Rivais cogitam ir à Justiça, e trans brasileira diz: 'Precisam parar de falar besteiras'

A presença de Tifanny Abreu em quadra não agradou a todos na Itália. Em reportagem do jornal “Corriere della Sera” desta quarta-feira, dirigente do Millenium Brescia levantou a possibilidade de uma ação conjunta na Justiça com outros clubes contra a presença da brasileira, primeira transexual do país a jogar entre as mulheres.

A equipe disputa um lugar nos playoffs da segunda divisão do campeonato italiano contra o Golem Palmi, time de Tifanny.

Em entrevista ao jornal italiano, Emanuele Catania, gerente do Millenium Brescia, afirma que Tifanny jogava com homens até o ano passado. Ele reclama que a força de Tifanny é maior que a de qualquer outra jogadora da competição.

- O que acontece se nós vamos ao Brasil e contratamos três transexuais para jogar na A2? Nós vamos ganhar o campeonato. Mas as coisas não poderiam ir bem. Temos o maior respeito pela pessoa, o esporte deve ser aberto para a sociedade que evolui.

Mas as regras devem ser mais precisas. Os outros clubes não estavam protegidos: ela foi atirada para a briga e muda o equilíbrio de uma temporada que estava em andamento. Eles mudaram as regras do jogo, e isso não é bom.

Tifanny Abreu em ação durante sua estreia pelo Golem Palmi

(Foto: Divulgação)

As duas equipes se enfrentam no dia 5 de março. Caso vença o rival direto, o Golem Palmi dá passo significativo rumo aos playoffs. Catania diz que não pretende ir à Justiça para anular uma eventual derrota, mas afirma que é uma ação conjunta é possível.

- Não (não tentaria anular a partida). Isso faria com que nos sentíssemos mal. Mas, se com outros clubes, for acordada uma ação de classe, não ficaríamos fora. O descontentamento se espalhou. Há vídeos que demonstram que ela carrega o dobro de peso que a média. O DNA é do sexo masculino. O tratamento hormonal a enfraqueceu em 40%, mas o poder nos tiros é de um homem comum. A vantagem física é óbvia, a rede no vôlei feminino também é 19cm mais baixa – afirmou.

Tifanny, por outro lado, se diz tranquila. Em conversa com o GloboEsporte.com, afirmou ter feito um exame nesta quarta-feira. Seu índice hormonal de testosterona, ela diz, é ainda menor que o de uma mulher comum.

- Eu estou muito tranquila. Eu estou na regra. Minha taxa hormonal foi tirada ontem. É de 0,2%. E a mulher tem de ter entre 0,1% a 1%, que é o permitido. Eu estou abaixo da taxa de todas as meninas do meu time. Então, estou tranquila. Meu clube e a federação estão tranquilos. A federação mandou um e-mail para todos os clubes para que eles parassem de ficar falando essas coisas. Eles precisam parar de falar essas besteiras.

Tifanny Abreu comemora com suas companheiras (Foto: Divulgação)

A brasileira diz que seu caso gera reclamações por conta de seu nível. Para ela, não é por ser transexual que leva vantagem em quadra.

- Eu estou na categoria errada, sim. Mas porque sou de nível A-1. E estou na A-2. O que eu posso fazer? Eles todos queriam me contratar, recebi propostas de vários outros times. Sorte de quem me contratou. Fazer o que? Claro que, no ano que vem, eu quero jogar num nível mais alto.

Mas é uma experiência incrível que eu estou vivendo. Falaram que vão ao Brasil para pegar três trans e ganhar o campeonato. Eu falei: “Você pode ir no Brasil, na Ásia, onde quiser. O importante é contratar três trans com nível”. Não é por ser trans que tem nível. Não é só força, tem que ter categoria. E graças a Deus eu nasci com essa categoria.

O Golem Palmi também saiu em defesa de sua jogadora. Em nota oficial em seu site, o clube afirma que Tifanny se sobressai por conta de seu talento e a compara à principal atacante da seleção italiana, Paola Egonu.

- Sua história é bem conhecida. Você não precisa ser endocrinologista para saber que a diminuição da concentração de testosterona e o aumento de hormônios femininos leva a uma redução significativa da massa muscular, força e, consequentemente, uma diminuição substancial do salto (cerca de 40cm a menos) e da potência de ataque.

As regras são claras e definidas de forma inequívoca. (...) A questão é: Tifanny é uma jogadora fora da categoria? Em nossa opinião, sim, porque seria mais adequado para jogar na série A1, onde estão colegas com suas próprias qualidades físicas e técnicas, tais como Paola Egonu, Samantha Fabris, Brayelin Martinez e Valentina Diouf, só para citar algumas. Ela é uma mulher e só entre as mulheres pode jogar.

Globo Esporte