18 de Abril de 2024 - Ano 10
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04/09/2015

Seguindo ordens do comandante-geral da PM, oficial revela esquema para induzir governador a erro, desrespeita coronel e humilha aluna do curso de cabo

Foto: Reprodução / Internet

Alunos de cursos da Polícia Militar no campus que é dirigido pelo tenente-coronel Ronilton

O sinal mais claro da falência do comando de uma instituição militar é quando seus membros começam a tomar decisões, a falar e a fazer o que bem entendem, sem se importar com os desdobramentos e consequências de seus atos.

 

Essas atitudes passam a se reproduzir com tamanha rapidez que o controle se torna difícil, praticamente impossível. Costumam dizer os militares que a perda do comando é o que pode acontecer de pior na gestão das organizações. “É como o cristal: quebrou, não tem remendo”, ensina um velho coronel da Polícia Militar.


É precisamente o que está acontecendo no Comando-Geral da Polícia Militar do Amazonas. No final desta matéria, confira na denúncia em forma de áudio, gravado na semana passada, como é que um oficial de patente superior, um tenente-coronel, penúltimo posto na carreira da centenária instituição, diretor de um centro de formação e aperfeiçoamento de soldados, cabos e sargentos, se dirige a alunos que participam de cursos no Instituto Integrado de Ensino de Segurança Pública (Iesp).


Usando linguajar que beira o chulo, eivado de atentados à língua portuguesa, o tenente-coronel Ronilton de Jesus Jacinto Cavalcante, em nome do comandante-geral da Polícia Militar do Amazonas, se dirige a alunos do Curso de Formação de Cabos (CFC) e do Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos (CAS) para, durante quase 20 minutos, ofender superior hierárquico e revelar um esquema que teria sido engendrado pelo “excelentíssimo senhor comandante-geral da Polícia Militar”, única autoridade a quem deve satisfação, conforme termos que usa no discurso aos alunos. O tal esquema traria prejuízo ao governador do Estado, José Melo.


São atitudes como essa do tenente-coronel Ronilton que levam a sociedade à reflexão sobre o nível de preparação dos policiais militares para lidar com as estressantes situações do cotidiano da cidade. Não seriam por orientações como essa que nascem os maus profissionais, que causam situações embaraçosas para si e para seus comandantes, além de enormes prejuízos à sociedade? 

 

Há três anos, Ronilton comandava a unidade de motos da Polícia Militar

e dava aula a particulares dentro das instalações de quartel (Reprodução / Internet) 

 

Após ouvir o áudio abaixo, o cidadão também vai perguntar o porquê de ser tão difícil a adoção de providências contra profissionais que estão em posição mais elevada na pirâmide da instituição, questão recentemente levantada por um deputado estadual que denunciou que é muito fácil punir um praça, mas igual facilidade não se vê quando o envolvido é um oficial da Polícia Militar.


Confira principais trechos reproduzidos do áudio-denúncia


- Ronilton revela publicamente à tropa que conduziu pessoalmente, por ordem do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Gilberto Gouvêa, quatro alunos do Curso de Formação de Soldado (CFSD) à Defensoria Pública para que movessem uma ação contra o Governo do Estado, “DEVIDAMENTE AUTORIZADO PELO COMANDO”. O objetivo seria fazer o governador José Melo dar um drible na Lei de Responsabilidade Fiscal e pagar valores em atraso devidos aos alunos. “PARA QUE A GENTE BLINDE O GOVERNADOR...”, Ronilton diz que decidiu com o coronel Gouvêa que vai ser movida uma ação coletiva assinada pelos alunos, já estando tudo combinado com o Ministério Público para ser “AGILIZADO POR TODOS DO GOVERNO”, para que os alunos recebam até o próximo dia 13, que é quando se completam cinco meses de salários atrasados, pelo que se infere da fala do oficial.


