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Mulher
21/01/2023

O feminismo praticamente nasceu dentro da Igreja, diz evangélica feminista

Foto: Reprodução

Conhecida por falar sobre a defesa de pautas feministas e antirracistas dentro do segmento evangélico, Simony dos Anjos une as experiências de cientista social e mãe de dois filhos (Bernardo e Viva) às vivências na Igreja para entender o Brasil atual e militar sobre questões como racismo, igualdade de gênero e justiça reprodutiva.

 

Ela também é mestra em Educação e doutoranda em Antropologia e concorreu ao cargo de Deputada Federal pelo PSOL/SP nas últimas eleições.

 

Não levou, mas a experiência em campanha ajudou a fundamentar ainda mais suas pautas e sua luta pelo combate ao preconceito e à desinformação, como mostra a entrevista concedida ao Terra NÓS.Você acha que, no Brasil, a religião evangélica e as religiões de matriz afro sofrem preconceito e são vistas sob a ótica do estereótipo na mesma medida?

 

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QUAIS AS DIFERENÇAS?

 

De forma alguma. Embora existam estereótipos evangélicos de vários tipos, geralmente eles são ligados aos costumes e hábitos culturais. Um exemplo são os frequentadores da Assembléia de Deus: as mulheres têm cabelos longos e vestem saias compridas, os homens usam ternos. Não há nada ligado à demonização das divindades, como ocorre com as religiões de matrizes africanas.

 

Existem, claro, chacotas e piadas sobre os evangélicos, algumas feitas por humoristas que seguem essas religiões. Porém, os próprios evangélicos riem dessas piadas. Os conflitos que acontecem conosco envolvem a convivência, não a intolerância religiosa.

 

No caso da Umbanda e do Candomblé historicamente os argumentos religiosos que as associam ao diabo serviram de justificativa para escravizar, torturar e matar negros no Brasil. O termo correto para o que as religiões de matriz afro sofrem não é intolerância religiosa, mas racismo religioso.


Uma parte relevante das evangélicas se posiciona contra as feministas. Você acha que essa disputa interessa à nossa sociedade, que ainda é patriarcal?

 

O paradoxo é que o feminismo praticamente nasceu dentro da Igreja. Na chamada primeira onda, uma das principais sufragistas americanas, Elizabeth Stanton (1815-1902), era protestante e liderou um grupo de mulheres extremamente religiosas no século 19 na luta pelo direito ao voto. Um dos argumentos adotados na época era que as mulheres não podiam votar porque Jesus era homem. E as feministas devolviam: e ele nasceu de onde? De uma mulher, certo?

 

Ou seja, a busca do direito das mulheres nasce num contexto de opressão patriarcal cristã. Nos anos 1960 e 1970, porém, as pautas feministas passam a questionar gênero e direitos reprodutivos, num contraponto frontal com o patriarcado. E conversas sobre o aborto vieram à tona.

 

Sim, a legalização do aborto passa a ser discutida e se torna uma pauta política logo incorporada pela Igreja. O curioso é que na própria Bíblia existem passagens em que a menção a "águas amargas" para interromper a gestação é claramente uma alusão a um abortivo.

 

Aborto faz parte da dinâmica da vida sexual e reprodutiva da humanidade desde sempre, mas fundamentalistas dos anos 1970 criaram um pânico coletivo ao falar de implicações, como sofrimento do feto, que não envolviam ciência.

 

O que houve é que até então apenas os homens tomavam decisões em relação ao corpo das mulheres e isso incomodou. Sobre as desavenças entre feministas e evangélicas, é preciso refletir sobre o papel de pregadoras como Ana Paula Valadão e Camila Barros e suas seguidoras, que se apoiam em lemas como "não sou feminista, eu sou feminina".

 

Elas alcançaram um certo poder na Igreja, não são totalmente passivas, têm privilegios e exercício de poder. Porém, respondendo à sua pergunta anterior, ser feminina e líder nessas condições reforça um comportamento dócil da mulher extrememante interessante para o homem.

 

Qual papel a religião ocupa hoje?

Religiões e sistemas de crenças são criados a partir de um sistema de interdição sobre o que pode ou não ser feito. Monges tibetanos não falam por um determinado tempo, algumas freiras ficam reclusas, filhos de certas entidades não podem comer pipoca, a cor branca tem dia certo para ser usada, a abstinência sexual é importante para muitas religiões.

O sofrimento é muito importante na religião cristã, mas, de modo geral, o controle é exercido por todas elas. Mas, para as mulheres, existe uma rede de solidariedade no território religioso que só é possível porque elas se encontram lá.

 

O espaço religioso também é um espaço de encontro de histórias, de narrativas, de vidas e de acolhimento. Sobre a Bíblia, que volta e meia entra no centro das discussões, as pessoas precisam entender que a gente está numa sociedade patriarcal, numa sociedade em que quem tem poder decide o que será veiculado dentro das igrejas. A gente acaba confundindo a interpretação da Bíblia com a própria Bíblia.


Vai na Fé, nova novela das 19h da Rede Globo, estreou nesta semana. Qual a sua opinião sobre a maior emissora do país levar ao ar uma trama com uma protagonista negra, evangélica e ex-cantora de funk?

 

Acho extremamente inteligente e acredito que a Globo fez uma pesquisa aprofundada para falar do tema. Hoje a Igreja evangélica é formada, em sua maioria, por 60% de negros. E as mulheres são a maioria entre os fiéis, ou seja, cruzando os dados, surge a protagonista. Além disso, a figura do "ex" na igreja evangélica é algo fundamental. Ex-traficante, ex-LGBT, ex-Pai de Santo.

 

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Isso prova o poder de conversão, é o testemunho vivo. Acredito que ao longo da história também vão surgir um pastor safado e temas polêmicos como o dízimo. A Globo durante muito tempo virou o alvo dos fundamentalistas, agora, possivelmente vai dar o troco e ironizar figuras como Marco Feliciano e Silas Malafaia.

 

Fonte: Terra

 

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