23 de Abril de 2024 - Ano 10
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24/05/2020

'Moro, Valeixo sai esta semana', escreveu Bolsonaro antes de reunião com ministros. VEJA PRINTS

Foto: Reprodução

Mensagem de texto foi enviada horas antes de encontro ministerial do dia 22 de abril e contradiz versão oficial do Planalto sobre troca na PF

Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha afirmado que jamais quis interferir na Polícia Federal, mensagens enviadas por ele ao então ministro da Justiça, Sergio Moro, na véspera da reunião ministerial de 22 de abril, mostram que partiu do próprio Bolsonaro a decisão de trocar o então diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo.

 

Os novos trechos da conversa foram revelados neste sábado pelo jornal “O Estado de S.Paulo”. O Globo obteve o material.

 

Em uma das mensagens, encaminhada a Moro às 6h26m de 22 de abril, o dia da reunião ministerial tornada pública na sexta por decisão do Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro informou pelo celular: “Moro, Valeixo sai esta semana”.

 

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Trecho de mensagem em que Bolsonaro comunica a Moro troca na direção-geral da PF Foto: Reprodução

 

Mensagens fazem parte de inquérito que apura interferência de Bolsonaro na Polícia Federal Foto: Reprodução

 

Outras duas mensagens foram enviadas ao então ministro. “Está decidido”, disse Bolsonaro, emendando com “Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex oficio (sic)”.

 

Moro respondeu 11 minutos depois, às 6h37m. “Presidente, sobre esse assunto precisamos conversar pessoalmente. Estou ah disposição para tanto (sic)”.

 

Em resposta à comunicação de Bolsonaro sobre troca na PF, Moro disse que conversa teria que ocorrer pessoalmente Foto: Reprodução

 

Moro mencionou a reunião, que aconteceu horas depois, para provar que Bolsonaro pretendia, sim, intervir na PF.

 

As mensagens foram extraídas do celular do ex-ministro pela Polícia Federal no inquérito que apura a suposta interferência do presidente na PF. Bolsonaro teria interesse no acesso a informações de investigações sigilosas, como acusou Moro. O ex-ministro também afirma que, durante a reunião, foi constrangido pelo presidente, que cobrou mudanças na corporação.

 

A versão de Bolsonaro, no entanto, é que foi Valeixo quem pediu para deixar o cargo, alegando cansaço. Em depoimento no inquérito, no último dia 11, Valeixo declarou não ter formalizado um pedido de demissão. Disse ter recebido um telefonema do próprio presidente perguntando se ele concordava que sua exoneração saísse a pedido. O ex-diretor concordou, alegando não ter tido outra opção.

 

Críticas à imprensa, Ibama e Força Nacional


O material obtido pelo GLOBO também conta com a sequência das mensagens trocadas entre Moro e Bolsonaro até a tarde do dia 23, véspera do pedido de demissão do ministro da Justiça. A insatisfação de Bolsonaro ia além da Polícia Federal. Em uma troca de mensagens no dia 22 de abril, às 7h14 - ou seja, cerca de três horas antes da reunião ministerial - o presidente reclamou da destruição de maquinário, supostamente pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Bolsonaro enviou vídeos a Moro e fez uma dura cobrança: "Força Nacional, Ibama e Funail... As coisas chegam para mim por terceiros...Não vou me omitir...".

 

Em mensagem a Moro no dia 22, Bolsonaro também reclama de destruição de equipamentos usados em extrações ilegais na Amazônia Foto: Reprodução

 

O ex-juiz respondeu, dez minutos depois, que a Força Nacional e a Funai, subordinadas ao Ministério da Justiça, dificilmente estariam envolvidas com a destruição. " A FN e a Funai não tem (sic) autorização para destruir equipamentos. Lamento situação do vídeo, mas eh prematuro falar sobre o envolvimento delas no episódio. Vou checar".

 

Menos de uma hora depois, Moro enviou a seguinte mensagem: "Informação preliminar colhida é a de que FN e Funai não tem (sic) relação com quebra de maquinário e que este seria um procedimento do Ibama somente. Mas ainda checando".

