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04/04/2020

Coronavírus: Chegar ao pico da curva de contágio não encerra quarentena, dizem especialistas

Foto: Divulgação

A Itália foi um dos países mais atingidos pela covid-19 até agora

Em 11 de março, a Itália se tornou o primeiro país do mundo a entrar em isolamento em meio à crise do coronavírus. Hoje, são 2,8 bilhões de pessoas vivendo em quarentena.

 

Três semanas se passaram e, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, o isolamento deve continuar por mais tempo para evitar uma possível segunda onda de infecções.

 

Para eles, chegar a um pico de contágio não é sinônimo de reabertura.

 

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A bióloga e doutoranda em epidemiologia Sabrina Simon, que vive em Turim, na Itália, defende que o isolamento continue até que se pare de registrar novos casos da doença. "Se as pessoas voltarem para a rua antes de a doença ser extinta, o país volta a ter mais pessoas suscetíveis a pegar o vírus, e começa uma nova onda epidêmica", explica.

 

Até agora, autoridades de saúde dividem a população em duas categorias: suscetíveis e imunes. Como ainda não há vacina para o novo coronavírus, são considerados imunes, a princípio, os pacientes que já tiveram contato com o vírus.

 

Ao se isolar pessoas que não pegaram a doença, a ideia é que o vírus não encontre mais pacientes vulneráveis e que as infecções parem de ocorrer.

 

O pico da curva de contágio indica que um número máximo de pacientes suscetíveis já teve contato com o vírus e que, a partir daí, o Sars-CoV-2 encontrará cada vez menos vítimas. A curva em queda, portanto, indica que, mantendo-se o isolamento, as infecções devem desaparecer.

 

Mas a tendência de queda não significa a retomada imediata de todas as atividades. "O retorno deve ser muito cauteloso para evitar que a epidemia volte nas semanas seguintes", diz Sabrina.

 

Quem está imune ao coronavírus?


A imunidade é um mecanismo de resistência a infecções. Quando aparecem novos vírus, como o Sars-CoV-2, esta resposta deve ser adquirida por meio da produção de anticorpos. "Uma vez que o paciente tenha contato com a infecção, ele se torna resistente a ela", explica o imunologista Ricardo Gazzinelli, presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

 

A resistência de cada pessoa varia conforme a infecção.

 

No caso da gripe comum, por exemplo, as campanhas de vacinação são feitas uma vez por ano porque o vírus sofre transformações neste período. Outros vírus se mantêm mais estáveis e, por isso, a pessoa que já teve algum contato com ele adquire imunidade.

 

É com base nesta "memória" do corpo humano que a curva de contágio tem sido estudada. Os especialistas acreditam, baseados no primeiro vírus da Sars, em 2002, que quem já entrou em contato com o novo coronavírus não manifestará a doença no futuro.

 

"Mas nós só vamos ter certeza com a observação de quem teve a infecção", pondera Gazzinelli.

 

Para ele, a melhor forma de garantir a imunidade da população em larga escala seria uma vacina, solução capaz de gerar esta "memória" sem provocar novas infecções. "Quanto mais gente na população for imune, menos transmissões", explica.

 

Sem vacina e sem isolamento, o cenário, segundo o imunologista, seria catastrófico.

 

"Se fosse uma infecção suave, dava para todo mundo pegar e ficar imune. Mas, muitas vezes, pode ser grave. Seriam milhões de doentes e milhares de mortos. A imunidade de rebanho não funciona na base da infecção. É inadmissível ter isso às custas da infecção", afirma Gazzinelli.

 

Exame de sangue para verificar anticorpos


O governo italiano tem, hoje, seis ensaios clínicos em andamento em busca do tratamento adequado para a Covid-19. Neles, tem sido possível testar a resposta de medicamentos em voluntários humanos.

 

Em entrevista coletiva na noite de segunda-feira (30), o presidente do Conselho Superior de Saúde da Itália, Franco Locatelli, informou que um deles é um teste sorológico para o novo coronavírus: um exame de sangue capaz de definir quantos indivíduos em determinada região já apresentam anticorpos no sangue.

 

"Vamos entender a difusão do coronavírus e ganhar informações sobre a imunidade de rebanho, usando dados sólidos para elaborar estratégias fundamentadas que possam reabrir as atividades econômicas do país", disse.

