Após enterro de jovem em Irajá, objetos são incendiados, e PM agride manifestante e atira de fuzil em sua direção
Após o fim do enterro do jovem Kelvin Gomes, de 17 anos, que teve início às 16h desta sexta-feira, o clima já era de tensão. No entorno do cemitério, cerca de 10 viaturas do 41º Batalhão (Irajá) reforçavam a segurança. Ao fim do sepultamento, entre os familiares e amigos as palavras ditas eram de dor e revolta. Um cortejo com 100 pessoas deixou o local em direção à Avenida Monsenhor Félix. Lá o grupo chegou até a rua e fechou o trânsito.
Poucos minutos depois, o cortejo disparava palavras de ordens contra a Polícia Militar e também contra o governador Wilson Witzel. Eles foram em direção à entrada da favela Pára-Pedro, onde Kelvin morava e foi morto. Foi então que parte do grupo tentou parar um ônibus e foi impedido por um dos policias militares que acompanhavam o protesto. Um tiro foi ouvido nesse momento, mas não foi possível identificar quem fez o disparo. A confusão começa neste momento, por volta das 17h.
O coletivo conseguiu seguir viagem. Pouco depois, iniciou-se a discussão entre os PMs e os moradores. Cerca de quatro policiais se afastaram da multidão, enquanto um deles, visivelmente nervoso, continuava a bater boca, sempre com o fuzil apontado para a multidão.
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— Não me cerca — dizia o agente, que, por diversas vezes, se aproximava sozinho, até o meio do grupo.
Momentos depois, o policial flagrado pelo EXTRA vai em direção a um jovem de camisa preta, que estava a cerca de 10 metros de distância e lhe dá um chute. O agente percebe a chegada de um outro homem pelo seu lado esquerdo e efetua o primeiro disparo de fuzil.
Foto: MARCELO THEOBALD / Agência O GLOBO
A tensão continua: um motorista de um carro preto, que não estava participando do protesto, mas passava ao lado, deixa o veículo e pede calma a todos. É neste momento que um outro PM se aproxima e tenta afastar o agente que efetuou o disparo. Em vão. Ele continua nervoso, vai até o carro que havia acabado de parar, discute com o motorista e efetua o segundo disparo de fuzil, a uma distância muito pequena dos manifestantes.
Novamente, o outro militar mais calmo tenta afastá-lo da confusão. Aos poucos, o agente vai recuando, mas dispara pela terceira vez, desta vez para o alto, e mais distante das outras pessoas. Ele se abaixa e pega a cápsula que caiu do fuzil com o disparo. Em seguida, cerca de 5 metros afastado dos manifestantes, ele se agacha, como estivesse se protegendo, e recua. Outros policias chegam e pedem calma ao PM.
Mais a frente, já na Estrada do Campinho, alguns manifestantes conseguiram depredar um ônibus da linha 562. Além de quebrarem alguns vidros do coletivo, levaram a chave: o que impedia o motorista de retirá-lo do local. O ônibus só foi removido três horas depois, com o auxílio de um reboque.
Já na entrada da comunidade Pára-Pedro, três barreiras de lixo foram incendiadas. Os policiais usaram duas bombas de efeito moral, que dispersaram o protesto. O trânsito na região só foi normalizado quatro horas depois, às 21h.
Foto: MARCELO THEOBALD / Agência O GLOBO
Em nota, a PM informou que o agente foi preso em flagrante e levado à 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM). Ele será avaliado e acompanhado pelo setor de psicologia da corporação.
Leia a nota da PM na íntegra:
"A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, na tarde desta sexta-feira (11/10), equipes do 41º BPM (Irajá), por medida de segurança, acompanhavam o sepultamento do jovem Kelvin no cemitério de Irajá.
Após o enterro, um grupo que participava do cortejo obstruiu a via e depredou um ônibus que passava pela Avenida Monsenhor Felix. Policiais intervieram e resgataram o motorista do ônibus. Houve um princípio de tumulto, momento em que um dos policiais se descontrolou e realizou disparos de arma de fogo. O militar foi preso em flagrante e encaminhado à 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM). Ele será avaliado e acompanhado pelo setor de psicologia.
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O comando da Polícia Militar reitera que a conduta do policial não é condizente com os protocolos de atuação instruídos e empregados pela Corporação. A PMERJ reafirma ainda o seu compromisso em não tolerar ações descabidas de seus integrantes, punindo com rigor os envolvidos em tais incidentes.
Os vídeos que circulam nas redes sociais estão sendo analisados e serão utilizados na apuração da Corregedoria."
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