Com doações e usando experiência de combate em Cabul, americano coordenou ação de resgate com aviões comerciais alugados que retiraram mais de 500 pessoas do Afeganistão na última semana.
A história do ex-militar norte-americano Chris Robishaw parece filme. Por 30 anos, e?le foi membro das Forças Especiais dos Estados Unidos, participou de missões secretas, lutou em várias guerras e, para quem conversa com ele, até lembra fisicamente o personagem Rambo -- sem a faixa na cabeça e com alguns centímetros a menos. "O Sylvester Stallone também é baixo", brinca o militar, gostando da comparação com o ator que interpretou, na ficção, um boina verde como ele.
Assim como o astro das telas, Robishaw criou uma operação mirabolante e arriscada. Usou sua experiência fruto de seis passagens pela ocupação do Afeganistão para, ao lado de outros ex-combatentes, montar uma missão "paralela" de resgate de afegãos.
E, enquanto outros ex-militares e espiões criaram projetos parecidos, mas cobrando pela passagem, a ideia dele foi resgatar pessoas gratuitamente, de forma puramente humanitária, usando alguma brecha na pista do Aeroporto Internacional Hamid Karzai, em Cabul, onde ontem, após uma corrida frenética de resgates nos últimos 16 dias, o último avião norte-americano se despediu de uma guerra de 20 anos, deixando o país nos braços do Talibã.
Veja também
Biden defende saída do Afeganistão: 'Era hora de encerrar essa guerra'
À equipe da TV Globo em Bahrein, base da operação, ele conta que o plano foi encampado pela organização não-governamental americana Ark Salus. A proposta era alugar aviões comerciais, chamar pilotos aposentados e usar uma rede de contatos para abrir espaço na pista do aeroporto afegão, criando uma ponte aérea particular, alheia a qualquer governo, para salvar especialmente as famílias e os soldados afegãos que lutaram, ombro a ombro, com o americano e seus colegas.
Uma rede de voluntários se uniu para, em reuniões on-line, discutir formas de ajudar a selecionar os candidatos a passageiros, checando documentos, obtendo permissões, guiando o caminho até o aeroporto e criando uma lista de embarque. A imprensa internacional noticiou que mais de US$ 10 milhões foram arrecadados em doações -- não se sabe de quem.
Era uma aposta arriscada, que ainda dependia de outro trunfo: convencer o governo do Bahrein, arquipélago colado à Arábia Saudita e governado por uma dinastia rígida, a receber os refugiados, após uma viagem de três horas.
Mais do que lutar pelo abrigo das pessoas e pelo apoio logístico, o desafio seria enfrentar a resistência dos países da região a tomarem publicamente uma posição neste momento -- posição que, no caso do apelo feito por Robishaw, significaria passar a mensagem de que o Bahrein estava ajudando a salvar pessoas do Talibã, grupo temido e que passará a ser um novo ator importante na região, de poder e influência indefinidos.
Americano Chris Robishaw mobilizou operação de resgate privada
para tirar afegãos de Cabul (Foto: TV Globo)
O americano conta que as autoridades do Bahrein, comandadas pelo xeique Mohamad Hamad Mohamad Al-Khalifa, aceitaram ajudar, desde de que forma silenciosa. Houve uma autorização para que a base militar ISA, no deserto do país, onde também funciona um posto dos EUA, recebesse os aviões da Ark Salus. Feito o acordo, a missão de cinema começou a sair do papel, pelo menos por algum tempo.
No total, Robishaw afirma que organizou quatro voos saindo de Cabul para o Bahrein na última semana. Disse ainda que conseguiu salvar cerca de 650 pessoas do Afeganistão. "Nossa esperança era estender o tapete vermelho para as pessoas que, pouco antes, estavam na porta de entrada da morte e punição pelo Talibã", disse ele, em entrevista ao G1, no Bahrein.
Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS no Facebook, Twitter e no Instagram.
O plano inicial, de resgatar militares afegãos e suas famílias, não deu certo. Na hora do embarque, a confusão dominou. E embarcou quem apareceu primeiro, sem o critério imaginado. Segundo ele, quem participou da missão está tão traumatizado com o que viu que nem conseguiria dar uma entrevista.
Fonte: G1