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01/11/2020

Estudo conta história de 'bruxas' do interior de São Paulo acusadas de matar homem com feitiços. VEJA

Foto: Reprodução

Filóloga e pesquisadora da Universidade de São Paulo, Narayan Porto, estudou documento do século 18 que acusou mãe e filha, de Jundiaí (SP), de matar um homem usando feitiçaria.

 Poções, caldeirão, vassoura mágica e uma gargalhada assustadora. A imagem das bruxas é bastante conhecida no mundo da fantasia. Já no mundo real, mais especificamente há três séculos e no Brasil Colônia, não era bem assim e virou até motivo de acusações e condenações.

 

A Narayan Porto é uma das pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP) que passou a estudar justamente sobre as "bruxas paulistas" do século 18 em seu mestrado.

 

Segundo ela, durante a graduação em Letras, um professor que lecionava filologia mencionou sobre o projeto "Bruxas Paulistas", feito por pesquisadores da universidade, o que a instigou a querer estudar o tema.

 

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Mas a pesquisa foi impulsionada ainda mais depois que documentos foram encontrados na Cúria Metropolitana de São Paulo relatando acusações de bruxaria de duas mulheres de Jundiaí, interior paulista.

 

A  pesquisadora explicou que o documento estudado no ano passado passou a fazer parte do projeto. Se trata de um manuscrito original de 1754, o qual relata sobre a Justiça Eclesiástica de Jundiaí ter recebido as rés Thereza Leyte e Escholástica Pinta da Silva, respectivamente mãe e filha.

 

"Feitiçaria Paulista" é um projeto de pesquisa desenvolvido por pesquisadores da USP — Foto: Divulgação/Jornal da USP

 

Conforme o manuscrito, as duas foram acusadas de terem feito pacto com o demônio e matado o primeiro marido de Escholástica, Manoel Garcia, com feitiços.

 

A pesquisadora conta que os estudos mostraram que a acusação de que elas teriam matado Manoel usando feitiçaria saiu apenas após a morte e tudo indica que família do morto foi a responsável por articular toda a acusação.

 

Nos documentos, Narayan explica que foi mencionado que Escholástica teria causado feridas nas pernas do marido apenas ao tocar nele, e o deixado cego ao tocar os olhos dele.

 

Também foi documentado que Manoel teria ficado enjoado ao comer comida e que teria sido encontrado um sapato enterrado com pedaços de camisa que pertenceriam a ele.

 

"Existia uma disputa, pois o Manoel morreu sem deixar nenhum testamento. Ele tinha alguns escravos indígenas, só que ele morreu e não deixou nada escrito. Então, para quem iriam esses escravos? Aí os parentes dele articularam tudo isso, contrataram um feiticeiro escravo, de origem africana, chamado Francisco, para levantar boatos contra essas mulheres", explicou Narayan.

 

 

 

De acordo com a pesquisa, na época era comum as pessoas acusarem outras de feitiçaria como estratégia para eliminar alguém que você não gostava, como inimigos, por exemplo. No caso de Escholástica e Thereza, se as duas fossem mortas pelo Santo Ofício, elas seriam eliminadas e o caminho estaria livre para os parentes do falecido.

 

"Quando se levantava uma denúncia, ouvia-se testemunhas, e se a questão fosse resolvida aqui, tudo bem. Se achassem que o caso deveria ser encaminhado ao Santo Oficio Português, aí sim a pessoa seria encaminhada para Portugal. Lá, o réu seria preso, interrogado, torturado e uma sentença seria aplicada", explicou a pesquisadora.

 

Porém, ao contrário do desejado pela família de Manoel, mãe e filha não foram julgadas culpadas. Segundo Narayan, a influência da família foi fundamental para que a acusação não terminasse em morte para ambas.

 

"O pai da Escholástica, marido da Thereza, quando começou o boato, mandou prender o escravo e feiticeiro Francisco por levantar esses boatos e ele foi açoitado em praça pública. Ou seja, a família era muito influente e conhecida na cidade. Existia essa hierarquia."

 

"O marido da Theresa era juiz ordinário da Vila de Jundiaí, ou seja, ele tinha uma influência na sociedade. Então, quando esse escravo começa a soltar esse boato, é ordenado que esse feiticeiro fosse açoitado no pelourinho da vila e depois devolvido ao dono dele. Mas essa punição ocorreu não pela fama de feiticeiro, foi por ter mexido com as duas, que são duas mulheres inseridas num contexto de poder", pontuou.

 

Por trás da feitiçaria

 


O principal delito perseguido pela Justiça Eclesiástica no século 18 eram as práticas supersticiosas, as chamadas feitiçarias, segundo apontou a pesquisadora. Era preciso muito pouco para que uma pessoa fosse acusada de feitiçaria na época, principalmente pela influência da religião.

 

"Se a pessoa buscava ervas, tratamento alternativo, além de Deus, já está errado. Esse esteriótipo de feiticeira caía muito mais sobre as mulheres do que os homens. Para ser considerada bruxa, bastava ser mulher. Temos a imagem do feiticeiro, mas ele passava muito mais a visão de curandeiro. A mulher não, ela era a bruxa', disse Narayan.

 

Ela também explicou que as palavras "bruxa" e 'bruxaria' não eram utilizadas na época, mas sim 'feitiço' e 'feiticeiras', pois "bruxa" passou a ser reproduzida séculos depois.

 

Em um vídeo, feito e publicado pelo Jornal da USP, Narayan explica um pouco sobre a pesquisa e todos os aspectos envolvendo o estudo 'Feitiçaria Paulista' que abordam as acusações de bruxaria no interior paulista.

 

Para ela, o estudo da documentação veio com a intenção de resgatar uma informação que estava, provavelmente, esquecida.

 

A palavra 'feiticeira' era utilizada para denominar mulheres com crenças supersticiosas ou qualquer outra ação que afrontasse a fé cristã — Foto: Reprodução/Jornal da USP

Fotos: Reproduções

 

"Essa pesquisa vem mostrar para as pessoas que isso faz parte da nossa história. Para nós termos informações do Brasil Colônia, da São Paulo colonial e, agora, do interior".

 

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G1

 

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