Pré-candidato à Prefeitura do Rio e suplente de Flávio no senado, Paulo Marinho disse que o senador recebeu informações privilegiadas sobre a Operação Furna da Onça
A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu, na noite deste domingo, que a Polícia Federal colha depoimento do empresário Paulo Marinho (PSDB-RJ) sobre a denúncia feita por ele de vazamento de informações sigilosas ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Em ofício encaminhado pelo procurador João Paulo Lordelo Guimarães Tavares à delegada Christiane Correa Machado, do Serviço de Inquéritos Especiais no Supremo Tribunal Federal (STF), a PGR também solicita a oitiva de Miguel Ângelo Braga Grillo, chefe de gabinete de Flávio.
A PGR também solicitou cópia de inquérito aberto pela PF para apurar um outro suposto vazamento de informações relacionadas à Operação Furna da Onça.
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As novas diligências serão realizados no âmbito das apurações sobre tentativa de interferência política na Polícia Federal pelo presidente Jair Bolsonaro, iniciadas com base em acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, já havia dito que iria analisar a denúncia. "O procurador-geral da República analisará o relato junto com a equipe de procuradores que atua em seu gabinete em matéria penal", a Procuradoria-Geral da República (PGR) havia informado, em nota.
Ainda ontem, a Polícia Federal divulgou nota na qual informa que "o suposto vazamento de informações na operação Furna da Onça foi regularmente investigado pela PF através do Inquérito Policial n º 01/2019, que encontra-se relatado".
A nota acrescenta: "Todas as notícias de eventual desvio de conduta devem ser apuradas e, nesse sentido, foi determinada, na data de hoje, a instauração de novo procedimento específico para a apuração dos fatos apontados".
Marinho, que é suplente do senador Flávio, afirmou que o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro lhe contou ter recebido informações sigilosas da Polícia Federal sobre a investigação que então envolvia seu assessor Fabrício Queiroz. Segundo o relato, um delegado da PF avisou das investigações pouco após o primeiro turno das eleições gerais daquele ano.
E teria dito, ainda, que membros da Superintendência da PF no Rio adiariam a Operação Furna da Onça para não prejudicar Bolsonaro na disputa contra Fernando Haddad (PT). Em nota, Flávio Bolsonaro negou a acusação.
Ainda de acordo com o relato de Marinho, o delegado da PF teria orientado Flávio a exonerar Fabrício Queiroz de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerh). No dia 15 de outubro, foram demitidos tanto Queiroz quanto a filha dele, Nathalia Queiroz, lotada no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados.
FURNA DA ONÇA
A Operação Furna da Onça foi deflagrada em 8 de novembro de 2018, pouco mais de uma semana após o segundo turno, do qual Bolsonaro saiu vitorioso.
Toda a história do vazamento, conforme as declarações do empresário, foi relatada pelo próprio Flávio em reunião com advogados na casa de Paulo Marinho. Na campanha presidencial, o empresário era um dos apoiadores de Jair Bolsonaro. Ele ofereceu a casa para reuniões do então candidato com o grupo que o auxiliou na disputa eleitoral.
A Furna da Onça, que faz parte da força-tarefa da Lava Jato do Rio, investigou a participação de deputados estaduais fluminenses em esquema de corrupção que pagava propina mensal (mensalinho) durante os anos de 2011 a 2014. De acordo com as investigações, a propina resultava do sobrepreço de contratos estaduais e federais. Dez deputados tiveram a prisão decretada. Flávio, que era deputado estadual, ficou de fora da operação.
Queiroz também não estava entre os alvos, mas a investigação acabou por detectar movimentação financeira atípica por parte dele. Um relatório do então Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), colocou Queiroz no noticiário político nacional e gerou desgastes para Flávio Bolsonaro.
Mais tarde, o Ministério Público do Rio (MPRJ) continuou a apuração originada na Furna da Onça com base na suspeita de que o dinheiro movimentado por Queiroz fosse, na verdade, resultado da apropriação de salários de funcionários do gabinete de Flávio.
O dinheiro depois teria sido lavado com a compra de imóveis que fazem parte do patrimônio do filho do presidente. Em razão disso, o MPRJ obteve na Justiça a quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador, de sua mulher, Fernanda Bolsonaro, e de Queiroz.
INVENÇÃO
O senador classificou a acusação de "invenção" e afirmou que o empresário tem interesse em prejudicá-lo, já que é seu suplente no Senado. Em nota publicada em suas redes sociais, Flávio Bolsonaro diz que "o desespero de Paulo Marinho causa um pouco de pena" e que o empresário "preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão", ao trocar a "família Bolsonaro por Doria e Witzel", e "parece ter sido tomado pela ambição".
Em 2018, Marinho, que era amigo do então ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República Gustavo Bebianno, acabou escolhido como suplente de Flávio Bolsonaro. O empresário depois se afastou da família Bolsonaro e acabou nomeado presidente regional do PSDB no Rio, em uma articulação do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Quando Bebianno foi exonerado, em 2019, e rompeu com o presidente, filiou-se ao PSDB, despontando como pré-candidato à Prefeitura do Rio nas eleições deste ano. Com o falecimento de Bebianno, em março, Doria indicou Marinho como candidato.
O Dia