Corria o ano de 1982. Uma geração de intelectuais, profissionais liberais e outros, entusiasmada com os ares da jovem democracia brasileira, foi à luta e conquistou pelo MDB (o hoje PMDB) vagas na Assembleia Legislativa do Amazonas. Francisco Queiroz, Félix Valois, Elizabeth Azize e José Dutra fizeram história com discussões de alto nível e compromisso verdadeiro com os destinos da terra e do povo do Amazonas.
O governador Gilberto Mestrinho, que havia sido cassado pelo golpe de 1964, venceu a disputa eleitoral, derrotando Josué Filho, e começou a governar com firmeza e adoção de medidas de impacto e grande aceitação popular.
Conta a lenda que certa vez o governador convocou a bancada da base de sustentação (nessa época já havia isso) e traçou as diretrizes da ação dos parlamentares na ALE, hoje Aleam. Ao final do encontro, orientou a bancada como receber, mensalmente, uma ajuda financeira para as obras sociais dos representantes do povo.
Um conhecido, confidente e assessor de Mestrinho ficou encarregado de entregar, em envelope lacrado, o agrado mensal do “professor”.
O advogado criminalista Félix Valois, líder do governo na ALE, nunca foi nem mandou buscar o pixuleco palaciano, porque sabia, e ensinava na faculdade de Direito, que quem recebe qualquer vantagem indevida em razão do cargo público que exerce comete o crime de corrupção passiva. Qualquer que seja o valor.
Mesmo assim, foi acusado por um colega de parlamento de receber também a verba extra. Valois não pensou duas vezes e processou o mentiroso acusador. Resultado: o falastrão foi obrigado a pedir desculpas e negar, na frente do juiz de direito e do promotor de Justiça, a calúnia praticada.
Três décadas depois, o “mensalão” e alguns “mensalinhos” estaduais e municipais existem para provar que o tempo passou, mas a prática da cooptação continua a mesma. Com valores atualizados, é bem verdade.