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26/09/2020

'Prudência' e 'bom senso': personalidades do mundo do samba comentam decisão de adiar o carnaval carioca

Foto: Reprodução

Rainhas de bateria e musas, carnavalesco e integrantes das escolas de samba acreditam que sem uma vacina contra a Covid-19 a festa não pode acontecer. Eles relatam, no entanto, preocupação com quem sobrevive do espetáculo.

Personalidades do mundo do samba dizem que houve "prudência" e "bom senso" na decisão da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) de adiar os desfiles do carnaval do Grupo Especial do Rio em 2021. E que sem uma vacina contra a Covid-19 não há como reunir multidões na Passarela do Samba e nas arquibancadas da Sapucaí.


Muitos se preocupam, no entanto, com os funcionários de barracões e outros profissionais que dependem da festa para sobreviver.

 

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"Eu acho que foi uma medida maravilhosa. Usaram o bom senso, foram prudentes. O coronavírus não é brincadeira, tem muita gente morrendo nesse país, parece até que estamos em guerra. Não é só o Brasil, é no mundo inteiro.

 

Outros carnavais virão. Acho que devemos esperar com paciência e os dirigentes agiram da forma mais sensata porque a vida é uma só e tanta gente se arriscar por uma festa acho que não vale a pena."

 

Leandro Vieira, carnavalesco da Mangueira e do Império Serrano

 

Leandro Vieira na quadra da Imperatriz — Foto: Reprodução/TV Globo

 

"Eu festejo que a Liga tenha tido esse posicionamento, indo, inclusive, na contramão de outras condutas, porque temos o futebol querendo bancar um retorno forçado e hoje estamos vendo os próprios times querendo voltar atrás porque seus jogadores estão contaminados de Covid.

 

Fico feliz que a Liga tenha tido uma postura prudente diante do cenário.

 

Hoje vivemos um momento em que as instituições precisam mostrar prudência para que as pessoas não acreditem e não banalizem a ideia de que a pandemia acabou. O vírus está aí contaminando, caminhando para matar 150 mil brasileiros.

 

E segundo a própria Liga, mais adiante, vai se avaliar novamente o quadro para pensar a viabilidade de uma nova data.

 

E se mais para frente não for viável, vai se caminhando para que isso só seja possível em 2022.

 

A posição mais prudente de qualquer instituição que administra grandes eventos é essa posição de aos poucos ir avaliando o quadro. (...) O próprio mundo do samba perdeu alguns compositores com Covid."

 

Bianca Monteiro, rainha de bateria da Portela

 

Bianca Monteiro, rainha de bateria da Portela, na concentração — Foto: Marcelo Brandt/G1


"É certo adiar. A gente não pode colocar a nossa vida e a vida das pessoas em risco, enquanto não tiver uma vacina. Enquanto não tiver uma certeza do que a gente está enfrentando, acho que não tem condição de ter carnaval.

 

Mas eu acho que o governo tinha que ver um jeito legal de ajudar mais o samba, inclusive as pessoas que trabalham no barracão, que têm família e que precisam trabalhar, porque muita gente que vive do carnaval, vive da arte e desse grande espetáculo, está passando necessidade.

 

A gente está falando de vida. Eu amo samba, amo carnaval, tô no carnaval desde que me entendo por gente, mais de 20 anos na Portela desfilando.

 

Mas nós temos que ser conscientes nesse momento, consciente com a nossa saúde. E a Portela é uma escola que tem 70% de idoso. Como é que a gente vai voltar a ensaiar com essa quantidade toda de idoso, de criança, botando a vida dos outros em risco?

 

Enquanto não tiver uma vacina, uma resposta, acho que a gente não pode desfilar e ter aglomeração."

 

Evelyn Bastos, rainha de bateria da Mangueira

 

Evelyn Bastos, rainha da Mangueira — Foto: Marcos Serra Lima/G1

 

"Acho que é o melhor a ser feito, adiar o carnaval. A gente ainda não tem uma vacina, a gente não tem previsão de vacina. E quando a gente fala de carnaval a gente sempre tem que pensar na massa né, no povo. Então a gente tem que pensar na vacinação em massa.

 

E como a gente ainda não tem o sinal de uma vacina, a gente precisa ter consciência de que, por mais que o carnaval afete financeiramente também os trabalhadores da nossa festa, a gente precisa pensar no coletivo, a gente precisa pensar em todo mundo.

