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Internacional
13/11/2018

O assassinato da jovem filha de deputada que confunde o México

Foto: Reprodução / Facebook

Valeria Cruz Medel, de 22 anos, estudava medicina na Universidade Veracruzana

O assassinato de Valéria Cruz Medel, filha da deputada federal Carmen Medel, ocorrido na última quinta-feira no México, deixou uma série de dúvidas.


As autoridades mexicanas afirmam que a jovem de 22 anos, que estava na academia quando foi morta a tiros, em Ciudad Mendoza, no Estado de Veracruz, foi executada por engano.


A mãe dela participava de uma sessão da Câmara dos Deputados, na Cidade do México, quando recebeu por telefone a notícia do assassinato da filha.


A parlamentar teve uma crise de choro no recinto, em uma cena que comoveu o país.


"Ela (Valéria) era uma jovem tranquila, dedicada aos estudos e à prática de esportes", disse o governador Miguel Angel Yunes em entrevista à imprensa.


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O governador Miguel Ángel Yunes afirmou que a hipótese da procuradoria

está 'confirmada' (Foto: Governo de Veracruz)


De acordo com as investigações da Procuradoria-Geral do Estado, Valéria Medel foi confundida, pela semelhança física, com a namorada de um líder de uma gangue local, que frequentaria a mesma academia.


No entanto, a rapidez incomum com a qual o suposto assassino foi localizado e com a qual a hipótese da motivação do crime foi "confirmada" levantam algumas dúvidas sobre o caso.


A BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, solicitou uma entrevista com o procurador-geral do Estado, mas não recebeu resposta.


O que aconteceu, de acordo com a procuradoria


Por volta das 16h (horário local) de quinta-feira, a polícia recebeu um pedido de socorro em relação a um crime que havia sido cometido minutos antes.


De acordo com as investigações, um homem identificado pelas autoridades apenas como "El Richy" foi até a academia que Valéria frequentava, no centro de Ciudad Mendoza.

 


A academia onde ocorreu o crime fica a duas quadras do Palácio

Municipal de Ciudad Mendoza (Foto: Google)


Sem perguntar por ninguém ou conversar com os funcionários do estabelecimento, ele foi até o segundo andar, onde a encontrou.


"Ele viu a jovem, dirigiu algumas palavras a ela e disparou nove tiros", explicou Yunes à rede Televisa.


Na sequência, o criminoso deixou o local em uma caminhonete Mazda.


Como o suposto assassino foi encontrado?


Cerca de uma hora e meia depois do crime, por volta das 17h30, o governador deu uma entrevista à imprensa na qual apresentou um retrato falado do único suspeito.


"El Richy" seria encontrado morte naquele mesmo dia, horas mais tarde, segundo as autoridades.


Oito pessoas que estavam no prédio onde funciona a academia deram pistas sobre a aparência do suspeito e do veículo em que ele fugiu.


"Aproximadamente às 21h, a caminhonete que estávamos procurando, um Mazda, apareceu. 'El Richy', autor material do crime, estava morto dentro do veículo", disse o governador.


Outros dois homens foram presos nas horas seguintes como possíveis cúmplices do crime.


Por que se fala em 'confusão'?


Para o governador, a hipótese sobre o motivo do crime foi "confirmada": foi uma confusão.


A rivalidade entre duas gangues locais, uma ligada ao Cartel de Jalisco Nova Geração (CJNG) e outra ao Los Zetas, teria desencadeado o ato de violência.


A jovem foi confundida com "uma mulher que tem um relacionamento com o líder de uma gangue de criminosos (do Los Zetas) que opera naquela área de Ciudad Mendoza", afirmou Yunes.

 


As autoridades de Veracruz divulgaram fotos de 'El Richy', suposto

assassino de Valéria (Foto: Governo de Veracruz)


Essa hipótese, ele acrescenta, teria sido confirmada quando as autoridades encontraram uma caminhonete Patriot preta abandonada na entrada da academia, com documentos "que correspondem precisamente à namorada deste indivíduo ligado ao crime organizado" - no caso, a uma gangue rival do grupo de "El Richy".


"Aparentemente, ela deveria ser pega (sequestrada) pela pessoa que entrou na academia. E certamente ele a confundiu com esta jovem que não tinha nada a ver com qualquer atividade indevida", completou.


As dúvidas que cercam o caso


Veracruz é há mais de uma década um dos Estados mais castigados pela violência gerada por grupos de criminosos e suas gangues locais, com uma taxa de homicídios de 19,13 casos por 100 mil habitantes em 2017.


O número é mais que o dobro do registrado em São Paulo (8,02 por 100 mil habitantes), por exemplo, mas ainda está atrás dos piores índices do México - Colima é o Estado com a mais alta taxa, de 113 homicídios por 100 mil habitantes.


O nível de impunidade no Estado, contudo, é o oitavo mais alto do país, com uma pontuação de 75,62 (a média nacional é de 69,21, segundo o ranking Global Impunity Index 2018, que leva em conta o volume de crimes sem solução).

 


Veracruz tem nível de impunidade acima da média do país (Foto: Getty Images)


Logo após o assassinato de Valéria Medel, a Comissão Nacional de Direitos Humanos solicitou às autoridades de Veracruz uma "investigação imediata, objetiva e exaustiva do crime" para evitar "que haja impunidade".


O caso, contudo, foi resolvido em questão de horas, o que contrasta com os altos índices de impunidade da região.


Yunes foi questionado na sexta-feira pelo jornalista Carlos Loret de Mola: "Se o objetivo era o sequestro, por que a mulher que o agressor queria sequestrar acabou sendo assassinada no local?"


"Isso é o que não se explica. A hipótese da procuradoria é que a jovem se recusou a sair (com o agressor)", respondeu.

 

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O governador afirmou que o próprio Cartel de Jalisco Nova Geração publicou uma mensagem nas redes sociais admitindo que a morte de Valéria teria sido um erro de "El Richy".

 


'El Richy' foi encontrado morto dentro da caminhonete que testemunhas

identificaram como o veículo do agressor (Foto: Governo de Veracruz)


Quem matou o suposto agressor é outra dúvida, mas a Procuradoria de Veracruz também tem uma hipótese sobre isso:


"Provavelmente teria sido a própria organização criminosa, que, diante do erro evidente desse indivíduo, tomou essa decisão", disse Yunes.


Questionado sobre que gangues rivais de Ciudad Mendoza estiveram envolvidas especificamente, o governador se recusou a identificá-las, limitando a relacioná-las ao Cartel de Jalisco Nova Geração e Los Zetas.


Mas deixou claro enfaticamente que o crime não estava relacionado à atividade política da deputada Carmen Medel.


"Seria uma brutalidade pensar que, por causa da atividade da mãe, ou de qualquer pessoa, ela teria sido atacada. Não tem nada a ver", declarou.

 

BBC Brasil

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