Crise política e econômica afeta futebol da seleção e dos clubes do país, rival do Brasil nesta terça
Dentro de campo, a missão do futebol venezuelano é tentar deixar a incômoda posição de saco de pancadas do continente. Fora de campo, é não deixar a crise política e econômica pela qual o país passa atrapalhar os planos seleção.
A "Vinotinto" enfrenta o Brasil nesta terça-feira, na Fonte Nova, pela segunda rodada da fase de grupos da Copa América.
Durante o Congresso da Fifa, no início do mês, o presidente da Federação Venezuelana de Futebol, Laureano González, concedeu a seguinte entrevista a jornalistas brasileiros, na qual falou sobre política, apagões nos estádios do país, uso das redes sociais por parte de seus jogadores e outros assuntos.
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GloboEsporte.com: Até onde a Venezuela vai na Copa América?
Laureano González: Queremos chegar até as quartas de final. E depois, dependendo de quem for o rival, tentar avançar. Nosso melhor resultado na história foi um quarto lugar em 2011. Seria lindo conseguir melhorar esse resultado. É o que pensa o técnico, é o que pensamos nós, dirigentes.
Quando a Venezuela vai se classificar para a Copa do Mundo?
– Para 2022. Hoje somos uma seleção a mais na América do Sul, que às vezes ganha e às vezes perde. Não somos mais os últimos. Agora temos mais rodagem, fomos vice-campeões mundiais sub-20. Estamos muito esperançosos para jogar a Copa de 2022.
Em que a situação política do país influencia o futebol?
– Claro que influencia. É uma realidade política e econômica difícil. Temos um bloqueio por parte dos EUA e seus países satélites que gerou na economia venezuelana alguns desajustes. Além dos erros que o governo pode ter cometido. Além disso, outros países com graves problemas de pobreza e marginalidade fazem campanha para atrair venezuelanos. E isso afeta o futebol.
Foto: Divulgação
Perderam jogadores por causa disso?
– Isso é inevitável, porque eles vão receber melhores ofertas de fora do país. Atletas, técnicos, árbitros... No ano passado, no futebol feminino, fomos o segundo país do mundo que exportou mais jogadoras (depois dos EUA), com muita diferença para o terceiro. Hoje é atrativo para um jogador venezuelano, ainda que seja por pouco dinheiro, ir jogar num país ao qual antes não iria nem para visitar.
Qual seria a solução política ideal para o futebol venezuelano?
– Que se siga fortalecendo a formação dos jogadores. A imigração é inevitável no futebol sul-americano. Nossos melhores jogadores estão na Europa, um campo está sendo aberto na Ásia, e agora nos EUA também vão ser um ímã. E a Venezuela não escapa dessa realidade. O ideal para os clubes é que a situação econômica melhore e se possa pagar salários melhores aos jogadores.
Mas há um esforço de outros países, do Brasil inclusive, para uma mudança de regime na Venezuela.
– Isso é um problema político do qual o futebol não faz parte. Nosso slogan diz que a "Vinotinto" é de todos. Hoje o Brasil pode ter uma linha política, que amanhã pode mudar. O mesmo pode ocorrer em qualquer país, inclusive na Venezuela. Seja qual for a corrente dos nossos políticos, são todos fãs de futebol.
Como é sua relação com a CBF?
– Dentro da Conmebol nossa relação é boa. O que nos preocupa são as campanhas que falam sobre a insegurança na Venezuela. Alguns clubes que estão jogando a Libertadores e a Sul-Americana querem usar isso como justificativa para tirar a sede dos jogos da Venezuela. Mas até agora não houve nenhum incidente.
Foto: Gaspar Nóbrega/CA2019
Mas houve um jogo cancelado.
– Houve um, do Argentinos Juniors (pela Sul-Americana, contra o Estudiantes de Mérida) que foi adiado e disputado três dias depois. Não sei porque eles saíram (do país), mas voltaram três dias depois e jogaram.
Por que os jogos da Libertadores estão sendo disputados de dia? Há problemas de energia elétrica?
– Este é outro problema. Evidentemente houve falhas de manutenção no sistema de energia, mas sobretudo houve sabotagem. É impossível acontecer esse tipo de problema se não for com sabotagem. Esperamos que isso seja superado logo.
A CBF tem no seu estatuto que não pode receber dinheiro público. Como é na Venezuela?
– Não há subsídio direto, mas investimento publicitário. A PDVSA (estatal de combustíveis) é nosso principal patrocinador. Alguns clubes recebem apoio de governos locais. Agora vamos tentar buscar o patrocínio publicitário de um banco público.
Como a federação orienta seus jogadores em relação a uso de redes sociais?
– Nós pedimos aos jogadores para que se mantenham fora da discussão política. Porque esta seleção representa a todos. E uma opinião a favor de A ou B sempre divide. Mas não podemos proibir alguém de ter uma opinião. Não vamos castigar ninguém (que se manifeste). Só pedimos que se respeite a opinião dos outros e, para isso, que se mantenham à margem dessa discussão (política).
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Globo Esporte