19 de Abril de 2024 - Ano 10
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21/09/2017

Não aceite o plano B, diz empreendedor que inspirou 'À Procura da Felicidade'

Foto: Divulgação

Para Chris Gardner, que ficou famoso ao ser interpretado por Will Smith no cinema, você deve mirar seu sonho principal e se manter firme nele

O banheiro de uma estação de metrô de São Francisco. Esse foi o local em que, há pouco mais de 35 anos, Chris Gardner dava banho e dormia com seu filho pequeno.

 

Ele olhava para o espelho e se perguntava como tinha parado naquela situação. Sair dali virou seu plano número um. “A chave é que, se eu tinha me colocado naquela situação, eu poderia me tirar dela.” Ele conseguiu.


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Depois de bater em muitas portas, foi contratado em um programa de estágio, tornou-se corretor e acabou abrindo sua própria empresa. De tão impressionante, a história de superação de Gardner virou livro e, mais tarde, foi parar no cinema. Ele é interpretado por Will Smith no comovente “À Procura da Felicidade”.

 

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Hoje, viaja o mundo todo a fim de criar “o próximo Chris Gardner”. Ele vem ao Brasil esta semana para palestrar no National Achievers Congress (NAC Brasil 2017), em São Paulo. Aqui, ele revela a chave para descobrir qual o seu plano A, discute a importância de se manter firme nele e fala sobre como tem sido sua vida uma década após o filme.

 
Faz mais de dez anos que o senhor publicou seu primeiro livro, “À Procura da Felicidade”. Faz mais de 35 que conseguiu o estágio que foi o ponto de partida para mudar sua vida. Depois de todo esse tempo, o senhor acredita que a fórmula para “procurar a felicidade” tenha mudado? Hoje nós temos novos desafios?


Sem dúvida. E essa é uma das questões que eu vou abordar no meu novo livro, em que estou trabalhando neste momento. A definição de felicidade mudou — e vai continuar mudando. Não vai ter mais a ver com coisas materiais.

 

O foco estará em “ser” ou “se tornar”, sobretudo para as pessoas mais jovens. Muitas delas ainda estão lutando para se recuperar dos impactos da crise financeira mundial.

 

Não sei como foi no Brasil, mas aqui, nos Estados Unidos, 20% dos empregos criados depois da crise são precários. Os jovens estão começando a perceber que todas aquelas coisas que eram tão importantes para os seus pais não são importantes para eles próprios.


Vê essa mudança de pensamento como algo positivo?


Com certeza. Afinal, o jeito antigo não funcionou (risos). Coisas materiais vêm e vão. O valor da sua fortuna pode flutuar, mas os seus valores como pessoa têm de ser fixos.


Nos últimos anos, o senhor tem se dedicado a rodar o mundo para a contar sua história. A partir dessa experiência com tanta gente diferente, o que aprendeu sobre as “angústias” dos profissionais ao redor do globo?


Durante a última década, fiquei na estrada 200 dias por ano. Cara… No meu novo trabalho, sou oficialmente o CEO da felicidade. E amo esse trabalho.

 

Ensinou-me algo que eu já sentia, mas que vi com mais clareza: as experiências mais importantes na nossa vida são as experiências universais, que são as mesmas, independentemente de onde você esteja no planeta.

 

Estou falando do nascimento de uma criança, de uma formatura, do casamento, da nova oportunidade de emprego, da casa nova, da perda de um ente querido. Essas são as experiências universais que criam uma família chamada humanidade.

 

Não interessa se você mora no Chile, na Califórnia ou no Canadá. E tenho falado em mais de 80 países nos últimos dez anos, é como se eu fosse uma ONU de um homem só.


Li que, nessas palestras, a intenção é criar “o próximo Chris Gardner”. O que isso significa para o senhor?


Se alguém vem para mim e diz que quer ser um bilionário, tenho de dizer que nunca fiz aquilo e não posso ajudar. Se alguém vem para mim e diz que quer ser o CEO de uma das 500 maiores empresas do mundo, também não vou poder ajudar.

 

Mas se você vem e diz que quer fazer algo que ama, ser ótimo naquilo e trabalhar para si próprio, posso dizer que fiz aquilo e, sim, ajudar aquela pessoa.


O que geralmente está impedindo essas pessoas de atingir seus sonhos?


Duas coisas: o medo de falhar e — esse é bastante importante — o medo de sucesso.


Como assim, medo de sucesso?


A pessoa diz: “Uau, isso vai mudar tudo na minha vida”. E quem está ao redor dela diz que não vai dar certo e que ela deveria desistir. Ela se pergunta: “E se tudo der certo e eu não dar conta? O que eu faço?”

 

O medo do sucesso é tão nocivo quanto o medo de falhar. E tem outra coisa. Mas quero deixar claro que nunca digo o que as pessoas deveriam estar fazendo, mas o que eu faria numa situação similar e o que funcionou para mim. E no meu caso, eu estava completamente comprometido com o meu plano A, não com o plano B.

 

Significa que, quando você está fazendo algo que realmente ama, não há plano B. Ele não existe. Michael Jordan teve sucesso porque mirou o plano A, não o plano B. A Oprah Winfrey se tornou a rainha da mídia porque estava comprometida com plano A, não com o plano B.

 

Barack Obama foi o presidente dos EUA por dois mandatos seguidos porque estava comprometido com o plano A, não com plano B.


Mas hoje temos tantas opções do que fazer. Como sequer saber se estou no caminho certo — no plano A?


Faça o seguinte: escove os dentes.


