19 de Abril de 2024 - Ano 10
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Internacional
22/02/2017

Plano de deportações de Trump assusta imigrantes brasileiros

Foto: Guillermo Arias / AFP

Casa Branca endurece situação de pessoas em situação irregular e favorece expulsões

Ao anunciar seu novo plano de deportação e acabar com a prioridade de expulsar apenas imigrantes que cometeram delitos graves, o presidente americano, Donald Trump, abriu caminho na terça-feira para cumprir o que prometeu na campanha: tirar do país todos os 11 milhões de ilegais.

 

A partir de agora, pode ser alvo de deportação qualquer ilegal que tenha cometido um delito de qualquer tipo, como falsificar documentos para participar de programas do governo ou até para pagar impostos: estudos baseados em dados do governo estimam que ao menos 3,1 milhões deles pagam US$ 12 bilhões de impostos por ano. A deportação em massa deverá ainda ser reforçada pela contratação de mais 15 mil agentes.


— Estes memorandos confirmam que o governo está disposto a atacar o devido processo legal, a decência humana, o bem-estar de nossas comunidades e até as proteções para crianças vulneráveis, em busca de uma política agressiva de deportação em massa. Mas essa não é a última palavra: os tribunais e o público não permitirão que esse sonho não-americano se torne realidade — afirmou Omar Jadwat, diretor do projeto Direito dos Imigrantes da União Americana de Liberdades Civis, indicando que o tema pode ir parar na Justiça, assim como o decreto que tentou barrar a chegada de refugiados e também de cidadãos de sete países muçulmanos.


Algumas da medidas anunciadas, contudo, devem demorar, como a contratação dos agentes e a ampliação de centros de detenção — e outras terão pouco efeito. Uma delas é a deportação expressa, que permite a devolução do estrangeiro ao país de onde veio, sem o trâmite legal tradicional, que passa a valer em todo o país (antes era até a 160 quilômetros da fronteira) e afetar pessoas que entraram nos EUA nos últimos dois anos, e não mais duas semanas. Mesmo assim, as novas políticas geraram pânico entre os ilegais que moram nos Estados Unidos, incluindo brasileiros.


— Passei o dia atendendo telefonemas, muita gente está desesperada. O temor é com os filhos nascidos aqui, já que muitos brasileiros sem documentos ainda não regularizaram a situação dos filhos no Brasil — conta Liliane Costa, diretora do Brazilian American Center, em Boston, onde está a maior colônia de brasileiros.


O grupo de estrangeiros pais de jovens nascidos nos EUA ou de imigrantes que chegaram ao país com menos de 16 anos (os chamados dreamers) é um dos poucos que não serão afetados pelas novas diretrizes. Mas muitas famílias serão separadas. Para Dulce Matuz, dirigente do movimento Dreamer, do Arizona, as medidas repetem o passado: militarização da fronteira e deportação em massa.


— Isso continuará ampliando a discriminação de muitos que não são criminosos, e com o uso de dinheiro público. Não é uma solução definitiva.
E até políticos republicanos criticaram as medidas. Ileana Ros-Lehtinen, deputada federal de origem cubana, condenou os memorandos do Departamento de Segurança Interna:


— Entendo que há pessoas que não querem delinquência em suas comunidades, mas é errado misturar crimes com imigrantes — disse, segundo o jornal “El Nuevo Herald”.


Mas, apesar do endurecimento das regras de imigração, números do Censo dos EUA mostram uma queda abrupta de mexicanos que imigraram para o país nos últimos anos. Dos 1,9 milhão registrados entre 2003 e 2007, o número passou para 819 mil de 2008 a 2012 — uma diminuição de 57%. E mais: de 2009 a 2014, um milhão de mexicanos e suas famílias — incluindo crianças nascidas nos EUA — voltaram para casa, segundo dados do México. Os números do Censo para o mesmo período indicam que cerca de 870 mil mexicanos cruzaram a fronteira. Ou seja, pela primeira vez o fluxo se inverteu.


— A prisão de mexicanos que tentavam atravessar a fronteira entre EUA e México atingiu a maior baixa em 2015 em quase 50 anos — explica ao GLOBO Michelle Mittelstadt, diretora de Comunicação do Migration Policy Institute. — Além disso, pela primeira vez as novas chegadas de imigrantes de China e Índia ultrapassaram as de mexicanos.

 

Estatísticas mostram mexicanos no topo das deportações pelos EUA

(Foto: Editoria de arte)


Segundo o instituto, as tendências são resultados de alguns fenômenos: no México, refletem a queda da natalidade, somada ao aumento dos níveis de ensino e à melhora das perspectivas econômicas. Nos EUA, o crescimento da repressão à imigração, associado à lenta recuperação nas indústrias que empregam trabalhadores pouco qualificados, reduziu os fatores de atração.


Mudança demográfica


E se o México continua a ser o principal país entre os deportados, há um crescimento entre cidadãos da Guatemala, Honduras e El Salvador.
— A tendência está diminuindo, com o aumento de deportações de cidadãos de países da América Central, que entram pelo México — afirma ao GLOBO Leonardo Freitas, sócio-fundador da consultoria americana Hayman-Woodward.


Embora ainda seja cedo para avaliar a mudança, as novas ordens executivas e políticas emitidas no último mês mostram um endurecimento em relação ao governo de Barack Obama. Enquanto isso, os EUA registraram um aumento entre 30% a 35% no número de solicitações de todos os tipos de vistos.


— O crescimento reflete o receio com o endurecimento de políticas anti-imigração e porque muitos pretendem dar entrada nas solicitações com as atuais regras, que valem até setembro — diz Freitas.


Em Los Angeles, uma das cidades com maior número de imigrantes, a comunidade está assustada, conta Enrique Morones, da Border Angels:


— Com Trump, grupos de ódio e racistas se sentem mais motivados. O aumento desse tipo de crimes contra imigrantes é claro. Mas, apesar de todas as retaliações, haverá mais manifestações. Queremos dizer que temos direitos que precisam ser respeitados. Se todos imigrantes deixarem de trabalhar, a economia americana entrará em colapso.

 

Solidariedade. Manifestantes protestam em frente a uma igreja em Denver, Colorado,

em apoio a uma mexicana sem documentos refugiada no local há uma semana

(Foto: Jason Connolly / AFP)


O Globo

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