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16/11/2019

Professor usa realidade aumentada e recebe prêmio Paulo Freire: 'Fui da periferia e cria da escola pública, com orgulho!'

Foto: Renato Batista da Silva

Professor Renato Batista da Conceição, do interior do Rio, usa App que permite uso de realidade aumentada nas aulas de geografia

 Uma aula de olhares curiosos, atentos e de sorriso aberto para a aprendizagem. O uso de realidade aumentada (AR, sigla em Inglês) deu aquele toque a mais nas aulas de geografia do 6º ano da Escola Municipal Victor Sence, em Conceição de Macabu, no Norte Fluminense.

 

Pela ação pedagógica diferenciada, o professor Renato Batista da Conceição, de 30 anos, foi um dos contemplados pelo Prêmio Paulo Freire, da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), na noite de quinta-feira (14).

 

Renato sempre estudou em escola pública e foi criado por avós analfabetos na periferia de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. Para ele, que sempre ouviu os conselhos da avó, a premiação teve um sentido bem especial.

 

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"Não posso deixar de dedicar primeiramente este prêmio a minha avó/mãe Marizete Barbosa, que sempre me incentivou a estudar e lutar por dias melhores na vida. Também dedico este reconhecimento aos meus dois filhos, Maria Luiza Conceição e Luiz Miguel Conceição, por serem razão e força para continuar, bem como as pessoas da minha família e amigos, que sempre me incentivaram a superar os obstáculos nesta caminhada. Sou ciente de que esse prêmio não é só meu, mas de todos os professores e professoras fluminenses, que lutam e resistem em sala de aula todos os dias para ensinarem e somarem na transformação social brasileira", agradece Renato.

 

Ao todo, 86 iniciativas inovadoras foram premiadas na 1ª Edição do Prêmio Paulo Freire, que foi dividido em nove categorias.

 

"É algo que me deixa extremamente feliz e realizado. Eu, inclusive, que aprendi a ler e escrever nessa chamada escola pública que, mesmo com muitas dificuldades, sempre busca contribuir com a educação dos alunos", afirma Renato, que ganhou na categoria "Experiência Pedagógica no Ensino Fundamental".

 

A tecnologia


Para os alunos do professor Renato a experiência mágica nas aulas de geografia tem sido possibilitada pelo aplicativo Merge Cube, um recurso tecnológico que expande o aprendizado para além das telas dos smartphones e tablets. É a realidade aumentada ao alcance dos estudantes.

 

"Trata-se de uma tecnologia que substitui uma página ou tela onde os alunos consomem conteúdo, por ser mais interessante e aumentar o engajamento dos estudantes. Na atividade que realizei com meus alunos, eles puderam observar o sistema solar na palma das mãos. Com seus próprios Smartphones, um Cubo Mágico feito de papel e um aplicativo gratuito de realidade aumentada, os alunos, encantados, conseguiram visualizar e aprender mais informações sobre o Sistema Solar e a Dinâmica da Terra", explica Renato.

 

O encontro de Renato com a Educação


Conte sobre a sua trajetória no ensino público e como chegou à geografia e à pedagogia?

 

- Em Campos/RJ, cursei o Ensino Fundamental na Escola Estadual Prisco de Almeida e Escola Estadual Benta Pereira. O Ensino Médio, cursei na Escola Técnica Estadual João Barcelos Martins, da Rede Faetec. O curso de graduação de licenciatura em Geografia surgiu na minha vida como uma oportunidade via Enem em 2009, quando tentei entrar no Instituto Federal Fluminense (IFF). Não sabia muito bem onde iria chegar, mas ao longo dos períodos do curso, fui me encontrando e construindo a minha identidade como futuro professor. Como fui pai aos 17 anos de idade, os programas de assistência estudantil da época no Instituto Federal Fluminense (IFF), muito me ajudaram para que não abandonasse o curso de licenciatura em Geografia. Já a paixão pela Pedagogia surgiu dentro do próprio curso de Geografia do IFF, aonde tive excelentes professores nas disciplinas pedagógicas, que inclusive me apresentaram as brilhantes ideias revolucionárias do Paulo Freire, o que me fez me encantar pela Pedagogia, sobretudo a Pedagogia Libertadora freiriana.

 

Como o uso das tecnologias chegaram a sua prática pedagógica e de que forma auxiliam na missão de ajudar no ensino?

 

- Para acompanhar as mudanças deste novo século, inovações tecnológicas têm proporcionado a nós professores a construção de novas metodologias de aprendizagem, cada vez mais eficientes e interativas em sala de aula. Pensando neste atual cenário educacional, através de reflexões realizadas também ao longo do meu curso de mestrado em Educação no Colégio Pedro II, nos anos de 2017 e 2018, fiz pesquisas e busquei inovar para tornar mais significativa e prazerosa a aprendizagem dos meus alunos nas aulas de Geografia.

