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10/01/2020

Glamour Garcia: 'Não quero cair em um processo de vaidade extrema para sempre'. VEJA FOTOS

Foto: Ícaro Cerqueira

Glamour Garcia

Trabalhada no ‘close’ e no ‘carão’, Glamour Garcia brilha por onde passa. A atriz transgênero, que recentemente foi eleita revelação no troféu Melhores do Ano por sua atuação como Britney em A Dona do Pedaço, recebeu a reportagem em seu quarto de hotel, em Salvador, para uma conversa franca em que contou que, apesar dos louros atuais, seu caminho foi de pedras pontiagudas.

 

Nascida em Marília, no interior de São Paulo, Daniela – que nasceu Daniel, mas desde sua adolescência decidiu ser chamada pela identidade a que se entendia – tem sorriso largo e fala com tranquilidade sobre o sucesso como atriz trans em um país tão preconceituoso.

 

“O que mudou, para mim, como ser humano, para a Daniela Glamour e não só a Glamour Garcia, foi de sair de um patamar de artista conceitual e me tornar uma celebridade. O susto foi grande, porque nem a própria empresa [TV Globo], nem o Walcyr Carrasco (autor da novela) esperavam o grande sucesso que a personagem fez de imediato. Todo mundo torcia para este sucesso, mas ele ultrapassou as expectativas de uma forma que ela acabou se tornando uma das preferidas do público”, explica.

 

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Para Glamour, o sucesso de Britney aconteceu especialmente pelo fato de a personagem ter sido construída de maneira natural para gerar identificação com o público.

 

“Ela acabou se tornando a mocinha. Tinha esse lado romantizado, não tinha falha de caráter, de índole. Era uma menina apaixonada. Essa aceitação do público aconteceu não só com as mulheres ou não só com a comunidade LGBT, mas com todo mundo que se reconhece nela nesse lugar de alguém que está batalhando, sonhando, idealizando”.

 

Glamour Garcia é a Capa da Semana da Quem (Foto: Ícaro Cerqueira/ Ed. Globo)

 

 Apesar de fazer sucesso entre os fãs, Glamour revelou que não foi tão simples assim aceitar a fama. Quando Britney estourou e ela passou a ser reconhecida na rua, sua primeira reação foi se retrair. “Eu perdi a minha privacidade, me tornei uma pessoa pública e tomei um susto gigantesco.

 

 

Minha primeira reação foi uma depressão, porque antes conseguia fazer tudo normalmente, e de repente não conseguia mais. Com o tempo aprendi a me desdobrar no dia a dia, mas demorei meses a voltar a ir ao mercado tranquilamente, a comprar um pão. Quando digo ‘tranquilamente’, digo ‘eu estar bem ao ponto de saber lidar com o público’. De ser a Daniela e não apenas a Glamour”, diz.

 

Glamour Garcia é a Capa da Semana da Quem (Foto: Ícaro Cerqueira/ Ed. Globo)

 

 Hoje em dia, no entanto, a atriz mostra que entende um pouco melhor o que a fama a trouxe. Em Salvador, por exemplo, caminhou tranquilamente por vários pontos turísticos, como Pelourinho, Ladeira do Carmo e Praia do Amado, sempre com sorriso no rosto.

 

Após a sessão de fotos, ainda chegou animada para um almoço no restaurante Casa de Tereza, que fica no bairro Rio Vermelho, e se deliciou com a culinária típica local.

  

SUCESSO REPENTINO

 

Glamour Garcia é a Capa da Semana da Quem (Foto: Ícaro Cerqueira/ Ed. Globo)


A história de Daniela Machado começou em 2003, em Marília, na escola. Com ajuda de uma professora formada em Artes Cênicas pela Escola de Artes da USP, ela criou um grupo de teatro chamado MedArtes.

 

Paralelo ao teatro, ela conta que decidiu, na época, criar um Fotolog (blog de fotos) para falar sobre a sua vida pessoal e a vida de famosos. Este espaço foi chamado de Glamour Garcia e ela entendeu que este também deveria ser o seu nome artístico, posteriormente.

 

“Todo mundo achava que o nome prejudicaria a minha carreira, que isso não era nome de artista. Mas este era, inconscientemente, um movimento pessoal de contemplação da minha vida, de viver literalmente a minha transexualidade. Só hoje percebo que de uma maneira muito intuitiva, já estava fazendo isso”.

 

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Apesar de Glamour ter uma longa trajetória dentro do teatro, o sucesso e a fama aconteceram de maneira súbita, mudando toda a rotina de Daniela, que não esperava as dificuldades do “ser famosa”.

 

“Hoje, eu me sinto liberta. Mas eu estava me sentindo sufocada, porque a visibilidade é muito grande”, explicou, garantindo que não se sentia exatamente julgada. “Eu perdia a paciência. Era muita gente acessando, muita gente o tempo todo e não tem como. Às vezes eu só queria ser a Daniela. Sair na rua, tomar uma água de coco, ir à farmácia. Não é uma resistência contra o público e tampouco uma fobia social”, explica.

