O número e o alcance das invasões de terras indígenas (TIs) cresceram em 2021. Os 305 casos registrados em pelo menos 226 territórios no país representaram uma alta de 15% em relação a 2020, quando foram relatados 263 casos em 201 TIs. Em comparação com 2018, ano que antecedeu o mandato de Jair Bolsonaro, o total de ocorrências em 2021 quase triplicou.
Os dados são do relatório Violência Contra Povos Indígenas no Brasil, elaborado anualmente desde a década de 1990 pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Igreja Católica.
O total de assassinatos de indígenas no período se manteve num patamar elevado. Depois de atingir o recorde em 2020, com 282 assassinatos, em 2021 foram contabilizados 276 crimes do tipo.
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Para Lucia Helena Rangel, assessora antropológica do Cimi e uma das organizadoras do relatório, a leve queda entre um ano e outro não significa que a violência tenha diminuído.
“A intensidade do horror aumentou muito nesses últimos três anos. Lidamos com esquartejamento, com assassinatos de crianças. Nunca tinha visto nada dessa forma. Esse aumento da crueldade vai além de uma contagem numérica”, afirma Rangel à DW.
O relatório compila informações colhidas em campo por missionários e missionárias, denúncias de organizações e lideranças indígenas, informes do Ministério Público Federal e institutos de pesquisa, além de dados oficiais de órgãos como Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).
CRIANÇAS E ADOLESCENTES TAMBÉM SÃO VÍTIMAS
Em 2021, casos de violência registrados pelo Cimi foram descritos como “inimagináveis” e “desumanos”, e envolveram estupro, tortura e esquartejamento de crianças e jovens.
A maior concentração dos assassinatos ocorreu na Amazônia, principalmente no estado do Amazonas, com 38 crimes registrados. Entre eles está o assassinato do adolescente Hiwô, de 14 anos, que foi morto cruelmente por cinco homens enquanto caminhava sozinho para a casa de um parente que o hospedava na cidade de Eirunepé.
Em seguida na lista de estados está o Mato Grosso do Sul, com 35 casos. Ali, a violência atinge principalmente os guarani-kaiowá, que buscam há décadas retomar terras que ocupavam antes da expansão da fronteira agrícola. A morte de Raíssa, de 11 anos, é tida como uma das mais chocantes – ela foi alcoolizada, abusada sexualmente por cinco agressores e atirada de um penhasco.
“A abertura para invasões, ocupação das terras, o descaso com a saúde indígena moveram a violência. Os executores, sejam eles pai, irmão, o vizinho fazendeiro, o soldado, estavam imbuídos de uma liberdade para agir que ficou muito consolidada em 2021”, opina Rangel.
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Para os autores do relatório, os 148 suicídios registrados no período, número considerado alarmante, pode ser entendido como um sintoma da ausência de políticas públicas que garantam a segurança e o futuro dos povos indígenas.
Fonte: Istoé