 

Então, adiar é, sem dúvida, o melhor a se fazer. A gente precisa agir com a nossa cabeça e ser bastante consciente do momento que estamos passando. É um momento inédito, um momento preocupante. Inédito para nós.

 

Sabemos que existiu anos atrás mas, para nós, a nossa geração, está vivendo isso agora. Então precisamos ser bem conscientes e ter todo o cuidado do mundo para que a nossa festa continue sendo vista como a maior do planeta, que a nossa arte seja tão admirada sem que a gente possa agravar a situação que estamos vivendo."

 

Marquinhos de Oswaldo Cruz, cantor, compositor e sambista

 

Marquinhos de Oswaldo Cruz  — Foto: Cristina Granato/ Divulgação/ Terreirão do Samba

 

“O samba é o pai da alegria, o samba é o dono do corpo, que contagia todas as pessoas. Só que nesse momento de pandemia é muito difícil fazer uma festa que é justamente com esse contato das pessoas.

 

Então, a decisão da Liga, na minha opinião, foi muito correta.

 

O que eu acho é que a gente deve pensar das pessoas que vivem dessa indústria do carnaval. É essa indústria que ajuda a sustentar a cidade. É o dia que a cidade mais arrecada. Diferentemente do discurso que está aí, você não coloca dinheiro no carnaval tirando da Educação, da Saúde.

 

Você simplesmente investe no carnaval e o carnaval traz dinheiro para que se possa investir em Saúde e Educação.

 

Acho que nesse momento, o município, o estado e a União têm que pensar muito nessas pessoas que vivem desse espetáculo e dessa indústria.”

 

Gracyanne Barbosa, rainha da União da Ilha do Governador

 

União da Ilha: rainha da bateria Gracyanne Barbosa na Sapucaí — Foto: Alexandre Durão/G1

 

"Acho a decisão coerente pelo cenário de pandemia que temos.

 

Fico bastante preocupada e apreensiva para que saia um auxílio emergencial para todos aqueles que dependem do carnaval para sustentar suas famílias, a festa gera milhares de empregos direta e indiretamente.

 

Sofrem todos, as escolas, os foliões e os trabalhadores.

 

Mas neste momento, com tantas mortes, é a decisão certa a ser tomada."

 

Ana Paula Evangelista, musa da Unidos da Tijuca

 

Ana Paula Evangelista no desfile na Sapucaí — Foto: Mateus Almeida/G1

 

"Estou de pleno acordo com a Liesa. Com o quadro de hoje é inviável fazer o carnaval em fevereiro. Já perdemos muitas pessoas por conta da pandemia e com a realização do carnaval o vírus se expandiria e com isso correríamos o risco de termos mais um ano ruim como esse.

 

Temos que lutar para que a pandemia termine logo e não se expanda. Em primeiro lugar está a saúde da população e por isso sem uma vacina em vista, infelizmente não temos como realizar o carnaval."

 

Tião Belo, diretor de bateria da São Clemente

 

Tião Belo, diretor de bateria da São Clemente — Foto: Cristina Boeckel/ G1

 

"Eu achei perfeita a decisão da Liesa porque se não sair vacina, não tem como ter carnaval.

 

Carnaval a gente vai ter por muitos e muitos anos. A gente fica sentido porque sabe que tem muita gente que depende do carnaval, que trabalha pelo carnaval e precisa desse dinheiro. Vai ser difícil, mas a gente tem que suportar. A vida é mais importante do que o carnaval.

 

Eu ainda tenho um pouco de esperança de realizar a festa até abril se sair a vacina. Poderia acontecer um desfile sem disputa, como se fosse um ensaio técnico, para não passar em branco.

 

Mas sem vacina, concordo com a Liesa. A vida é mais importante do que tudo."


Denise Dias, musa de escolas e ex-rainha de bateria da Inocentes de Belford Roxo e Tuiuti

 

Denise Dias na Sapucaí — Foto: Divulgação/Daniel Pinheiro

 

"Concordo com a Liesa. É a decisão mais responsável que deveriam ter. Mesmo que chegue a vacina em 2021 não temos tempo hábil de vacinar toda a população e ter uma festa segura, e não podemos correr o risco de uma segunda onda dessa pandemia terrível que assolou o mundo.

