sessões de tortura e sequestro só vieram à tona graças às denúncias do guardador de veículos Leandro, que procurou a Inspetoria-Geral, órgão criado para apurar desvios de conduta de policiais civis e militares, com uma líder da associação de moradores da comunidade no dia 26 de novembro de 2003. No dia seguinte, às 6h30m, Leandro foi assassinado com três tiros na porta de casa. A cena do crime foi desfeita para impedir a perícia.

 

Mesmo morta, a vítima foi “socorrida” pelos agentes.


Adriano e seu grupo foram acusados pelo homicídio. Um sargento da guarnição foi apontado como o PM que atirou no jovem. O policial era Ítalo Pereira Campos, o Ítalo Ciba, hoje vereador no Rio de Janeiro pelo Avante.


Em operação feita em 28 de outubro de 2003, o grupo foi acusado de sequestrar Wilton Arjona da Silva. Foram denunciados Adriano, o capitão Flávio Luiz de Souza, os sargentos Abenor Machado Furtado, Sérgio Rogério Ferreira Nunes, Marcelo da Silva Conceição e Ítalo Ciba; assim como os soldados Alexander Duarte da Silva, Luiz Carlos Felipe Martins e Flávio Rodrigues Neves. Segundo a ficha funcional de Adriano, a vítima foi levada de casa para um terreno baldio no antigo Mercado São Sebastião, na Penha. Os PMs foram acusados de manterem Wilton em cárcere privado, submetendo-o à tortura e extorquindo dele R$ 1 mil.


Os investigadores da Inspetoria-Geral confirmaram que o GPS da viatura mostrava que Adriano, Ítalo Ciba e os demais PMs estavam na Rua Paramaribo com São Bartolomeu, entre 20h13m e 20h20m, local marcado para o pagamento do resgate da vítima. Também ficou comprovado que a viatura do GAT esteve em Parada de Lucas na hora em que Wilton foi sequestrado. Na época, os vigilantes de uma empresa próxima ao antigo mercado confirmaram que o veículo dos policiais ficou no terreno vizinho.

 

Ítalo Ciba, então PM e hoje vereador do Rio, presta depoimento

em 2003 em uma delegacia (Foto: Marcelo Theobald)


O fato iria se repetir mais duas vezes. No dia 11 de novembro, foi a vez da guarnição de Adriano levar, segundo as investigações, Anderson Luiz Moura para o mesmo terreno baldio. Ele também passou por uma sessão de tortura e lhe foi exigida a mesma quantia. Mais uma vez, o GPS da viatura serviu como prova de que os PMs estavam no local onde o jovem foi mantido em cárcere privado: por volta das 19h até às 7h de 12 de novembro.


No terceiro sequestro, o GAT levou Leandro. O fato ocorreu por volta das 13h do dia 21 de novembro. Ele estava em casa, quando viu vultos em cima da laje. Os policias o surpreenderam, segundo a ficha funcional de Adriano e o processo sobre o caso. Segundo o depoimento da companheira de Leandro, os policiais tentaram asfixiá-lo com um saco plástico e um saco de cimento.


Leandro decidiu denunciar a ação dos policiais no dia 27 de novembro. Menos de 24 horas depois da denúncia, ele foi assassinado. O procedimento investigatório, concluiu que ele foi morto por “vingança pelo fato da vítima ter prestado ‘queixa’ na corregedoria interna da PM”, na Inspetoria-Gerale na 5ª DP.


Em escuta telefônica, de 1º de janeiro de 2004, a mulher do então sargento Ítalo fala com a mãe do soldado Flávio Rodrigues Neves. Esta última deseja-lhe feliz ano novo e que diz que o marido dela vai sair dela e “começar tudo de novo aqui fora”, o que os investigadores entenderam se tratar das “matanças”.

 

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A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Adriano Magalhães da Nóbrega. Procurado, o vereador Ítalo Ciba disse que trabalhou por cerca de um ano com Adriano no GAT do 16º BPM. “A relação era de comandante para comandado, mas se tornou uma relação de amizade”, afirmou em nota. Ciba disse que a morte de Leandro não foi uma execução, “mas um confronto de rua” e que “comprovou que não foi o autor dos disparos”, tendo sido absolvido. Sobre as moções, o vereador relata que “foi feito contato do deputado Flávio Bolsonaro com o vereador (Ciba), que é amigo de longa data do deputado, do presidente Jair Bolsonaro e de toda a sua família” para tratar da homenagem. Ciba diz ter conhecido Queiroz apenas como motorista de Flávio: “Nunca trabalhamos juntos”.


Já a defesa de Fabrício Queiroz “negou com veemência" qualquer vínculo do ex-assesor com a milícia e afirmou que que ele jamais trabalhou com Adriano no Batalhão de Olaria: “Como já esclareceu, o conheceu a época que em trabalharam no Batalhão de Jacarepaguá”, diz em nota. Flávio Bolsonaro não respondeu.

 

Com informações de O Globo

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