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06/06/2020

Lobotomia, o mais abominável capítulo da medicina. VEJA

Foto: Reprodução

Lobotomia, o mais abominável capítulo da medicina

Alguns sabem bem do que se trata. Outros conhecem o termo, mas não são tão familiarizados com o impacto doentio que esse tipo de "cirurgia" causou na história da Medicina e da humanidade. A lobotomia encabeça a lista de procedimentos médicos mais bárbaros, medievais e assassinos de todos os tempos.

 

A notória Eva Perón, alguns meses antes de sucumbir ao câncer, teve o seu cérebro perfurado pelo procedimento que visava alterar o comportamento. A enfermeira que prestou assistência no processo disse que, logo depois da cirurgia, Perón simplesmente parou de comer. E, por consequência, a morte a abraçou de forma derradeira, motivada pela doença que se espalhava dentro dela.

 

Rosemary Kennedy, a filha mais velha de Joseph P. Kennedy, tinha problemas de fala e aprendizado, o efeito direto de um acidente uterino que resultou na falta de oxigenação em seu cérebro durante o parto. O pai se envergonhava dela, por isso a forçou a se submeter à lobotomia. Rosemary nunca mais conseguiu andar ou falar. Ela morreu à míngua, longe de tudo e de todos, babando como um bebê.

 

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Andando para trás

 

(Fonte: The Psychologist/Reprodução)

Fonte: The Psychologist/Reprodução

 

Em 1890, o cientista alemão Friedrich Goltz concluiu, por meio de experimentos, que os cães costumavam ficar mais mansos quando tinham o lobo temporal interrompido. Dois anos depois, isso serviu de inspiração para que o médico suíço Gottlieb Burckhardt, supervisor de um manicômio na Suíça, começasse a interferir em partes do lobo frontal de seis pacientes com esquizofrenia paranoide. Ele acreditava que essa se tratava de mais uma das várias doenças cerebrais e que poderia removê-las criando deliberadamente lesões em regiões identificadas como "centros de processamento de informações", causando uma possível transformação no comportamento do indivíduo.

 

Como resultado disso, metade de suas cobaias pararam de ter alucinações, porém até hoje não se sabe sob quais circunstâncias, e a outra morreu. Burckhardt foi fortemente criticado pelas autoridades médicas da época, e esse tipo de psicocirurgia não foi mais realizada por 40 anos.

 

Gottlieb Burckhardt (Fonte: Geni/Reprodução)

Gottlieb Burckhardt. (Fonte: Geni/Reprodução)

 

A prática chegou a ser reproduzida às escuras, mas só retornou aos anais médicos em meados de 1935, quando vários laboratórios experimentais nos Estados Unidos começaram a fazer descobertas sobre a função do lobo temporal e frontal no controle do comportamento emocional e da agressividade. Na Universidade de Yale, o cientista Carlyle Jacobsen e o neurocientista John Fulton realizaram lobotomia em chimpanzés, o que resultou em um estado de calma sem perda aparente de outras funções.

 

O neuropsiquiatra português Dr. Antônio Egas Moniz teve a ideia de fazer uma operação semelhante à de Fulton, só que para aliviar os intratáveis sintomas mentais da psicose. Ele cortou as fibras nervosas que conectam o lobo frontal e pré-frontal ao tálamo. Dessa forma, argumentou que poderia ocorrer uma interrupção dos pensamentos e permitir uma vida normal aos psicóticos.

 

A princípio, a lobotomia ganhou o nome de leucotomia (corte de substância branca) e era realizada com um instrumento chamado leucótomo, similar a um saca-rolhas, que criava uma lesão circular no cérebro quando girado. Assim que os resultados foram espalhados para o mundo, em 1936, vários lugares começaram a fazer o procedimento, e não apenas em casos extremos de pacientes suicidas e violentos.

 

O buraco da dor

 

Walter Freeman (Fonte: All That's Interesting/Reprodução)

Walter Freeman. (Fonte: All That's Interesting/Reprodução)

 

O método foi considerado um milagre e sua popularidade cresceu, visto que a alternativa de institucionalização era pior. Em 1940, os italianos e americanos adotaram a lobotomia e rapidamente a modificaram. O psiquiatra Amarro Fiamberti inseriu o conceito de realizar o procedimento através das órbitas oculares, com um instrumento que parecia um picador de gelo.

 

Nos EUA, o neurologista Walter Freeman se tornou um showman. Viajou o país fazendo lobotomias, chegando por vezes a realizar 25 em um só dia para plateias lotadas. A lobotomia transorbital criada por ele era doentiamente feita em 10 minutos. Só em solo norte-americano, ele perfurou a cabeça de 3,5 mil pessoas com o picador de gelo.

 

O que era destinado a uma parcela ínfima das pessoas se banalizou. Todos procuravam ou eram submetidos à força à lobotomia, que foi amplamente divulgada como uma cura para qualquer problema de ordem emocional e psicológica. Pessoas depressivas, hiperativas, bipolares e até crianças desobedientes foram perfuradas.

 

(Fonte: Blog Unik/Reprodução)

(Fonte: Blog Unik/Reprodução)

 

Entre 1936 e 1970, só na América do Sul, 50 mil cidadãos passaram pelo processo, sem contar os que nunca foram registrados formalmente. Milhares de pessoas morreram logo após a cirurgia ou até 5 anos depois. Poucos sobreviveram sem sequelas motoras, cognitivas ou sucumbiram ao estado vegetativo — os internos dos hospitais psiquiátricos com certeza não foram parte desse grupo.

 

De qualquer forma, o que importava para o Estado era que as instituições estavam esvaziando, o que era essencial para preservar a imagem de um país que “consertava” os seus pacientes e os tornava funcionais de novo. O regresso ao meio social, no entanto, nunca existiu. Além disso, a lobotomia foi uma arma de guerra essencial contra inimigos e espiões, então era interessante, ainda que pessoas sãs estivessem morrendo.

 

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Certamente, o Nobel de Medicina entregue em 1949 a Egas Moniz "pela descoberta terapêutica da leucotomia" foi um aliado na disseminação da prática — mundialmente banida em 1977. Até hoje alguns atribuem os horrores da lobotomia à expressão popular “ossos do ofício” ou levam em consideração que “para muitos foi bom”. A dúvida é: bom para quem? 

 

Mega Curioso

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