 

Festa boa é festa consciente

 

Prudência' e 'bom senso': personalidades do mundo do samba comentam decisão  de adiar o carnaval carioca | Carnaval 2021 no Rio de Janeiro | G1 

A segurança da população está em primeiro lugar e não podemos mais conviver com tantas mortes. Em breve a festa vai voltar e vamos comemorar por ter conseguido vencer essa luta. O próximo carnaval depois de vencer esse vírus será ainda mais colorido e feliz."

 

Raíssa Machado, rainha de bateria da Viradouro

 

Rainha da bateria da Viradouro, Raíssa Machado, comemora título na quadra da escola  — Foto: Alexandre Durão/ G1

 

"Eu compreendo a necessidade do adiamento do carnaval, tendo em vista a preocupação com os foliões. Acho essa preocupação legítima e precisa sim ter prioridade. Mas isto me deixa muito triste, me preocupa saber que adiar a festa, de certa forma significa massacrar ainda mais setores que já estão sendo profundamente afetados pela pandemia. São milhares de pessoas, dentro e fora dos barracões, que tiram seu sustento de forma, direta ou indireta, da indústria do carnaval. E sem pelo menos uma previsão sobre uma nova data, fica difícil saber como ganhar o pão de cada dia.

 

O carnaval é uma das maiores paixões da minha vida. É uma coisa que eu sempre quis e que me deixa muito realizada em todos os sentidos e vai ser triste passar por ele sem entrar na avenida com a minha Viradouro. Oro todos os dias pela chegada da vacina. E com todos devidamente vacinados e protegidos, poder sonhar de novo com a realização da festa, e retomada dos trabalhadores, que dependem disso para garantir suas rendas familiares.

 

Sonhar com isso, aquece o meu coração, porque tenho um amor muito grande pelo meu pavilhão e me preocupo com cada um dos componentes. Porque para mim, a vida deles importa, e muito! Só em 2020, levamos cerca de 2600 componentes para a avenida, precisamos de todos eles seguros, felizes e prontos para apresentar um lindo trabalho.

 

O carnaval além de ser a maior festa popular do Brasil e um dos principais cartões de visita, também ajuda muitas famílias, muitos trabalhadores que garante seu sustento através dos seus trabalhos nas escolas de samba e/ou em outros setores que movimentam a festa e fazem o carnaval acontecer. Isso sem contar com toda a alegria que proporciona. E essa alegria será necessária para que a gente consiga superar todas as dores e tristeza que vem sido provocada pela pandemia do novo coronavírus".

 

Liesa decide adiar desfiles

 

Viradouro é a campeã do carnaval 2020 do Rio de Janeiro | Bonfim Notícias


A decisão da Liesa foi unânime, após uma reunião na sede da liga, no Centro, na quinta-feira (24).

 

Ainda não há data para o desfile - as escolas só definiram que eles não acontecerão em fevereiro. Segundo o presidente da Liesa, Jorge Castanheira, qualquer avaliação de nova data depende da marcação de uma campanha de vacinação. Questionado se o desfile poderia ser em junho, porém, ele disse que é uma possibilidade.

 

Confira como foi o primeiro dia de desfiles no Rio de Janeiro - Jornal Opção

Fotos: Reprodução

 

"Em função de toda essa insegurança, essa instabilidade em relação a área da ciência, de não saber se lá em fevereiro vamos ter ou não a vacina, chegamos à conclusão que esse processo tem que ser adiado. Não temos como fazer em fevereiro - as escolas já não vão ter tempo nem condições financeiras e de organização de viabilizar até fevereiro", diz Castanheira.

 

"Nós estamos em permanente reunião aqui. Discutimos hoje não o cancelamento, mas uma possibilidade de um adiamento, uma solução alternativo, algo que venha num momento com segurança contribuir para a cidade do Rio de Janeiro", acrescentou.

 

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"Vamos continuar lutando, buscando alternativas para encontrarmos um projeto nosso que permita que as escolas de samba possam fazer algum processo alternativo aos desfiles que acontecem em fevereiro para também não prejudicar o carnaval de 2022. Então, vamos tentar encontrar no próximo momento, nos próximos meses, alguma solução que seja em outra data. A prioridade nossa é respeitar a questão da segurança", disse Castanheira.

 

G1

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