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Internacional
22/07/2020

EUA ordenam fechamento de consulado chinês em Houston, e China promete retaliação

Foto: Reprodução

Governo americano alegou

A deterioração contínua das relações entre China e Estados Unidos, as duas maiores potências econômicas globais, deu um novo salto para pior nesta quarta-feira, quando Washington deu a Pequim 72 horas, que expiram na sexta-feira, para fechar seu consulado em Houston, no Texas. As razões para essa ordem abrupta, de grande peso diplomático, não são claras: o Departamento de Estado ligou a medida a supostas atividades de espionagem chinesa nas áreas militar e científica, afirmando que busca "proteger a propriedade intelectual americana e as informações privadas dos americanos". Mas não deu detalhes específicos.


A medida ocorreu horas depois de uma acusação lançada pelo Departamento de Justiça dos EUA contra dois cidadãos chineses por supostamente hackearem empresas terceirizadas do setor de Defesa e pesquisadores de uma vacina para o novo coronavírus. O Ministério das Relações Exteriores da China chamou a ordem americana de "provocação política" e prometeu "a retaliação necessária" se o governo de Donald Trump não decidir recuar no fechamento do consulado.

 

Além da alusão à proteção à propriedade intelectual, a porta-voz do Departamento de Estado Morgan Ortagus sublinhou durante uma visita do secretário de Estado, Mike Pompeo, a Copenhague que “a Convenção de Viena diz que os diplomatas devem respeitar as leis e regras do país anfitrião e têm o dever de não interferir nos assuntos internos desse Estado”.

 

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— Estamos estabelecendo expectativas claras sobre como o Partido Comunista Chinês deve se comportar — disse Pompeo. — E quando eles não o fazem, agimos para proteger o povo americano, proteger nossa segurança e também proteger nossa economia e empregos.

 

Mais tarde, David R. Stilwell, responsável pelo Leste Asiático e o Pacífico no Departamento de Estado americano, descreveu o consulado como o "epicentro" do suposto roubo de pesquisas americanas, mas também não deu detalhes.

 

A ordem de fechamento não é a primeira que os Estados Unidos impõem a outro país — em 2017, ordenaram o fechamento do consulado russo em San Francisco, em retaliação a restrições ao número de diplomatas americanos em Moscou —, mas é a primeira contra a China. O consulado de Houston tem o simbolismo de ser o primeiro que foi inaugurado quando os dois países restabelecerem relações diplomáticas plenas, em 1979. Ele tem 60 funcionários e atende 900 mil chineses residentes no sudeste dos Estados Unidos.

 

Além dele, há mais quatro consulados chineses nos Estados Unidos — em Nova York, Chicago, São Francisco e Los Angeles.

 

Segundo a filial de Houston da emissora NBC, os bombeiros foram na noite de terça-feira ao consulado chinês, horas depois da ordem de fechamento, porque papeis estariam estavam sendo queimados em barris no pátio do edifício. No Twitter, a polícia local disse que se via fumaça, mas as autoridades consulares chinesas não permitiram a entrada no prédio, que, como todas as missões diplomáticas, é considerada território estrangeiro.

 

— Imagino que estivessem queimando documentos e papeis — disse Trump na noite de hoje.

 

Em Pequim, a Chancelaria chinesa disse que o consulado funciona normalmente. Segundo a agência Reuters, em retaliação a China estuda fechar o Consulado dos EUA em Wuhan — “irmão” do de Houston. Esta missão está sem funcionários americanos, retirados no início da pandemia do novo coronavírus, o que seria outra explicação para o fato de a representação chinesa em Houston ter sido escolhida.

 

A ordem de fechamento irritou Pequim. Especialmente devido ao curto espaço de tempo para a interrupção das operações e a saída dos diplomatas estacionados em Houston, ela representa uma escalada "sem precedentes" na tensão entre as duas potências, afirmou Wang Wenbin, porta-voz da Chancelaria chinesa, expressando-se em termos ainda mais vigorosos do que o habitual quando se trata de reações a ações americanas.

 

— A China condena nos termos mais fortes essa medida escandalosa — disse Wang, acrescentando que a ordem é "uma violação das normas internacionais e acordos consulares entre os dois países, bem como uma tentativa de minar as relações bilaterais".

 

Wang acusou os EUA de assediarem funcionários diplomáticos e de intimidarem estudantes chineses nos EUA, confiscando seus dispositivos eletrônicos pessoais e detendo-os sem justa causa. Missões e pessoal diplomático chineses também receberam recentemente ameaças de bomba e morte, acrescentou Wang.

 

— A Embaixada dos EUA em Pequim também costuma publicar artigos atacando a China. Deve ficar claro quem está intervindo e se infiltrando na política interna de outros países e quem está começando as brigas — disse o porta-voz.

 

Mais tarde, outra porta-voz da Chancelaria chinesa, no Twitter, ligou os EUA diretamente a essas ameaças. "Como resultado do ódio espalhado pelo governo dos EUA, a embaixada chinesa recebeu ameaças de bomba e de morte", publicou Hua Chunying.

 

A decisão tem como pano de fundo os choques crescentes entre Washington e Pequim em várias frentes, da epidemia da Covid-19 à lei de segurança nacional imposta por Pequim a Hong Kong, das reivindicações territoriais chinesas no Mar do Sul da China às ações americanas contra a gigante tecnológica chinesa Huawei. O confronto com a China tornou-se um dos principais motes da campanha à reeleição de Trump, mas muitas das posições da Casa Branca são compartilhadas por seu rival democrata, Joe Biden.

 

As autoridades chinesas também acusaram os EUA de "calúnias", depois que os dois chineses — Li Xiaoyu, de 34 anos, e Dong Jiazhi, de 33 — foram acusados dos supostos ciberataques a empresas envolvidas na busca de uma vacina contra o novo coronavírus. Segundo o Departamento de Justiça americano, ambos são hackers que trabalhariam com o Ministério da Segurança chinês.

 

Em comunicado, o governo chinês já havia refutado as acusações contra os dois, dizendo que "infiltração e interferência nunca estiveram nos genes e na tradição da política externa da China". Li e Dong não foram detidos e estariam na China atualmente.

 

Em dezembro, Washington expulsou dois diplomatas chineses do país, suspeitos de espionagem, depois de detectá-los nas proximidades de uma base militar no estado da Virgínia. O então porta-voz da Chancelaria chinesa, Geng Shuang, negou as acusações, que considerou "completamente contrárias aos fatos".

 

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— Se as relações entre China e os Estados Unidos continuarem a se deteriorar sem que se ponha um fim nisso, o resultado será o rompimento das relações diplomáticas — disse Cheng Xiaohe, professor-associado da Escola de Relações Internacionais da Universidade Renmin, em Pequim, ao New York Times.

 

O Globo

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