 

Os primeiros testes começaram a ser feitos nesta semana com os 54 mil servidores da saúde da região Vêneto.


O problema deste exame de sangue é que a produção de anticorpos para o novo coronavírus pode ser lenta em relação ao momento do contágio.

 

Ou seja, uma pessoa infectada pode ter desenvolvido anticorpos e ainda ter o vírus no corpo. E pode, portanto, contagiar outros indivíduos, segundo estudos técnicos anunciados durante a semana tanto pela Associação Italiana de Microbiologistas Clínicos quanto por Giulio Gallera, secretário de Saúde da região mais afetada pelo vírus, a Lombardia.

 

Desta forma, o resultado do teste seria confiável dentro de uma pesquisa epidemiológica ampla, por exemplo, mas não serviria para o diagnóstico de um indivíduo. Na Itália, o exame considerado seguro é feito com a análise da mucosa da faringe, onde se pode identificar a presença do vírus, não do anticorpo.

 

Quando acaba a quarentena?


Assim, chegar ao pico do contágio não levará automaticamente ao fim da quarentena e do isolamento social.

 

O governo italiano tem evitado fazer previsões públicas de quando a curva de contaminação no país chegará ao pico. Nesta sexta-feira (3), o chefe da Defesa Civil, Angelo Borrelli, disse ao canal estatal Rai 1 "acreditar fortemente" que a quarentena poderá ser estendida até 1º de maio. "A situação agora aparenta estar estável, precisamos ver quando começa a diminuir.

 

Não quero dar datas, mas daqui até 16 de maio poderemos ter dados positivos que nos aconselhem a retomar as atividades e começar a fase 2", declarou.

 

O governo chama de "fase 2" a reabertura gradual do comércio, desde que garantindo a distância de um metro entre clientes. Escolas, academias e cafés ficariam no fim da fila, devido à ameaça de contágio causada pela proximidade dos alunos e clientes.

 

Oficialmente, o confinamento e o fechamento das atividades não essenciais em toda a Itália vai até 13 de abril, logo após a Páscoa, o que representa um adiamento em 10 dias em relação ao primeiro decreto que colocou o país em quarentena. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, em entrevista coletiva por teleconferência, na última quarta-feira (1º).


Durante a entrevista, ele voltou a apelar para que a população fique em casa. "Se começarmos a afrouxar as medidas, todos os esforços podem ter sido em vão, então pagaremos um preço muito alto, além do custo psicológico e social. Seríamos forçados a recomeçar", disse o premiê.

 

A preocupação, segundo Sabrina Simon, é que a Itália esteja mais suscetível à volta da Covid-19 no momento em que as fronteiras sejam reabertas. "Dependendo de quantas pessoas voltarem, a segunda onda [de contaminações] pode vir muito pior", explica. "Se chegar outra pessoa com o vírus à Itália, começa mais uma curva epidêmica, como ocorreu na primeira vez."

 

O epidemiologista Gianni Rezza, chefe do departamento de doenças infecciosas do Instituto Superior de Saúde da Itália, chegou a defender que as estratégias de contenção fossem feitas de forma simultânea em toda a União Europeia, mas a medida não foi tomada.

 

A importância de ficar em casa


Todas as projeções dos epidemiologistas para a Itália são baseadas em um contexto no qual a população respeite as regras rígidas de isolamento social.

 

Segundo Sabrina Simon, isolar apenas os grupos de risco não ajuda a conter a doença. "Esse tipo de medida não faz sentido. Os idosos morrem mais, mas todo mundo transmite. O vírus não identifica quem é idoso, quem é criança", explica.


"No ponto que está o Brasil, tenho tudo para acreditar que a epidemia será a pior do mundo", diz Sabrina.

 

O imunologista Ricardo Gazzinelli também critica o isolamento parcial da população: "O problema é que o grupo de risco acaba tendo mais contato com o vírus. Se, por exemplo, uma criança que vive com os avós volta às aulas, ela pode pegar coronavírus e transmitir para os mais velhos".

 

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Os especialistas ouvidos pela reportagem também demonstram preocupação com o sistema de saúde de países que não optarem pelo isolamento completo. "Os efeitos indiretos são enormes", diz Gazzinelli. "O número alto de infecções leva a uma sobrecarga que dificulta o atendimento para todos, até quem não tem coronavírus."

 

R7

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