 

Como os alunos reagem a esses novos modelos de ensino?

 

- Compreendo os alunos da Educação Básica, neste século XXI, como alunos nativos digitais. Isso tem exigido de nós professores repensar as metodologias de aprendizagem na escola. Em sala de aula, tenho observado que quando utilizamos recursos tecnológicos, os resultados são sempre melhores. É muito visível a mudança de postura dos alunos quando usamos novas tecnologias para a mediação da aprendizagem em sala de aula. Além de aumentar o interesse deles, a aprendizagem se torna mais interativa e significativa. Apesar da falta de infraestrutura adequada na maioria das escolas públicas brasileiras, o difícil acesso a internet para o uso dessas novas tecnologias, acredito que cabe a nós professores conscientes, subverter essa lógica, buscando criar espaços que incentivem a aprendizagem e criatividade dos nossos alunos no espaço escolar.

 

Quando percebeu que seu futuro estava na área da Educação, ou seja, como essa paixão foi se construindo na sua vida até decidir se tornar professor?

 

- Desde pequeno brincava de ser professor de escola com os meus colegas da rua do bairro onde morava. Aos 17 anos de idade, no fim do meu Ensino Médio na Escola Técnica Estadual João Barcelos Martins, em Campos/RJ, decidi seguir a carreira na área de Administração, mas, como não consegui pagar as mensalidades na faculdade particular, optei por realizar o curso de graduação em licenciatura em Geografia, no Instituto Federal Fluminense (IFF), com acesso via ENEM e pelas vagas da cota destinada a estudantes de escolas públicas. Como em muitos outros casos no Brasil, querer ser professor quase nunca é a primeira opção dos jovens, devido a desvalorização e a complexa realidade do sistema educacional brasileiro, mas, sempre gostei de estudar, ensinar, ler sobre tudo, e acabei me encontrando na licenciatura em Geografia. Hoje depois de 10 anos me considero um professor feliz pela escolha.

 

O prêmio significa muito pra você. Vamos falar de futuro. O que espera como professor?

 

- Receber o Prêmio Paulo Freire de Escola Pública da Alerj, em sua primeira edição no Rio de Janeiro, é algo que me deixa extremamente feliz e realizado. Como professor no Brasil, país marcado por muitas desigualdades sociais, espero, mesmo de maneira muito pequena, poder contribuir para a transformação da nossa complexa realidade. Paulo Freire dizia que “A Educação não transforma o mundo. A Educação muda as pessoas. As Pessoas que transformam o mundo”. Essa pedagogia é que tem me sustentado ao longo desses anos como professor na escola pública.

 

O que enxerga ao olhar para o futuro dos alunos, o que sonha para eles?

 

- Como bem apontava Paulo Freire, a escola se apresenta como local privilegiado à libertação, pois é pela possibilidade de debater, discutir, dialogar que alcançamos a compreensão sobre a realidade, o que torna possível aos alunos, escreverem de maneira autônoma suas histórias de transformações de vidas. Neste sentido busco na escola, todos os dias em sala de aula, contribuir para a formação de alunos críticos e comprometidos com a construção de um mundo melhor, mais justo e fraterno para todas e todos.

 

Qual o sentido da escola pública pra você, o que representa e como deve ser olhada por todas as pessoas?

 

- Esta é uma reflexão necessária e de certa forma ousada, visto que hoje enfrentamos inúmeras dificuldades no sistema educacional brasileiro. Observo no cotidiano da escola pública, que é cada vez mais necessário que a escola redimensione suas reflexões, reformulando suas ações pela compreensão do que a comunidade escolar (composta pelos alunos, pais, professores, equipe pedagógica, direção, funcionários) quer, visto que a escola é um espaço com função social e de suma importância para emancipação das pessoas.

 

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Mais algum agradecimento especial?

- Também dedico este prêmio aos meus alunos e colegas professores da Escola Municipal Victor Sence (da Rede Municipal de Educação de Conceição de Macabu) e da Escola Municipal José Rozendo de Barcelos (da Rede Municipal de Educação de Carapebus), onde atuo como Professor de Geografia desde o ano de 2013. Minha gratidão a todos vocês!

 

Renato Batista da Conceição recebeu o Prêmio Paulo Freire pelo uso de Realidade Aumentada nas

aulas de Geografia no ensino público no interior do Rio

Foto: Marcelo Dias

 

G1

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