- Mostrando satisfação por ter sido bem recebido por defensor público, e dizendo que “FIZEMOS O QUE TÍNHAMOS QUE FAZER”, o diretor do campus do Iesp revela outra trama envolvendo agente do governo: “Pegamos uma cópia do documento, já deixamos com o TENENTE-CORONEL CORRÊA, QUE É GENRO DO GOVERNADOR, E É DA MINHA TURMA, PARA ELE AGILIZAR PARA QUE ‘OS CARAS’ (alunos) VIESSEM A RECEBER”.


- Em seguida, revela um imbróglio entre a direção do Iesp e o Comando-Geral da Polícia Militar no emprego dos alunos em serviço operacional (festival folclórico de Manacapuru, que aconteceu de 28 a 30 de agosto), revelando a existência de rusgas entre os coronéis.


- E passa a contar aos militares, até com certo orgulho, como tratou seu superior hierárquico, o coronel José Antônio Saraiva, diretor do Instituto Integrado de Ensino de Segurança Pública (Iesp), por este ter tentado evitar que ele, tenente-coronel Ronilton, levasse os alunos-soldados para mover a ação contra o Governo do Estado - demonstração clara de desprezo por aquilo que apregoa e pensa ensinar aos seus alunos, que é o respeito à HIERARQUIA E À DISCIPLINA. “NÃO SEI O QUE ELE (coronel diretor) ESTÁ PENSANDO... FIZ LEMBRAR A ELE HOJE À TARDE...”, são trechos do modo como o tenente-coronel se refere ao coronel Saraiva, dono de extensa folha de serviços prestados à segurança pública no Amazonas.


- Sempre se valendo da ironia e do tom desrespeitoso para um oficial superior à sua patente, Ronilton procura incutir na mente dos cabos e sargentos que o Iesp é um órgão sem credibilidade, sem força e que “TEM VALIDADE DE DEZ ANOS... COMO JÁ SE PASSARAM OITO, SÓ FALTAM DOIS PARA PERMANECER”, se referindo à lei que criou o instituto dentro da estrutura da Secretaria de Segurança Pública (SSP).


- Ronilton desdenha do período em que o atual diretor do Iesp foi comandante-geral da Polícia Militar, “...TRÊS MESES, DOIS MESES, UM MÊS, SABE LÁ, ALGUMA COISA DESSA...”. Compara que a gestão do coronel foi parecida com sua situação vivida no município de Boca do Acre há tempos, onde consta que serviu na cidade por dois anos, “MAS É MENTIRA. PASSEI TRÊS MESES LÁ, E OLHE, OLHE”. Narra o professor dos futuros policiais.


- O trecho a seguir é surpreendentemente revelador da intimidade do tenente-coronel Ronilton com seu comandante-geral, comentando ter recebido documento oficial da direção do Iesp sobre o emprego de alunos em serviço de rua: “PASMEM OS SENHORES, HOUVE ESSA PROIBIÇÃO... ELE (o diretor) DIZENDO QUE O IESP É DE 8 ÀS 17H30. O RESTANTE CABERIA À PM. MANDEI O DOCUMENTO AO COMANDANTE-GERAL, VIA WHATSAPP: ‘COMANDANTE, LÊ ISSO AÍ!’. LIGOU LOGO, DE IMEDIATO: “PUTA QUE PARIU, RONILTON! NÃO SEI O QUE QUE NÓS ESTAMOS FAZENDO AÍ (no Iesp)”.


- Depois desse colóquio edificante, Ronilton pergunta a Gouvêa qual é a orientação. A resposta: “FODA-SE O IESP! CUMPRA DETERMINAÇÃO”... Ronilton diz que é complicado não entender que “O COMANDANTE NÃO PEDIU, DETERMINOU!”. E complementa: “NÓS SOMOS DA POLÍCIA MILITAR, NÃO SOMOS DO IESP... ESTAMOS NO IESP POR UMA SITUAÇÃO DE LEI MALFEITA”.


