19 de Abril de 2024 - Ano 10
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Internacional
05/04/2020

China sai da defensiva e reivindica liderança global contra coronavírus

Foto: Reprodução

Após uma mobilização em massa que incluiu a maior quarentena da História, país busca usar controle da epidemia como uma arma de soft power

 Enquanto o mundo toma medidas sem precedentes para frear a propagação do coronavírus, a sensação na China é de que o pior já passou. Após uma mobilização em massa comandada pelo Partido Comunista, que incluiu a maior quarentena da História, o país onde surgiram os primeiros casos da Covid-19 anunciou na semana passada o fim do pico de infecções. Quase ao mesmo tempo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretava que o surto se tornara uma pandemia.

 

A mudança de foco deu combustível para o tom triunfalista que já se esboçava na mídia chinesa, controlada pelo regime. De uma posição defensiva no início da crise, quando foi acusado de piorar a situação ao ocultar o problema, o governo chinês passou ao ataque, tentando limpar a imagem do país e promover seu modelo de gestão autoritária como o mais eficiente para enfrentar emergências.

 

A epidemia que surgiu na cidade de Wuhan na virada do ano tornou-se o maior desafio enfrentado pelo PC chinês desde os protestos estudantis da Praça da Paz Celestial, em 1989, mas o discurso oficial conta outra história, na qual o presidente Xi Jinping é o “comandante da guerra popular” na vitória contra o vírus. A narrativa de que a China virou o jogo passou a ser usada para estimular o espírito nacionalista dentro do país e, no exterior, refletir a imagem de potência global capaz de dar lições ao mundo.

 

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No início deste mês, já estava pronto um livro do departamento de propaganda do PC que exalta o sucesso do governo na guerra contra o vírus — “Batalha contra a epidemia”. O lançamento acabou cancelado, indicando que talvez fosse cedo demais para publicar uma história que ainda parece longe do fim. A narrativa heroica, porém, continuou na mídia estatal, que passou a atacar países que adotaram medidas contra a China, especialmente seu maior adversário, os EUA. A rivalidade entre as duas maiores economias do mundo ganhou um novo palco com o coronavírus.

 

A linha é de exaltação nacionalista e críticas a falhas na contenção da Covid-19 em países do Ocidente, mesmo depois de ganharem tempo para se prepararem graças às medidas na China. Na agência Xinhua, um artigo exigiu o agradecimento do mundo à China, que “sozinha, com sua própria força, barrou decididamente a epidemia”.

 

O emprego da saúde pública como veículo da ideologia oficial não é novidade na China comunista. A historiadora Zhou Xun lembra que essa diretriz, iniciada sob a liderança de Mao Tsé-tung, servia tanto no plano doméstico, como no caso dos “médicos descalços” que erradicaram doenças, como no internacional, com o envio de médicos chineses a 40 países africanos.

 

O que impressiona na atual crise é a rapidez com que a China se vê em condições de sair da defensiva como pária mundial para reivindicar a liderança no combate ao vírus. Um avião com suprimentos médicos e profissionais de saúde chineses foi enviado à Itália, e o bilionário chinês Jack Ma, dono do site de comércio eletrônico Alibaba, doou 500 mil kits de testes e um milhão de máscaras aos EUA, enquanto Xi Jinping conclama líderes mundiais a coordenar os esforços.

 

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A mutação do surto detectado em Wuhan para uma pandemia “é uma oportunidade perfeita” para o PC exercer seu “poder brando” com ajuda a outros países e reafirmar seu status de potência global, disse ao GLOBO a historiadora Zhou, nascida na província chinesa de Sichuan e pesquisadora da Universidade de Essex, no Reino Unido. Ao apresentar o combate à epidemia como uma “cruzada moral” empreendida pelo povo chinês, o governo deixa de lado os danos iniciais causados pela falta de transparência e se concentra em condenar “o horror” que ocorre fora da China.

 

O Globo

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