20 de Abril de 2024 - Ano 10
NOTÍCIAS
Política
21/08/2021

Candidato 'terrivelmente evangélico' de Bolsonaro não vai para o STF

Foto: Divulgação

O capitão já foi informado que o seu indicado "terrivelmente evangélico" para a vaga de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) não deve assumi-la. O senador Davi Alcolumbre poderá explicar na próxima semana que não faz sentido dar vazão ao desejo do capitão, em indicar a quem quer que seja para uma instituição que vem desancando e tentando desacreditar.

 

Não faz sentido um presidente da República, que questiona a decisão de um juiz, propondo impedimento dele porque não concorda com o seu julgamento, querer povoar o Tribunal. A ideia do capitão em pedir o impedimento de dois ministros - Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, e Alexandre de Moraes - resultou na primeira interferência medianamente bem-sucedida do amortecedor do Palácio do Planalto, Ciro Nogueira, que negociou e obteve um pedido só. O capitão cedeu: trocou dois pedidos de impeachment por um - de Moraes.

 

A desculpa apresentada pelo capitão para que o pedido de impeachment fosse feito - os mandados de busca e apreensão contra Sérgio Reis - é uma desculpa amarela. Já era do conhecimento dele que iria acontecer. Não foi uma surpresa. O Aras encaminhou o pedido ao STF no início da semana. E mesmo o PGR não teve como se negar a agir diante do absurdo dos áudios e vídeos do cantor passadista na conclamação a um levante antidemocrático. Optou pelo caminho mais brando: da busca e apreensão, quando havia gente do lado querendo que fosse pedida prisão do boquirroto com veleidades ditatoriais.

 

Veja também

 

STF repudia pedido de impeachment de Moraes apresentado por Bolsonaro

 

Fachin destaca que PF ainda vai pedir autorização do STF para apurar vazamentos

 

O capitão pagará um preço. Alto. O STF também. Vai conviver com dez ministros - ou seja o empate nas decisões -, mas reconhecendo que, neste momento, a Corte está unida em torno da defesa da institucionalidade. Portanto, pode conviver com a dificuldade de ter empate em votações, ou seja, risco de impasse. Mas, isso não deve acontecer. Os ministros estão passando por cima das idiossincrasias pessoais e doutrinárias para manter o próprio STF.

 

O gesto do capitão, considerado histórico, tanto pelo ineditismo quanto pela petulância de apresentar um pedido de impeachment contra um ministro do STF, é descarado. Uma tentativa de seguir no seu esforço de mobilização da sua tropa, que está minguando. Segue seus instintos, que miram na criação de fatos que cairão no vazio à custa de estresse da democracia. Foi assim no delírio do voto impresso, e a cada dia, ou semana, tenta uma pauta nova para alimentar os robôs das milícias digitais.

 

André Mendonça será "cordeiro" sacrificado no altar dos desvarios do capitão.

 

O advogado fiel, cuja indicação foi feita pelo capitão no dia 13 de julho, teria as credenciais para ocupar a vaga deixada pelo ministro Marco Aurélio, aposentado no dia 12 de julho. O rito de confirmação do nome do ex-AGU (advogado-geral da União) precisa de votação do Senado Federal, que inclui a sabatina na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). A decisão de pautar a sabatina é do senador Davi Alcolumbre, presidente da comissão. O senador não deverá pautar.

 

Nos Estados Unidos, o Congresso cozinhou em fogo lento um indicado de Barack Obama para uma vaga na Suprema Corte. Obama não conseguiu nomear o juiz Merrick Garland para a Suprema Corte, na vaga deixada por Antonin Scalia. O Comitê Judiciário à época, dominado pelos republicanos, nem sequer concedeu audiências ao juiz indicado para sabatiná-lo. A compensação foi dada ao juiz por Joe Biden, que o nomeou procurador-geral de Justiça.

 

Davi Alcolumbre não se inspira no Senado conservador dos Estados Unidos. Ainda que tenha ouvido apelos, nos últimos dias, para seguir com o andor de André Mendonça, o desvario delirante do capitão reformado, em pedir impeachment de Alexandre de Moraes, levou por água abaixo os argumentos de que seria o momento de acenar com boa vontade.

 

O STF não engoliu a desfaçatez. Repudiou a estultice do capitão (digo eu, estultice, não o STF) e não silenciou diante do questionamento da autonomia de julgamento de um juiz. É o tal capitão querendo ser juiz do juiz.

 

Enquanto isso, o Pacheco, presidente do Senado, tenta se equilibrar nu discurso insosso, justificando que "qualquer cidadão" pode pedir impeachment de um ministro do STF. Conversa. Quer ser visto como pacificador olímpico e conquistar o espaço de uma idealizada candidatura de terceira via para a Presidência da República. Doce ilusão. Não é moderado, é medroso mesmo.

 

Talvez Alcolumbre possa ensinar um pouco a seu sucessor.

 

 Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS no FacebookTwitter e no Instagram.

Entre no nosso Grupo de WhatApp e Telegram


*Olga Curado, colunista do UOL: Jornalista, escritora, consultora de imagem e faixa preta de Aikido. Autora de livros de comunicação e de ficção. Fundou e dirige a consultoria Curado & Associados, onde desenvolveu método de treinamento de comunicação para lideranças e um sistema de aferição de imagem pública (iVGR).

 

Fonte: UOL

LEIA MAIS
COMENTÁRIOS
DEIXE SEU COMENTÁRIO

Nome:

Mensagem:

publicidade

publicidade

publicidade

publicidade

publicidade

Acompanhe o Portal do Zacarias nas redes sociais

Copyright © 2013 - 2024. Portal do Zacarias - Todos os direitos reservados.