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Mulher
20/06/2021

Isabel Allende: 'Será um salto evolutivo quando o patriarcado for substituído por um sistema em que homens e mulheres sejam iguais'

Foto: Reprodução

A chilena Isabel Allende, escritora de língua espanhola mais lida do mundo

A escritora chilena Isabel Allende tem uma vitalidade invejável aos quase 79 anos. A tranquilidade que experimentou na quarentena lhe deu a oportunidade de publicar um livro, escrever outro e começar um terceiro. Isso enquanto leva adiante sua fundação que ajuda mulheres e uma série de TV reconta sua vida.

 

— Como escritora, a pandemia tem sido uma oportunidade de ter tempo, silêncio e solidão, que são três coisas que nunca obtemos. Temos que lutar por elas com uma faca entre os dentes — diz Allende, entre risadas, em entrevista à agência de notícia Reuters, via zoom, de sua casa na Califórnia, onde tem estado "em lua de mel eterna" com o novo marido e os cachorros dos dois.

 

A escritora viva mais lida da língua espanhola, autora de 25 livros traduzidos para 42 idiomas, publicou em 2020 "Mulheres da minha alma", um ensaio sobre sua relação com o feminismo, um movimento que ela diz defender inconscientemente desde a infância depois do abandono do pai e da luta de sua mãe para seguir adiante com três filhos pequenos.

 

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Agora, diante de movimentos feministas de massa, como o "Ni Una Menos", na América Latina, e o #MeToo, nos EUA, ela se entusiasma com as novas gerações que continuam a luta que ela e outras fizeram nos anos 1960 e que incluem demandas de outros grupos como o LGBTQIA+ e o Vidas Negras Importam.

 

— Por um tempo, eu tinha a sensação de que o movimento feminista estava parado, que a luta das avós e das mães tinha avançado em muitos aspectos mas que havia pouco entusiasmo da parte das mulheres jovens, mas acho que, agora, vem esta nova onda com uma força tremenda das mulheres nas ruas convidando outros grupos.

 

Ela continua:

 

— Tenho esperanças de que o patriarcado será substituído por um sistema de mundo em que homens e mulheres sejam iguais, tomem as decisões e que os valores masculinos e femininos tenham o mesmo peso na sociedade. Nesse momento, teremos dado um salto evolutivo para um outro tipo de sociedade — afirma.

 

Política, série e livros

 

O feminismo é uma revolução', diz a escritora Isabel Allende ao apresentar  seu novo livro - Cultura - Estadão

 

Os primeiros 50 anos de vida da autora de "A casa dos espíritos" e "Eva Luna" são retratados na série de TV "Isabel", que estreou recentemente na América Latina e na Espanha na plataforma Amazon Prime Video. Allende não participou da produção, mas facilitou o acesso a fotos e vídeos.

 

A série em três episódios de uma hora cada aborda a morte de sua filha Paula, aos 29 anos, em consequência da porfíria, doença resultante do acúmulo de porfirina, substância que ajuda a hemoglobina no transporte do oxigênio no sangue. A série também retrata a infância de Allende, o início de sua carreira como jornalista no Chile, seu exílio na Venezuela depois do golpe dado por Augusto Pinochet e a publicação de seus primeiros romances.

 

— A primeira cena em que Paula sai do hospital me fez mal e eu não pude seguir vendo a série. Então comecei a vê-la de novo com o meu marido e disse a ele: "Vamos pular esta cena e começar um pouco mais adiante para que eu possa ver a série. Eu vi tudo, mas meu filho não conseguiu porque o abalou muito — conta Allende, sobre o filho Nicolás.

 

A escritora vive há quase 30 anos nos EUA, onde questionou duramente a política migratória do ex-presidente Donald Trump. Ela espera que o governo do democrata Joe Biden possa mudar o cenário, mas considera que ele enfrenta obstáculos grandes.

 

— Acredito que vai mudar em parte. Pelo menos não vão separar crianças de seus pais e não irão colocá-las em jautas. Trump desmantelou completamente o sistema de asilo político e o que Biden está fazendo para consertar o horror deixado por seu antecessor encontra resistência dos juízes nomeados por Trump, que são a última instância — explica Allende.

 

Ela continua:

 

— Além disso, o extraordinário é que isso vai contra as estatísticas. Sabe-se que os imigrantes trabalham muito mais por menos dinheiro e pagam seus impostos. Há muito mais crime entre quem vive aqui, que são os que compram armas e matam pessoas, do que entre os imigrantes — conclui.

 

Allende tem observado também o processo que vive atualmente o Chile depois das manifestações nas ruas em 2019 e do acordo alcançado este ano para modificar a Constituição do país, que ainda é a mesma da ditadura militar comandada por Pinochet entre 1973 e 1990, e redigir uma nova carta por parte dos representantes constituientes eleitos, a maioria deles de esquerda.

 

A escritora, que é sobrinha do ex-presidente socialista Salvador Allende, que foi deposto pelo golpe de Pinochet, acredita que o impulso reformista chileno não é um eco do projeto de seu tio porque "não é o mesmo mundo nem o mesmo país".

 

50 anos do Chile de Salvador Allende

 

— Acho que as reformas mais fortes que o povo quer não serão possíveis. O que é possível é a inclusão de todos os grupos, por exemplo, os indígenas e sobretudo as mulheres, que vão ter 50% da representação em todos os âmbitos — diz Allende, com voz pausada e firme.

 

Ela diz que não se sabe qual será o resultado final da Constituição que será feita no Chile.

 

— Não se trata de acabar com o capitalismo, como alguns pensam, mas de que certas coisas básicas voltem a ser do governo como, por exemplo, á água potável e as aposentadorias, a saúde e a educação — reflete.

 

Allende, que já vendeu mais de 75 milhões de livros em todo o mundo, prevê publicar um novo romance em fevereiro, com o título "Violeta" e já trabalha em um novo livro, que precisa de uma pesquisa maior.

 

Em novo livro, Isabel Allende narra fuga de espanhóis com ajuda de Neruda |  Exame

Fotos: Reproduções

 

— "Violeta" é a vida de uma mulher que está morrendo por causa da pandemia que vivenciamos agora e recorda sua vida. Ela nasceu em 1920, que foi quando a pandemia da gripe espanhola chegou ao Chile. Então é sua vida entre as duas pandemias — conta a escritora. — é também um tempo e, nesse sentido, posso dizer que é um romance quase histórico porque é uma parte importante do século XX, de como vivemos na América do Sul.

 

Allende diz que é disciplinada, organizada e pontual. Ela passa grande parre de seus dias escrevendo.

 

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— Se tenho um livro ou um projeto de livro, estou bem. Não preciso de nada porque vivo dentro desse mundo fictício que, para mim, é real — encerra.

 

Fonte: O Globo

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