E nesta semana em que Ayrton Senna completaria 58 anos
Amigos, é com grande alegria que abro este novo espaço no GloboEsporte.com. O Memória F1 nasceu para relembrar histórias da categoria, com seções que vocês vão conhecer aos poucos, entrevistas com personagens históricos, bastidores e curiosidades, muitas curiosidades.
E nesta semana em que Ayrton Senna completaria 58 anos, conto uma história muito curiosa, e quase desconhecida, do tricampeão.
Depois de um decepcionante quarto lugar no Mundial de 1992, com apenas três vitórias enquanto as "Williams de outro planeta" (como o próprio Ayrton as chamava) atropelavam a concorrência.
Senna iniciou o ano de 1993 repleto de dúvidas: ficar na McLaren sem a Honda (que abandonara a F1) e com motor Ford de segunda especificação? Ir para a Fórmula Indy com ajuda do amigo Emerson Fittipaldi? Tirar um ano sabático como fizera o rival Alain Prost? Deixar de vez a Fórmula 1?
Nesse complexo cenário, Senna e o chefão da McLaren, Ron Dennis, desenvolviam um plano teatral para convencer a Marlboro, então patrocinadora principal da equipe, a pagar as exorbitantes exigências salariais de Ayrton, que, na real.
Queria testar primeiro o modelo MP4/8 com o confiável - mas não tão potente - motor Ford antes de tomar qualquer decisão.
Enquanto se dava o complexo jogo de blefe e contra-blefe, surgiu uma sondagem que quase ninguém soube à época, e até mesmo depois disso não teve repercussão.
Barrichello durante o GP da África do Sul de 1993 (Foto: Getty Images)
Em seu terceiro ano na Fórmula 1, a Jordan já havia anunciado o novato Rubens Barrichello, de 20 anos, como piloto titular, mas ainda tinha um cockpit vago. Para a maior parte dos pilotos era um assento interessante.
A despeito de ter marcado apenas um ponto em 1992 com o terrível motor Yamaha, a Jordan era uma equipe bem organizada e com recursos bastante razoáveis. Teria um carro novo em folha projetado por Gary Anderson e os confiáveis motores Hart V10.
Foi aí que, pasmem vocês, apareceu Ayrton Senna!
Sem saber se ficaria na F1, Sennna chegou a testar um Fórmula Indy no fim de 1992
(Foto: Reprodução / Twitter)
Em livro publicado apenas na Europa sobre a carreira de Rubens Barrichello (Editora Haynes, 2005), o experiente e renomado jornalista britânico David Tremayne - aliás, uma figura querida dos jornalistas brasileiros - revelou uma conversa que teve com Eddie Jordan, na qual o ex-dono de equipe e hoje comentarista contou que Senna chegou a abrir negociações com ele para 1993.
Jordan tinha praticamente fechado com Martin Brundle, mas este foi para a Ligier na última hora, o que manteve a segunda vaga em aberto.
Para quem não sabe ou lembra, Senna foi rival ferrenho de Eddie Jordan e de Brundle no épico campeonato inglês de Fórmula 3 em 1983, vencido pelo brasileiro.
Ayrton Senna conquistou cinco vitórias em 1993, uma delas considerada uma
atuação épica, em Donington Park (Foto: Divulgação/McLaren)
Mas a relação entre Senna e Jordan se manteve cordial, e o tricampeão fez contato, segundo Eddie.
Como todas as demais vagas importantes do grid estavam fechadas, Senna queria ter pelo menos na manga uma possibilidade de vaga (improvável, é verdade), e não ficar um ano parado caso naufragasse o plano teatral com a McLaren, que tinha confirmado Michael Andretti e já deixara de sobreaviso o futuro campeão Mika Hakkinen.
Parece impensável ainda hoje, mas pelo menos segundo Eddie Jordan, a ideia de uma dupla entre Senna e Barrichello chegou a existir.
Seria, claro, uma espécie de contrato-tampão, já que Ayrton queria mesmo a Williams, o que aconteceria apenas em 1994.
Foto: Reprodução
No fim das contas, Senna testou o McLaren-Ford e gostou. Conseguiu ainda êxito no plano teatral com Ron Dennis e arrancou 1 milhão de dólares por corrida da equipe, primeiro assinando contratos prova a prova, e, a partir da sétima etapa (França), com um compromisso até o fim do ano.
Conquistou vitórias memoráveis, cinco no total, e conseguiu um vice-campeonato brilhante, a apenas 26 pontos de Prost, que tinha uma Williams-Renault no auge das forças, graças à potência do motor Renault e à eletrônica embarcada.
Como Ayrton infelizmente não está mais entre nós para comentar esse "causo", fica o dito pelo não dito, e essa negociação entre Senna e Jordan se torna uma daquelas famosas histórias de bastidores.
Mas que seria incrível ver Ayrton e Rubinho juntos, ah, isso seria...
Globo esporte