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07/11/2020

Brasileiros reconstroem cérebro completo de um dos dinossauros mais antigos

Foto: Reprodução

Paleontólogos da Universidade Federal de Santa Maria e da Universidade de São Paulo apresentam, pela primeira vez, crânio e neurocrânio do Buriolestes schultzi

Um time de paleontólogos brasileiros da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, e da Universidade de São Paulo (USP) publicou, nesta segunda-feira (2), no periódico Journal of Anatomy, a reconstrução do cérebro do Buriolestes schultzi, um dos dinossauros mais antigos do mundo e que viveu onde hoje é o Brasil e a Argentina.

 

O feito inédito foi realizado pelos pesquisadores da UFSM Rodrigo T. Müller, José D. Ferreira, Flávio A. Pretto e Leonardo Kerber, além de Mario Bronzati, da USP. Em 2015, Müller descobriu um esqueleto fossilizado completo no município de São João do Polêsine (RS), a 48 quilômetros de Santa Maria. Com cerca de 233 milhões de anos, o esqueleto pertence a um Buriolestes schultzi e conta com uma raridade: um crânio bem preservado. Foi então que o time de especialistas começou a reconstruir o cérebro do dinossauro.

 

Esse tipo de análise é importante para tentar compreender melhor os hábitos comportamentais desses seres. Só que tecidos moles, como o do cérebro, dificilmente se preservam ao longo de tanto tempo. Para conseguir reconstruir o órgão, então, os paleontólogos utilizaram tomografias computadorizadas e analisaram as cavidades cranianas. E isso só foi possível porque a estrutura que envolve o cérebro, o neurocrânio, estava bem preservada.

 

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O Buriolestes schultzi tinha um cérebro relativamente pequeno, pesando cerca de 1,5 grama (pouca coisa mais leve que uma ervilha). “Além disso, a forma do cérebro apresenta um padrão bastante primitivo, lembrando o de um crocodilo”, descrevem os autores, em comunicado. Mas algumas estruturas bem desenvolvidas na região do cerebelo indicam que esse dinossauro tinha visão aguçada para rastrear suas presas. Seu olfato, no entanto, era quase inexistente.

 

Reconstrução do cérebro do Buriolestes schultzi (Foto: Márcio L. Castro)

 

“Os ecossistemas em que o Buriolestes schultzi viveu eram dominados por outros répteis chamados de rincossauros (que não são dinossauros) e também por parentes distantes dos mamíferos e crocodilos”, contou Müller, em entrevista por e-mail a GALILEU.

 

Precessor dos pescoçudos

 

Apesar de ser pequeno e carnívoro, o Buriolestes schultzi fazia parte de uma linhagem que originou os saurópodes, dinossauros gigantes herbívoros de pescoço longo. Faziam parte dessa turma o Diplodocus e o Brachiosaurus, alguns dos maiores que habitaram a Terra. Para entender como se deu essa evolução, os paleontólogos compararam o cérebro do Buriolestes schultzi com o dos saurópodes.

 

Um dos achados mais curiosos foi o aumento dos bulbos olfatórios: no cérebro do Buriolestes schultzi, essas estruturas responsáveis pela capacidade de sentir cheiro são pequenas; nos saurópodes, bem desenvolvidas. “O desenvolvimento de um olfato aguçado pode estar relacionado com o aumento na complexidade dos hábitos sociais dos saurópodes. Entretanto, a capacidade olfativa também pode ter ajudado esses animais a reconhecer plantas potencialmente tóxicas ou mesmo detectar a aproximação de predadores”, escrevem os autores.

 

Os pesquisadores brasileiros também se debruçaram sobre a capacidade cognitiva do Buriolestes schultzi. Para medir a “inteligência” deles, utilizaram cálculos que envolvem o volume do cérebro e o peso corporal, e o resultado é o chamado coeficiente de encefalização. No caso do Buriolestes schultzi, esse coeficiente foi maior do que o dos saurópodes — o que é raro em boa parte das linhagens de vertebrados, que tendem a aumentar a encefalização ao longo do tempo.

 

Reconstrução do cérebro e crânio do Buriolestes schultzi (Foto: Márcio L. Castro)

Fotos: Repdoução

 

Mas, de acordo com Müller, a diminuição no caso dos saurópodes tem justificativa. “Isso pode ser esperado para animais gigantes, uma vez que já foi observado que animais grandes tendem a apresentar alometria [a taxa de crescimento de uma estrutura do organismo em relação ao resto do corpo] negativa para o cérebro”, explica o paleontólogo a GALILEU.

 

Dieta vantajosa?

 

Outra constatação intrigante da pesquisa é que a encefalização dos Buriolestes schultzi foi menor em relação à de dinossauros carnívoros como o Tyrannosaurus e o Velociraptor. E isso pode ser explicado, em partes, pela dieta. “Já foi observado em mamíferos que animais carnívoros tendem a apresentam maior grau de encefalização do que suas presas”, destaca Müller. Segundo ele, animais predadores necessitam de certa capacidade cognitiva para capturar suas presas.

 

O que não significa que seres herbívoros não possam ter bom nível cognitivo. Para fugir de seus caçadores, muitos desses animais também precisam desenvolver alta capacidade de reconhecer e alertar sobre perigos. “Assim, muitos dinossauros herbívoros apresentam um coeficiente de encefalização bastante alto quando comparados a certos dinossauros carnívoros”, destaca o paleontólogo da UFSM.

 

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Novo modelo

 

Por se tratar do primeiro cérebro completo de um dos dinossauros mais antigos do mundo, a reconstrução feita pelos pesquisadores do Brasil passará a ser adotada como modelo para futuros estudos anatômicos e propostas evolutivas. Dessa forma, assim com os dinossauros se eternizaram na história do nosso planeta, a paleontologia brasileira também deixa sua marca.

 

Galileu

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