Após ser esfaqueado, homem foi até o Hospital Irmã Dulce, onde recebeu atendimento
A história lembra as crônicas de Nelson Rodrigues, mas com uma versão atual. Já desconfiado de traição, o marido atende à ligação no celular da mulher. O número que ligou está salvo no aparelho, mas sem nome. Uma voz masculina pergunta pela dona do telefone e, após relutar em se identificar, diz ser o seu “namorado”.
A partir daí, houve o prenúncio de uma tragédia que não se consumou. Irritado, o traído se apresenta como o marido da destinatária da ligação, xinga o interlocutor e desliga o telefone. Em outra parte da moradia do casal, a pivô do caso, com requintes rodrigueano, corre ao quarto onde está o marido e tenta reaver o celular.
Durante breve discussão, que se estende à cozinha e à área de serviço, o homem atira o celular no tanque, danificando-o. A mulher pega uma faca na cozinha e golpeia o marido, com quem vive há sete anos e tem dois filhos, de 5 e 2 anos de idade. Atingido nas costas e no abdômen, ele vai sozinho ao hospital, recebe alta e volta para casa.
Veja também
Foto: Divulgação / Polícia Civil
Investigação
O episódio aconteceu na noite da última quarta-feira (22), no Boqueirão, em Praia Grande. O ambulante João (nome fictício), de 42 anos, se dirigiu ao Hospital Irmã Dulce. Acionados até lá, policiais militares comunicaram o caso na Delegacia Sede de Praia Grande, sendo registrado boletim de ocorrência de “tentativa de homicídio”.
Incumbida de esclarecer o crime, a equipe do delegado Flávio Magário e do investigador Gleydon Segundo ouviu com detalhes a versão de João. Depois, foi a vez de tomar o depoimento da também ambulante Maria (nome fictício), de 31 anos. Ela confessou ter desferido a facada no companheiro, porque ficou “nervosa” ao ter o celular quebrado.
Maria justificou que não é o primeiro telefone seu que João danifica. Porém, admitiu que o traía há pouco menos de um ano com o autor da ligação atendida pelo pai de seus filhos. Por fim, entregou a faca usada no crime e tentou abrandar a sua conduta, alegando que não teve intenção de matar a vítima.
Foto: Alexsander Ferraz / AT
Dom do perdão
Como não houve flagrante, Maria foi ouvida e liberada. A sua suposta intenção, de não matar, foi confirmada por João. O homem disse que a acusada é “boa mãe” e apenas tentou agredi-lo, porque poderia ter desferido outros golpes, mas não prosseguiu no ataque a facadas.
Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS no Facebook, Twitter e no Instagram.
Entre no nosso Grupo de WhatApp.
Magário ainda decidirá sobre qual é o enquadramento jurídico mais adequado ao delito. Porém, se dúvida ainda existe entre tentativa de homicídio ou mera lesão corporal dolosa, sob a ótica do investigador Gleydson Segundo, resta uma certeza: “João é um marido piedoso. Ele voltou para a casa e, além da traição, perdoou também o crime”.
Há quem diga que o ambulante apenas segue o preceito bíblico de perdoar quantas vezes forem necessárias. Sobre o tema, ao ser perguntado pelo discípulo Pedro se deveria perdoar até sete vezes o irmão que pecar contra ele, Jesus Cristo respondeu com a seguinte metáfora: “Não te digo sete vezes, mas até setenta vezes sete”.
Atribuna