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27/05/2020

Caso Priscila: veja quais pontos-chave a polícia precisa esclarecer

Foto: Reprodução / Record TV

Modelo se matou ou foi morta após atirar no namorado delegado? Cena do crime, motivações e laudos precisam ser investigados para resolução do caso

São Paulo - Eventuais alterações na cena do crime, como foram feitos os disparos, laudos balísticos, necroscópicos e investigações sobre um envolvimento considerado muito rápido pela família devem ser os próximos pontos apurados pela polícia para saber se a morte da modelo Priscila de Barros foi uma tentativa de homicídio seguida de suicídio ou, na verdade, um feminicídio.

 

Delegados e delegadas com experiência em casos de homicídio e feminicídio foram ouvidos pela reportagem do R7 para entender quais aspectos ainda não foram esclarecidos. Uma investigação preliminar da polícia aponta como verdadeira a versão do delegado e instrutor de tiros Paulo Bilynskyj, baleado em seu apartamento em São Bernardo do Campo, em São Paulo, na quarta-feira (20).

 

Investigadores levantam, porém, a possibilidade de um feminicídio ter ocorrido. Hospitalizado para passar por cirurgias, Bilynskyj relatou que a namorada, a modelo Priscila, atirou seis vezes contra ele, e se matou em seguida. Apesar de ter sido encontrada com vida no apartamento em que vivam, Priscila tinha uma marca de tiro na região do peito. Levada a um hospital próximo, a modelo não resistiu aos ferimentos.

 

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A família de Priscila também questiona a versão dada pelo delegado de que ela teria se suicidado. Neste momento, a corregedoria da Polícia Civil apura as versões. “O que existe é a versão dele sobre o que aconteceu. A investigação precisa confirmar ou encontrar elementos para refutar esta versão. É um trabalho demorado”, afirmou um investigador.

 

Apesar de ainda não existirem elementos para dizer se se trata ou não de um feminicídio, uma fonte afirma que se trata de um crime passional, “motivado por paixões e pelo desejo de possuir a pessoa”. Crimes como esses, segundo ele, não apresentam uma lógica. “Por um lado, é complexo investigar pelo fato de existir uma pessoa morta, mas por outro, há todos os elementos: a arma e um ambiente fechado para a perícia."

 

Tentativa de homicídio ou feminicídio?


Investigadores afirmam que o boletim de ocorrência foi registado como tentativa de homicídio seguida de suicídio por ter sido a primeira versão dada sobre os fatos. “Mas não significa que a investigação acabou”, afirma um delegado. “Em uma investigação como essa o núcleo central é a vítima. O delegado deu a a versão informalmente, o que se caracteriza como uma primeira manifestação sobre o fato.”

 

A partir deste momento, outros aspectos devem ser levados em consideração, como as provas técnicas que estão sendo recolhidas no apartamento. A polícia investiga também trocas de mensagens entre ela, familiares próximos e o delegado.

 

Em crimes de feminicídio, delegadas afirmam que é comum a família não ter conhecimento sobre os detalhes do relacionamento e acreditar que se trata de uma relação saudável. “A educação patriarcal em que vivemos impõe essa situação em que as famílias não se conversam. É muito comum a família ficar surpresa com o resultado”, afirma a delegada.

 

Segundo ela, seria necessário entender a rotina de Priscila. “Quais os hábitos, como pensava, o histórico familiar antes dele, relacionamentos anteriores”, afirma. “Aparentemente o relacionamento dos dois era normal, mas é necessário saber se houve algum gatilho emociona. O estresse do momento com o acúmulo de uma eventual decepção anterior pode ser gerado atitudes inesperadas.”

 

Eventual suicídio


Para que se confirme a possibilidade de suicídio também é preciso esperar os laudos balísticos e necroscópicos. “É preciso saber com qual mão a pessoa atirou, se ela é destra e atirou com a mão esquerda ou vice-versa”, disse.

 

As primeiras análises afirmavam que a marca de ferimento no peito com a qual Priscila foi encontrada seria incomum para um suicídio. No entanto, todos os investigadores ouvidos pela reportagem afirmam que a localização da marca do tiro não anularia essa possibilidade. “É preciso saber o formato do buraco deixado com a entrada da balada e se teve saída da bala. Isso pode indicar se o tiro foi dado a curta, média ou longa distância”, afirmou a fonte.

