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13/11/2018

Lucas Bebê: 'A insegurança e a corrupção afundaram o país. Por isso Bolsonaro teve 57 milhões de votos'

Foto: Reprodução

Pivô brasileiro, um dos atletas que mais se engajaram na campanha de Bolsonaro, tenta romper o rótulo de eterna promessa no retorno ao basquete espanhol: “Meu objetivo é voltar à NBA”

Quando o deputado Eduardo Bolsonaro anunciou o apoio de um “jogador brasileiro da NBA” à candidatura do pai, Lucas ‘Bebê’ Nogueira já havia encaminhado sua saída do Toronto Raptors, onde passou quatro anos sem justificar as altas expectativas que a franquia da NBA depositou em seu talento. Mesmo vivendo fora do país, ele foi um dos primeiros atletas a declarar publicamente o voto em Jair Bolsonaro (PSL).

 

Diz ter perdido amizades por causa de seu posicionamento, mas, assim que o ex-capitão do Exército foi eleito presidente, Bebê dedicou a vitória nas urnas a Enéas Carneiro (“melhor presidente que não tivemos”) e não conteve a euforia nas redes sociais: “Fazia tempo que não me emocionava assim. O bem venceu o mal”.


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Além das preferências políticas, o relato de Lucas Nogueira comprova que, no esporte de alto rendimento, as fronteiras entre o céu, o limbo e o purgatório são linhas muito tênues. O pivô brasileiro, de 26 anos e 2,13 metros, recém-contratado pelo Fuenlabrada, da Espanha, luta para deixar para atrás seu inferno particular e recuperar a promissora carreira iniciada na Europa, que se perdeu em um estilo de vida desregrado.


De onde vem Lucas Nogueira?


Fui entregue para adoção com 20 dias de vida. Cheguei a uma família estruturada e tive uma infância feliz. Tenho um irmão e uma irmã 20 anos mais velhos, que me acolheram como um irmão de sangue.

 

Tive mais privilégios que eles porque meu pai naquela época era bancário e tinha muito dinheiro.

 

A priori, no Brasil, todas as crianças sonham ser jogadores de futebol

 

Sim. Eu joguei de atacante e goleiro. Levava jeito para o futebol, mas cresci tanto que, quando tinha 14 anos, me sugeriram o basquete.

 

Meu pai gastou muito tempo e dinheiro para que eu vingasse no futebol. Se não desse em nada no esporte, ele teria se frustrado muito.


Seu objetivo sempre foi a NBA?


Sim. Aos 18 anos vi claramente que poderia chegar à NBA. Percebi isso nos torneios que joguei com a seleção brasileira nos Estados Unidos. Tinha qualidades de sobra. Até que, em 2013, fui escolhido no draft e fiquei muito feliz.

 


Lucas Nogueira jogou quatro temporadas na NBA (Foto: Inma Flores)


Não sentiu certa apreensão?


Não tive medo nem dúvidas. Comecei a sentir depois, quando estava lá e passei a não jogar.

 

Cheguei como melhor defensor da liga espanhola, cheio de confiança, mas ficar no banco foi me matando aos poucos. Vivi quatro anos muito difíceis.


O que descobriu jogando na NBA?


É uma liga duríssima. Há 420 postos de trabalho para 8 milhões de jogadores. A cada dia é preciso lutar pela vaga e, a cada verão, chegam 60 atletas novos.

 

É difícil se manter. Tem que aproveitar qualquer mínima oportunidade. É um meio hostil e individualista, em que você precisa se defender sozinho. Mas não foi isso que me prejudicou. Meus problemas não estiveram dentro da quadra, mas fora. Se receber uma chance de voltar, farei tudo de forma muito diferente.

 


 
Quais foram os seus erros?


Sete anos depois, a fama que criaram de mim na Espanha ainda me persegue. As pessoas julgam sem saber. Se hoje estou fora da NBA, não é por questões técnicas, mas pela vida que eu levava fora das quadras no Estudiantes [seu ex-clube na Espanha]. Essa fama foi comigo até a NBA. Não gosto de mentiras.

 

A sinceridade me custou muitos milhões de dólares. Tomara que um dia eu possa voltar. É meu sonho, porque hoje mudei radicalmente, sobretudo depois do nascimento de minha filha.


O que aconteceu naqueles anos?


Eu saía e bebia como um louco. Nada que não faria qualquer jovem com dinheiro. Saí muito cedo do Brasil. Vinha de uma família muito conservadora, meus pais não me deixavam nem sair de casa. De repente, me vi em Madri, recebendo 2.000, 3.000 euros por mês. Caí na balada. Queria experimentar o mundo.

 

Não posso jogar a culpa em ninguém. Não sou um hipócrita. Aproveitei muito e depois paguei o preço. Foi um aprendizado. Me deslumbrei e percebi tarde que, no momento que você começa a receber salário pelo basquete, ser jovem deixa de ser uma desculpa e é preciso agir como um profissional.


O que você teria sido se não tivesse passado por isso?


Venho ao Fuenlabrada para tentar descobrir quem eu sou, me aproximar do jogador que eu fui.

 

Perdi toda a confiança e a felicidade pelo caminho. Quero ajudar minha equipe mas, principalmente, provar que eu não sou o monstro que as pessoas pensam de mim.


Como é sua vida agora?


Muito tranquila. Treino pela manhã, depois almoço e faço umas três ou quatro horas de sesta.

 

Vou bastante ao cinema, gosto dos filmes de terror e ação. Essa tranquilidade ajuda a me recuperar espiritualmente. Tudo que eu faço agora é pensando na minha filha. Já não gasto dinheiro saindo, tento poupar para ela. Estou divorciado há dois anos e ela vive com a mãe na Flórida. Só a vejo nas férias.


Ainda há tempo para marcar seu nome no basquete?


Eu penso que sou jovem para a vida, mas nem tanto para o basquete. O grande objetivo é voltar à NBA. Não completei minha missão e ainda acho que tenho um lugar lá. Já não existem pivôs como Hakeem Olajuwon, Charles Barkley e Shaquille O'Neal.

 

A cada dia estou melhor, mas me frustra não ter mais a força que tinha quando era jovem. Tenho sete anos e 20 quilos mais que na época de Estudiantes. É hora de aproveitar minha experiência. Por enquanto, valorizo o momento e vou passo a passo. Não sei o que será de mim em um ano.


Como é dividir o vestiário com jogadores rodados como Eyenga e Popovic, que superaram inclusive guerras em seus países?


No Brasil, também temos uma guerra com 60.000 mortes por ano. Não é uma guerra declarada, mas não há nenhum lugar no mundo onde morra tanta gente.

 

A insegurança e a corrupção afundaram o país. Por isso Bolsonaro teve 57 milhões de votos. O governo anterior era muito corrupto. Ter 20 milhões de pessoas sem trabalho é insustentável.

 

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Quem são seus ídolos?


Na vida, Jesus Cristo e meu irmão. No esporte, Kobe Bryant e Federer. Jesus Cristo deu sua vida por mim; meu irmão é meu espelho e conselheiro.

 

Kobe é um modelo de trabalho e ambição e Federer, de talento e elegância.


O que virá depois do basquete?


A música. Sou apaixonado por rock. Em Toronto, eu tocava e cantava em uma banda.

 

Agora vou voltar a dar aulas de baixo e guitarra.

 

El País

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