19 de Abril de 2024 - Ano 10
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21/02/2020

Quem é mais forte contra Trump?

Foto: Divulgação

Pete Buttigieg, Bernie Sanders, Elizabeth Warren e Joe Biden: pré-candidatos do Partido Democrata à Presidência dos EUA

O debate democrata da última quarta-feira, em Las Vegas, foi marcado não apenas pela agressividade e virulência incomum com que os pré-candidatos se atacaram, mas também por uma questão de fundo que dilacera os eleitores do partido: quem tem mais chance de derrotar Donald Trump nas urnas?

 

O estreante Michael Bloomberg afirmou que jamais os americanos votariam num “comunista” como Bernie Sanders (que se declara não “comunista”, mas “socialista democrático”).

 

A senadora Elizabeth Warren declarou que os democratas não deveriam escolher um bilionário como Bloomberg, cujos segredos ainda não revelados poderiam resultar em escândalos que destruíssem sua candidatura.

 

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Uma palavra se tornou frequente nas discussões e análises para definir a chance de alguém ser eleito na disputa contra Trump: “elegibilidade”. De um lado, há aqueles que apostam num discurso mais agressivo, num candidato com o perfil de Sanders ou Warren, para convencer mais gente a votar e ampliar a chance do partido.

 

Do outro, há quem diga que as chances de convencer os indecisos nos estados críticos que deram vitória a Trump – Wisconsin, Michigan e Pensilvânia – ou os eleitores que votaram em Obama em 2012, mas preferiram Trump em 2016, serão maiores caso o partido escolha um moderado como Bloomberg, o ex-vice Joe Biden, a senadora Amy Klobuchar ou o prefeito Pete Buttigieg.


Quem tem razão? O debate eleitoral trouxe à tona uma questão que tem despertado uma discussão menos acalorada, mas bem mais substantiva, entre os cientistas políticos. Duas correntes analisam a disputa política e chegam a conclusões antagônicas, com base nos mesmos fatos e números. Só uma delas poderá estar certa.

 

A primeira, que poderia ser considerada o mainstream, tem seu maior representante no cientista político Ruy Teixeira, do Center for American Progress. Ela poderia ser chamada de corrente do “eleitor indeciso” (“swing voter”). Apoia-se em dados demográficos para inferir que a vitória dependerá de um grupo específico de eleitores – brancos sem nível universitário – em seis estados do Meio-Oeste (Iowa, Michigan, Minnesota, Ohio, Pensilvânia e Wisconsin).

 

É nesses estados que se encontram aqueles que votaram em Obama em 2012 e deram a vitória a Trump em 2016. O principal desafio da campanha democrata, segundo tal corrente, será atrair tais eleitores de volta ao partido. Como evidência, Teixeira apresenta o resultado das eleições de meio de mandato em 2018, quando candidatos com programa menos radical tiveram mais sucesso nas disputas pela Câmara e pelo Senado que os de perfil mais sanderista.

 

A segunda corrente enxerga o resultado de 2018 sob outro ângulo. Sua principal representante, a cientista política Rachel Bitecofer, era uma voz solitária quando previu que os democratas recuperariam a Câmara com uma margem de 42 deputados – no final, o resultado foi 40. Em sua previsão de julho passado, ela afirma que qualquer candidato democrata derrotará Trump e que isso independe da capacidade de convencer “moderados” ou “centristas” nos estados críticos.

 

Tal eleitorado, diz ela ao Politico, não passa de 7% e não tem a capacidade de decisão que muitos lhe atribuem. O que acabará decidindo a eleição, afirma, não é a capacidade de convencer os indecisos, mas a de levar às urnas aqueles que já têm lado e sabem em quem vão votar – para os democratas, grupos demográficos como negros, hispânicos ou mulheres dos subúrbios; para os republicanos, o eleitorado rural e os tais brancos sem nível superior. Para isso, carisma e um discurso agressivo como os de Sanders ou Trump poderão são mais eficazes que posições tidas como “moderadas”


“O eleitorado democrata complacente das eleições legislativas de 2010 e 2014 e das presidenciais de 2016 se foi (por enquanto)”, escreveu Bitecofer em análise no New York Times. “Foi substituído por um eleitorado galvanizado que produzirá para os democratas a mesma vantagem estrutural que se manifestou em 2018.” A análise dela vê a polarização e o discurso mais radical de Sanders como um ativo democrata, por estimular o comparecimento de jovens, negros, mulheres, hispânicos e outros grupos que não se abalariam em sair de casa para votar num candidato mais chocho.

 

A mesma lógica, contudo, serve também para Trump. Teixeira cita um estudo e uma análise para afirmar que, assim como estimula o comparecimento de um lado, a polarização também atrai eleitores do outro. “Se a eleição de 2020 tiver mesmo alto comparecimento, como tantos analistas esperam, esse pico poderá incluir muitos brancos sem nível superior, além de grupos tradicionalmente democratas, como jovens e não-brancos. O resultado poderá ser o aumento na votação total nos democratas – mas outra derrota no Colégio Eleitoral.”

 

Teixeira, co-autor do clássico The emerging democratic majority – onde previa que, com o tempo, a diversidade demográfica americana traria por gravidade e forma duradoura o poder aos democratas –, publicou em outubro uma análise detalhada dos números e continua a apostar na chance do partido. Mas discorda da tese que atribiu ao comparecimento o papel-chave na eleição.

 

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“Os resultados de 2018 não sustentam as teorias de Sanders”, escreveu no Washington Post. “Mesmo se o comparecimento dos negros em 2016 tivesse alcançado o nîvel de 2012 (caiu de 62% para 57%), Hillary Clinton teria perdido. Se, ao contrário, ela tivesse conseguido reduzir suas perdas entre brancos sem nível superior por um quarto de ponto, seria presidente. É uma questão de persuasão, não comparecimento.”

 

Quem está certo, Bitecofer ou Teixeira? Saberemos na noite de 3 de novembro.

 

G1

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