- Continuando o ataque ao Iesp, volta a frisar que o órgão “TEM HORA PRA NASCER, NASCEU. TEM HORA PRA MORRER, VAI DEIXAR DE EXISTIR”, ensinou aos seus comandados. “EU ESTOU NA ATIVA, ELE (o diretor) ESTÁ NA RESERVA... CADA UM NO SEU QUADRADO”.


- E continuando, se referiu a uma mulher, cabo da Polícia Militar, nos seguintes termos: “TEM ALGUMAS AINDA... PRINCIPALMENTE A CABO..., COMO É O NOME DA SENHORA?”. Com essas palavras, passa a uma sessão de constrangimento e humilhação contra a profissional porque ela teria se dirigido ao diretor do Iesp sem passar por ele. “... PEÇO QUE REVEJA SUA CONDUTA, SEUS ATOS, SUA FARDA. PEGUE O REGULAMENTO. VERIFIQUE SUAS ATITUDES... A SENHORA VAI PEGAR SUAS DEVIDAS CORREÇÕES. A SENHORA FEZ UMA PARTE (espécie de memorando) DIRETAMENTE PARA ELE (forma deselegante de se dirigir ao diretor do Iesp)...”.


- E nesse ponto do discurso, o tenente-coronel Ronilton exibe sua contradição e hipocrisia: “...TEM DOIS PILARES A POLÍCIA MILITAR, DO MUNDO INTEIRO ... HIERARQUIA E DISCIPLINA... COMO DISSE O EXCELENTÍSSIMO SENHOR COMANDANTE-GERAL, NÃO DEVO NADA E NEM SOU SUBORDINADO AO IESP. SOU SUBORDINADO AO COMANDANTE-GERAL DA PM, CORONEL GOUVÊA”.


- Prosseguindo no constrangimento, o diretor do campus fala diretamente à cabo da PM, ameaçando-a : “A BOLA DE NEVE, COMO A MAIORIA DOS MILITARES SABE, VAI LHE PEGAR. VAI PEGAR UMA, PEGAR DUAS, PEGAR TRÊS. VAI PEGAR, DE CERTEZA. NÃO VOU JUNTAR AS PUNIÇÕES. UM BG (BOLETIM GERAL INTERNO), MEIA HORA DE DETENÇÃO; NO OUTRO BG, MEIA HORA DE DETENÇÃO; OUTRO BG, MEIA HORA DE DETENÇÃO.... A CADA DUAS DETENÇÕES EQUIVALE UMA PRISÃO. DUAS PRISÕES, A SENHORA VAI PARA O MAU (NÍVEL DE COMPORTAMENTO). NÃO ESTOU MANDANDO RECADO. UMA QUE POLICIAL MILITAR NÃO MANDA RECADO, QUEM MANDA RECADO É PUTA”. E reforçou a lembrança da existência dos pilares da instituição, sem ao menos recordar que minutos antes demonstrou atitude totalmente contrária ao se referir a um oficial hierarquicamente superior.


- E finaliza com a seguinte mensagem aos alunos: “CADA UM SABE A DOR E A DELÍCIA DE SER O QUE É. CADA UM RESPONDE POR SEUS ATOS. EU RESPONDO PELOS MEUS E CADA UM RESPONDE PELOS SEUS. E TENTO DAR O MÁXIMO DE EXEMPLO A TODOS OS SENHORES”.


Atos na carreira de Ronilton não condizem com o que prega agora


Há uns três anos, o então major Ronilton teve de responder na Justiça por sua conduta incorreta e criminosa militarmente por usar as instalações do quartel do Comando de Policiamento Especializado (CPE) para dar aulas particulares de direção de motocicleta para civis. Ele recebia pagamento por isso. Além disso, Ronilton usou motos da própria Polícia Militar nas práticas.

 

Ouça o áudio:  

 

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