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02/05/2016

Paparazzo tira foto de Leticia Spiller nua em peça de teatro, em São Paulo

Foto: Carol Beiriz

“Um absurdo!”, comenta atriz, protagonista de ‘Doroteia’;

A esta altura do campeonato, todo mundo já sabe que ‘Doroteia’, de Nelson Rodrigues, é a peça mais imperdível da temporada teatral carioca. Agendada para ficar um mês em cartaz no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, em São Paulo, atraiu tantas pessoas ávidas por qualidade, que obrigou o teatro a dobrar a temporada.

 

Resultado: casa lotada to-dos os dias. ‘Doroteia’, o fenômeno, não é um texto fácil. É um soco no estômago, visceral, perturbador. Mas a direção astuta de Jorge Farjalla trouxe um novo vigor a essa obra de 1949, que, com ‘Álbum de família’, ‘Anjo Negro’ e ‘Senhora dos Afogados’, forma a série do Teatro Desagradável de Nelson.

 

O figurino edwardiano de Lulu Areal, a direção musical de João Paulo Mendonça, a iluminação de Patrícia Ferraz e Farjalla e o cenário de José Dias estão entre os pontos fortíssimos do espetáculo. É uma peça para grandes atrizes dispostas a abrir mão incondicionalmente de qualquer pudor, que buscam a feiura – por dentro e por fora - em tempos em que todo mundo só quer ficar bonito no Instagram.

 

E essa montagem tem as melhores: Rosamaria Murtinho, que comemora 60 anos de carreira em cena; a surpreendente e irreconhecível Alexia Dechamps (que, depois daqui, reescreveu sua história como atriz, olho nela), Dida Camero, Jaqueline Farias, Anna Machado e, claro, a Doroteia magnífica de Leticia Spiller.

 


Alexia Dechamps caracterizada como Maura, uma das

primas amargas da peça 'Doroteia' (Foto: Carol Beiriz)


Por causa da trama, elas se enfeiam, se contorcem, se desmontam, se debatem. Despem-se de qualquer vaidade em nome do bom, aliás, do ótimo teatro...

 

Leticia Spiller, por sinal, despe-se literalmente na cena em que a ex-prostituta Doroteia, Madalena arrependida, implora que as primas cruéis a ajudem a purgar sua vida de pecado. E não é que, no momento da cena de nudez de Leticia na encenação do último domingo (1), eis que pipoca da plateia um flash estranhíssimo, de um homem que se sentou na primeira fila com uma mochila?

 

Assim que a fotografou nua, ele se levantou e fugiu. A produção correu atrás dele, mas, como não podia obrigá-lo a abrir sua mochila, acabou perdendo-o de vista. Seria um paparazzo ou um fã abusado? “Um absurdo”, comentou comigo Letícia no final do espetáculo, desconcertada, revoltada, mas com a firmeza de quem é ciente de seus direitos. Que esse “nude” indigno e violento não prospere por aí, estamos de olho...

 


Rosamaria Murtinho surge em surpreendente processo de desconstrução no

espetáculo (Foto: Carol Beiriz)


Por essa personagem, que termina leprosa e suja de sangue, Leticia foi muito além de tirar a roupa; tirou visceralmente sua consagrada beleza em prol da arte, aquela com ‘A’ maiúsculo. Mas o paparazzo não foi capaz de tirar o respeito da sala pela presença magnífica de Fernanda Montenegro, que esperou pacientemente na fila, do lado de fora do teatro, sua vez de entrar, embora a produção a tenha convidado para se acomodar em seu lugar antes do público. Fernanda não é diva; é dama.

 

“É uma peça extremamente difícil, e essa montagem é soberba”, resumiu Fernanda num papo com Rosamaria, emocionada com a presença da amiga. Fiquei quietinho admirando as duas atrizes magistrais conversarem sobre a luz, sobre o cenário, sobre as posições em cena.

 


"A montagem é soberba", elogiou Fernanda Montenegro, que foi abraçar o elenco

e o diretor Jorge Farjalla ao final da apresentação (Foto: Bruno Astuto)


“Eu poderia ter feito um monólogo com excertos de grandes peças em que atuei para comemorar os 60 anos de carreira, mas preferi me desafiar saindo da zona de conforto com ‘Doroteia’ a fazer uma coisa cabotina”, disse Rosamaria, que grita, range, se contorce, levantas as pernas e se agiganta na encarnação de Flávia, uma das maiores vilãs da dramaturgia brasileira. “As amigas ficaram assustadas porque eu deixei meus cabelos brancos para a personagem, imagine só. A vaidade da mulher termina onde a necessidade de atriz começa”.

 

Essa montagem hipnotizante continua em cartaz no Rio até o fim do mês, mas em novo endereço: a Cidade das Artes, na Barra. Depois segue em turnê pelo Nordeste e deve chegar a São Paulo em março de 2017. Vida longa a ‘Doroteia’ e que o nosso público não perca a deliciosa oportunidade de se torturar com ela.

 

Fonte: Globo

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