 

Delegados e delegadas afirmam ainda que o tiro no peito em casos de suicídio é utilizado quando há um desejo de preservar o rosto. “É mais comum em casos de mulheres para que as vítimas não fiquem desfiguradas.”

 

O investigador cita casos que ficaram conhecidos na história, como o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, que ocorreu com um tiro no peito, e o caso da namorada do político Paulo César Farias, que também foi encontrada com uma marca de tiro no peito, na década de 1990.

 

Exames residuográficos


Os exames que indicam a presença de resíduos de pólvora nas mãos dos envolvimentos não são definitivos para a investigação, segundo investigadores e investigadoras. Priscila passou pelo teste que confirmou a presença das substâncias em suas mãos. Já Paulo foi levado imediatamente para o hospital onde teve de passar por cirurgia, o que impossibilitou a realização dos testes.

 

“Mesmo se tivesse dado positivo em ambos os casos, a argumentação seria de que os dois costumavam manusear armas, uma vez que ele era instrutor de tiros e ela fazia treinamentos”, afirma um investigador.

 

Tiros, ângulo, armas e munição


Os laudos das armas, dos projéteis e necroscópico serão fundamentais para a investigação. “é preciso saber como o corpo dela foi encontrado”, diz uma delegada. Segundo o depoimento de um policial militar que participou da ocorrência, havia oito estojos de munição e uma pistola Glock 9 mm com um carregador municiado ao lado, além de um projétil amassado no corredor.

 

De acordo com os investigadores, essa arma consegue perfurar o objeto, ultrapassar o corpo de uma pessoa atingida. A pistola não é recomendada para usos urbanos. É diferente, por exemplo de uma arma .45 que, explicam os policiais, tem a função de responder a um ataque.

 

A dúvida que até o momento não foi respondida é se ela atirou contra Paulo e depois tirou a própria vida ou se ela atirou contra o namorado e depois foi rendida por e morta por ele. “É preciso saber quantos cartuchos foram encontrados no local para saber se a informação condiz com a versão dada por ele de que teria sido dado seis tiros contra ele e um contra ela.”

 

Regiões atingidas


Baleado no dedo, perna e abdômen, Paulo passou por três cirurgias até o momento. Segundos os investigadores, os locais em que foi atingido podem fornecer pistas para a apuração. “O tiro na mão indica uma tentativa de defesa por parte dele. Utilizar a mão é a primeira coisa que a pessoa faz para se defender”, afirma uma fonte.

 

O abdômen é considerado uma região letal. “Dependendo do projétil, essa bala pode ter destruído fígado, pâncreas, intestino ou causado uma hemorragia internada”, afirma uma delegada.

 

No entanto, as fontes ouvidas não acreditam em um crime planejado. “Não acho que ela teria a frieza de dar um tiro em um alvo parado. Foi momento de desespero e descontrole. Não teria a frieza de dar tiros em locais para matá-lo.”

 

Saber o ângulo do tiro também é fundamental. “Esses indicativos a perícia têm condições de apontar. O projétil tem uma trajetória muito importante para identificar a posição da vítima.”

 

Treinamento de tiro x realidade


Outra possibilidade levantada foi o fato de Priscila ter errado os tiros que teriam sido dados contra Paulo, uma vez que ela fazia treinamentos de tiro e que o espaço físico pressupunha uma curta distância.

 

“O treinamento de tiro é super importante, mas uma coisa é atirar contra uma silhueta, outra coisa é a situação real. Mesmo com o treinamento tem policial que na hora do enfrentamento trava”, afirmou o delegado. “Ela num momento calmo poderia atirar bem, mas numa discussão não é uma premissa.”

 

Uma investigadora de polícia concorda que, durante a situação, Priscila poderia ter perdido o controle. “A pessoa em uma situação de estresse pode ter ficar muito nervosa, pode ter dúvida sobre praticar ou não o ato”, diz.

 

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Alteração da cena do crime e próximos passos


As fontes entrevistadas não descartam uma eventual alteração da cena do crime. Mas afirmam que sem o conjunto de provas não é possível afirmar se realmente houve alguma mudança. “Na condição em que estava, parcialmente sedado, talvez ele tivesse dificuldades em criar uma situação”, dizem os investigadores.

 

Agora, a polícia espera pela recuperação do delegado para que ele possa dar seu depoimento oficial sobre os fatos. Além disso, policiais militares que participaram da ocorrência também serão ouvidos. 


R7

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