 

Moro argumenta que ações do Ibama não tinham relação com órgãos subordinados ao Ministério da Justiça Foto: Reprodução

 

A resposta definitiva chegou às 9h29 daquele dia, cerca de meia hora antes da reunião ministerial. Moro repassou a Bolsonaro mensagem que recebera de Marcelo Xavier, presidente da Funai:

 

"Bom dia. A Funai não participou dessas ações. A destruição dos maquinários realmente tem ocorrido e se tornou uma prática efetuada pelo Ibama. Os fiscais do Ibama se utilizam do Decreto 6514/08 para a destruição dos maquinários. A Funai não efetua essas destruições. No caso em específico, creio que bastaria a alteração da norma, mas isso não impediria o MPF (Ministério Público Federal) de baixar alguma recomendação para destruição do maquinário".

 

Três minutos depois, disse que o coronel Aginaldo de Oliveira, comandante da Força Nacional, negou o envolvimento da corporação na destruição. "FN só acompanha Ibama nas operações para segurança dos agentes, mas não participa da destruição de máquinas.

 

'Mais um motivo para a troca'


Em 23 de abril, um dia após a reunião ministerial, Bolsonaro mandou uma mensagem às 5h48: "AMANHEÇA BEM DESINFORMADO", acompanhado da imagem da capa de dois jornais em que a notícia principal era sobre a área econômica. "Imprensa não eh (sic) fácil", responde Moro, concluindo: "Estarei no Planalto as (sic) 0900 para conversarmos".

 

Às 7h30, o presidente enviou a Moro o link de uma reportagem do site "O Antagonista" com o título "PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas" e a mensagem: "Mais um motivo para a troca". Este trecho da troca de mensagens foi revelado pelo Jornal Nacional no último dia 24.

 

Bolsonaro manifestou, no dia 22 de abril, insatisfação com investigação que mirava deputados bolsonaristas Foto: Reprodução

 

Moro explicou ao presidente que a notícia dizia respeito a um inquérito do Supremo Tribunal Federal, sob a responsabilidade do ministro Alexandre de Morais, ou seja, sem qualquer ingerência do diretor-geral da PF. "Esse inquérito é conduzido pelo ministro Alexandre no STF, diligências por ele determinadas, quebras por ele determinadas, buscas por ele determinadas. Conversamos em seguida às 0900 (sic)", disse o então ministro, referindo-se a uma reunião agendada com Bolsonaro naquele dia.

 

No dia 23, Bolsonaro reenviou a Moro link que citava investigação da PF, acompanhado pela mensagem: 'Mais um motivo para a troca' Foto: Reprodução

 

Ao defender Valeixo das investidas de Bolsonaro, Moro argumentou que o inquérito que desagradava o presidente estava sendo coordenado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes Foto: Reprodução

Fotos: Reprodução

 

A mesma notícia sobre '"PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas" já tinha sido enviada por Bolsonaro no dia anterior, 22 de abril, às 12h11. Moro responde: "Isso eh fofoca. Tem um DPf atuando por requisição no inquérito da fake News e que foi requisitado pelo Min Alexandre", responde Moro, referindo-se ao ministro Alexandre de Moraes, que cuida da investigação sobre fake news no Supremo que pode atingir bolsonaristas, inclusive o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente. E completa, às 13h13: "Não tem como negar o atendimento ah requisição do STF", responde ele, às 13h13.

 

O trecho já havia sido divulgado pelo presidente, quando mostrou o celular na porta do Palácio da Alvorada, no último dia 5, para tentar rebater as alegações do ex-ministro de que estaria interferindo na PF. "O Moro diz que isso é fofoca porque ele tem informações privilegiadas. Ele diz que esse inquérito que existe no Supremo não tem nome de deputado federal nenhum”, afirmou Bolsonaro na ocasião.

 

Moro, então, divulgou nota para informar que sua declaração buscava "minimizar" o fato de inquérito mirar aliados do presidente, "ciente da intenção" de Bolsonaro em trocar o comando da PF.

 

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Também no dia 23, em defesa da Polícia Federal, Moro enviou a Bolsonaro uma notícia do portal de notícias G1 dizendo que a PF estava investigando desvio de verba que seria usada no combate à Covid-19 pela prefeitura de Aroeiras (PB). "Uma primeira, pequena, mas um começo, junto com CGU (Controladoria Geral da União)". Bolsonaro não respondeu.

 

O Globo

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