 

Glamour Garcia é a Capa da Semana da Quem (Foto: Ícaro Cerqueira/ Ed. Globo)

 

O sucesso e aceitação de Glamour na TV com Britney foi tanto que a atriz garante não ter vivenciado nenhum tipo de aversão à sua pessoa pública até então. Nem mesmo na internet. Para ela, essa devolutiva foi um presente. No entanto, afirma que se mantém sóbria com relação aos fãs, porque entende que alguma parte deles se mantém curioso pelo fato de estar lidando e conhecendo uma pessoa trans bem sucedida.

 

“A gente vive em um país que é machista, misógino, fetichista. Eu virei o prato cheio de tudo isso. A forma como algumas pessoas acessavam a mim, começou a ser pesado e forte demais. Claro que eu sei que a gente se torna um objeto. Eu sei disso, mas para mim aconteceu neste momento, quando vi que algumas pessoas não tinham respeito, mesmo. E até hoje, não tem. Mas hoje, já aprendi a lidar”.

 

Glamour tem consciência que o assédio acontece por conta de sua atuação impactante como Britney em A Dona do Pedaço. No entanto, ela garante que tenta manter os pés no chão para que o sucesso não suba à cabeça. “Não quero cair em um processo de vaidade extrema para sempre. Eu quero conseguir ficar humilde, de continuar sendo a artista que sou”.

 

Glamour Garcia é a Capa da Semana da Quem (Foto: Ícaro Cerqueira/ Ed. Globo)


Como Daniela, antes de se tornar Glamour Garcia, a atriz viveu muitas situações de preconceito por conta de ser uma pessoa transexual. Hoje, com todo o sucesso, se tornou ícone para a comunidade LGBTQIA+ e uma esperança para muitos.

 

Segundo a ANTRA, Associação Nacional de Travestis e Transexuais, no Brasil, por conta da violência, a estimativa de vida de uma pessoa transexual é de 35 anos de idade; Glamour lamenta que, por isso, muitas não conseguem entender a sua transexualidade em vida. “Essas coisas não calam dentro da gente e não vão se calar nunca, pelo menos dentro de mim. Acho que não é só a questão da injustiça.

 

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É a destituição dos direitos básicos. Essa destituição dos direitos básicos faz com que a sociedade seja conivente com os crimes mais hediondos, com as formas de expressão mais horrorosas que existem. Tudo isso para dizer que o que acontece é a violência de morte contra a população LGBT. Principalmente contra a população trans. Ser um ícone, para mim, não é superação e nem vitória.

 

É uma alegria. É uma alegria saber que uma pessoa como eu hoje tem um espaço não só para se realizar como profissional e artista, mas ter o espaço de poder literalmente trazer felicidade para as pessoas”.

  

VOZ E MILITÂNCIA

 

 Glamour Garcia é a Capa da Semana da Quem (Foto: Ícaro Cerqueira/ Ed. Globo)

 

“Quero capacitar o meu discurso. As poucas oportunidades que tive dentro dos grupos ajudaram a construir a mulher que eu sou, a atriz que eu sou. Isso foi importante para que eu me humanizasse. E que humanizasse também as histórias que acabei vivenciando. Acontece um processo de desumanização grande, e com pessoas trans isso é enorme.

 

O processo de transfobia da sociedade brasileira é terrível. Não é apenas o fato de não ter direito ao nome ou à escolaridade, formação profissional. É não ter direito à vida. Enquanto você está vivo, toda a sociedade te impele ao suicídio. A partir do momento que está desprotegida como cidadã, a violência de morte se aproxima mais. Essa é uma luta pessoal minha. Eu mesma já fui violentada, no sentido de ser uma pessoa LGBT. E não é só injusto, é brutalmente cruel”.

 

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A atriz ainda enfatiza que pretende ajudar a população a entender que o preconceito sempre foi criado dentro da sociedade. “Isso é histórico e culturalmente construído. Ninguém é transfóbico. Ninguém é misógino. Ninguém é racista. Isolado do mundo e da cultura que nos cria, nenhum de nós é nada disso”, desabafa, pontuando que para a comunidade trans a situação é ainda pior, porque existe uma conivência com os atos de violência.

 

“A sociedade não só vela isso, ela simplesmente oculta da pior forma possível. Oculta quando a gente não vai entender quando uma pessoa trans passou pela violência. ‘Ah, morreu a travesti?’. Acabou!. Não sai nem nota no jornal. Oculta quando deixa o crime impune. Não é oculta de esconder, é de ser conivente, permissiva”.

 

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Glamour Garcia é a Capa da Semana da Quem (Foto: Ícaro Cerqueira/ Ed. Globo)

Fotos: Ícaro Cerqueira

 

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