19 de Abril de 2024 - Ano 10
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Mulher
31/12/2018

Violência sofrida e filmada pela própria mulher coloca em foco que a vítima ainda é desacreditada

Foto: Reprodução / Instagram

Proteger a mulher não exige linchamento público, divulgação por redes do nome da mãe ou documentos do possível agressor

Assisti aos 90 segundos em que Luciana Sinzimbra é espancada por um rapaz. Não sei se ele é quem dizem ser, o filho do ex-prefeito de Anápolis, uma cidade do interior do Goiás. Espero que a polícia o nomeie; a mim importa falar dela, a vítima.

 

Proteger a mulher não exige linchamento público, divulgação por redes do nome da mãe ou documentos do possível agressor – não precisamos de milícias para proteger as mulheres vítimas de violência. Precisamos acreditar na palavra da mulher e permitir que as instituições de proteção e investigação cumpram seu papel.


Por isso, importa entender por que Luciana filmou a si mesma como uma presa à espera do ataque? Porque precisava provar que era vítima de violência. Ela não foi a primeira mulher a usar dessa tática: câmeras escondidas como documento de um segredo inominável e inconfessável.


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Com as imagens, a palavra da vítima é confiável, porém novamente acessória à verdade da violência. Há um efeito perverso na prova da violência para a criminalização do agressor – se a imagem é uma prova de que Luciana era vítima da violência, por outro, se fragiliza a palavra da vítima sem a evidência da violência.


Exigir que vítimas comprovem a violência é transferir o dever policial de investigar às mulheres. É submetê-las a rituais privados prévios de preparação da prova; é amplificar seus contextos de vulnerabilidade à violência.

 

Basta imaginar que um desses homens desconfie da câmera para que a violência possa ser letal: o agressor de Luciana tem ímpetos de enforcá-la, além de chutá-la e esmurrá-la. Luciana diz que jamais pensou em transformar sua história em um espetáculo, por isso se espantou com a publicidade do vídeo.


Não é verdade que todo homem é um agressor em potencial. Alguns homens são agressores de fato, outros alimentam práticas violentas no machismo cotidiano.

 

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Se há algo compartilhado entre os homens, é uma certa conivência com a brutalidade como linguagem dos machos – hordas de homens que agora se indignam e clamam pelo linchamento são alguns dos que convivem com homens agressores no trabalho ou na vizinhança. Se queremos atuar para impedir que tragédias como a de Luciana ocorram, nosso dever, como homens e mulheres, é o de acreditar na vítima.

 

Revista Marie Claire

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