A especialista Adriana Erthal Abdenur, em 1º plano, em painel do Brazil Forum UK com a professor Monica Hirst e o economista Paulo Nogueira Batista
Para especialistas em relações internacionais, a mudança radical na política externa brasileira a partir do ano passado deixou o País despreparado para lidar com tanto com os Estados Unidos quanto a China. O assunto foi tema de painel do Brazil Forum UK 2020 nesta segunda-feira, 6, sobre os novos rumos do Itamaraty desde a eleição do governo Jair Bolsonaro.
Para a professora Monica Hirst, que dá aulas de relações internacionais na Universidade Torquato di Tella em Buenos Aires, as eleições presidenciais neste ano nos EUA deixariam o Brasil numa posição ruim independentemente do resultado.
Ela vê um aprofundamento da crise de imagem brasileira no caso de uma reeleição do presidente Donald Trump, e um provável isolamento ainda maior no caso de vitória do democrata Joe Biden. Em qualquer cenário, segundo Monica, haverá dificuldade para o governo Bolsonaro se posicionar em meio às disputas dos americanos por hegemonia com a China.
Veja também
Bolsonaro desobriga uso de máscara em presídios
Empresa de ex-mulher do advogado Frederick Wassef obteve aditivos do governo Bolsonaro
"Realmente vamos nos tornar, do ponto de vista da comunidade internacional, um ator absolutamente irrelevante e desprezível", diz a professora, sobre as consequências da continuidade do alinhamento com Trump, caso reeleito. Já sobre a China, os especialistas veem atritos desnecessário do Brasil com seu maior parceiro comercial. "Como nós vamos 'desideologizar' esse relacionamento com esse governo? Não vejo nenhuma possibilidade."
O economista Paulo Nogueira Batista, diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) por oito anos, vê com preocupação a postura adotada pelo Brasil com as duas maiores potências mundiais. Ele acredita que há uma lenta transição na hegemonia sobre a ordem mundial entre EUA e China, e vê um relacionamento pior dos brasileiros com os dois países.
Ele diz que o governo Bolsonaro pôs em prática na relação com os EUA "uma busca de proximidade que os próprios americanos estranham", e não vê benefícios práticas para o Brasil. "Já não é muito facil para mim entender a lógica de hostilizar a China. Isso faz parte de um 'delírio amadorístico'."
"Com este governo, é inviável o Brasil ser um ator relevante", resume Batista.
Já a cofundadora da Plataforma CIPÓ e especialista em relações internacionais, Adriana Erthal Abdenur, diz que o Brasil abdicou da influência que tinha na diplomacia em áreas como saúde, o grupo BRICS, órgãos regionais da América do SUl e da Organização das Nações Unidas (ONU).
"Temos organizações que estão paralisadas politicamente, por falta de recursos, por discórdias entre lideranças", diz Adriana sobre a região sul-americana. "Nâo é uma politica externa propositiva em qualquer âmbito."
Estadão