Perdão?


Escove os dentes. Quando você estiver sozinho, ao escovar os dentes, olhe para o espelho e se pergunte duas coisas. Questão um: se eu pudesse entrar em qualquer empresa amanhã de manhã para fazer qualquer coisa no mundo, o que seria? Pense exatamente em como você queria que fosse essa experiência e em como você se sentiria. Questão dois: o que eu posso fazer hoje para tornar esse amanhã possível? Pode ser só um passo pequeno, não importa.

 

Agora, se a resposta é que você não está fazendo nada, então já sabe que aquele não é o plano A e que não é aquilo que você queria estar fazendo. Seja honesto com aquela pessoa do espelho.


O valor da sua fortuna pode flutuar, mas os seus valores como pessoa têm de ser fixos”.


Li algo que o senhor disse certa vez em uma entrevista e achei bem interessante: “O cara que mais se importa com a sua família mora na sua casa, não na Casa Branca”. As pessoas querem “terceirizar” as soluções dos problemas delas mais do que deveriam?


Muitas vezes, especialmente aqui nos EUA. A culpa é sempre do outro. Foi o NAFTA [Tratado Norte-Americano de Livre Comércio] ou foi outro acordo comercial ou foi o governo.

 

Quando eu estava no ponto mais baixo da minha vida, morando num banheiro com o meu filho — que a propósito tinha só 14 meses de idade e ainda usava fraldas, apesar de aparecer mais velho no filme —, eu tinha de dar banho nele ali e, depois, olhar no espelho para me fazer perguntas bem difíceis.

 

“Por que isso aconteceu? O que vai acontecer daqui para a frente? Como eu cheguei até aqui?” E a resposta para esta última era brutal: “Foi porque eu me coloquei aqui”. Não era o acordo comercial com outro país, não era o ciclo econômico — eu tinha me colocado ali.

 

Foram as decisões que tomei, as coisas que eu fiz e algumas das coisas que deixei de fazer. Mas a chave é que, se eu tinha me colocado naquela situação, eu poderia me tirar dela.


Na jornada de sair daquela situação, qual foi a decisão mais difícil que o senhor teve de tomar?


Essa é uma pergunta muito interessante. Já me perguntaram de um jeito diferente, mas a resposta é a mesma. “Como você escolhe entre fazer o que é prático e o que é a sua paixão?”

 


Will Smith e Chris Gardner em evento de lançamento do filme À Procura da Felicidade

(Foto: Chris Jackson/Getty Images)

 

O que eu digo aqui pode ser impopular: algumas vezes você vai ter de fazer os dois ao mesmo tempo.


No filme, vemos que o senhor tinha de usar o tempo a seu favor quando conseguiu um estágio — até indo menos vezes ao banheiro a fim de ser mais produtivo. Aquele, claro, era um caso extremo. Mas hoje, muitos profissionais têm dificuldade de usar o tempo deles de maneira sábia para serem mais produtivos. Há listas e mais listas na internet sobre o assunto. O que o senhor diria para um profissional que quer ser mais produtivo?


Tem a ver com algo que discutimos no início da entrevista. Não se trata de fazer mais, mas de fazer melhor. Estou sendo a melhor versão de mim mesmo?

 

Pessoalmente, uma das coisas que estou fazendo agora é criar a versão 2.0 de mim mesmo. Sabe quando os dispositivos eletrônicos dizem que você já pode atualizar o sistema? Eu estou tentando fazer a atualização — mentalmente, fisicamente, espiritualmente, emocionalmente. É algo em que estou trabalhando todos os dias.


Em seu discurso na Universidade da Califórnia em Berkeley, em 2009, o senhor diz que, quando se chega em certo ponto da carreira, outras pessoas vão querer te dizer o que fazer o tempo todo. Depois, o senhor rasga o discurso que tinha nas mãos. Quando nós devemos ouvir só a nós mesmo?


A primeira coisa é se perguntar como você se sente sobre aquela decisão. Todas as vezes que agi contra a minha intuição, estava errado. Então aprendi a me perguntar: “Como eu me sinto em relação a isso?”

 

Uma das coisas que precisamos ter em mente é que todo mundo sempre vai ter uma opinião sobre o que você deveria estar fazendo. Já perdi a conta de quantos advogados conheci que não queriam ser advogados, mas a mãe deles queria. Eles foram atrás daquilo e, depois, acordaram um dia fazendo algo que nunca quiseram. Tenha em mente que ninguém tem de gostar daquilo além de você mesmo.


Vou inverter a pergunta, então. Qual é o melhor conselho que já recebeu e que, de fato, seguiu?


Cara, um conselho da minha mãe. Meu Deus… Minha mãe uma vez me disse, “filho, a cavalaria não vai vir te ajudar”. Ou seja, você não tem como pedir reforço — você vai ter de fazer acontecer por si próprio.

 

Se você é, por exemplo, um pai ou uma mãe solteira (caso de 30% das famílias aqui nos EUA), cabe muito bem a frase “a cavalaria não vai vir te ajudar”. Você pode até tirar um dia livre no trabalho, mas o seu dia nunca vai ser livre.

 

A pessoa em quem você pode contar é só você mesmo. Mas minha mãe também me deu o maior presente: permissão para sonhar. E isso é universal. Eu dei essa mesma permissão aos meus filhos. E vivi o suficiente para dar também à minha neta e a outros jovens ao redor do mundo.

 


Chris Gardner, empreendedor que inspirou o filme À Procura da

Felicidade (Fotos: Divulgação)

 

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