Os resgates de sírios e turcos, mais de 100 horas depois do terremoto, emocionaram o mundo nesta sexta-feira (10). O número de mortos ainda é parcial e passou de 23 mil. Os enviados especiais da Globo à Turquia estiveram em uma das regiões mais afetadas.
A cidade de Adana também foi atingida pelos terremotos. Ela fica no sul da Turquia e, por ser um grande centro urbano, virou uma base importante para receber sobreviventes e desabrigados.
O governo turco levantou milhares de tendas nas ruas, praças e ginásios. As tendas são bem simples, feitas de plástico, algumas cordas. O pessoal fica na frente conversando com a equipe do serviço social, e as barracas são todas numeradas: 60 dolu, por exemplo. Dolu significa cheia, ou seja, é para as pessoas não entrarem.
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Algumas mulheres contaram que na primeira noite depois dos terremotos tiveram que dormir na rua. Agora, se sentem melhor, mas estão preocupadas com quem ficou nas áreas mais atingidas.Um jovem abriu a tenda para a equipe da Globo e mostrou tudo o que ele tem a partir de agora: dois colchões, cobertores, algumas peças de roupa. Dentro de um saco plástico, um pouco de comida industrializada.
Ele disse que está dormindo na barraca junto com a mãe, que é idosa. Perderam tudo. Mas ele só reclama do frio, que é doloroso durante à noite. A temperatura mínima prevista para esta sexta-feira (10) na cidade era de 1°C.Para se aquecer, os desabrigados montaram pequenas fogueiras. Pedaços de objetos e galhos secos viraram lenha. O cheiro forte de fumaça toma conta do abrigo.
Alguns moradores de Adana foram levar um pouco de comida quente: sopa de lentilha e macarrão. Uma professora desabafou: está muito aflita com a situação das crianças desabrigadas.Uma rua foi bloqueada porque um prédio desabou - há equipes de resgate, muito barulho de maquinário. Ao lado, outra também foi bloqueada pela polícia.
Muitos prédios e casas estão com a estrutura comprometida, com rachaduras enormes.Uma mulher entrevistada por nossa equipe na rua, emocionada, contou que alguns parentes morreram no prédio que desabou lá perto. Uma outra agradeceu o apoio dos voluntários, mas reclamou das ações do governo turco, disse que foram lentas e insuficientes.
O presidente Recep Tayyip Erdogan voltou a admitir, nesta sexta, que o socorro às vítimas não está sendo rápido o bastante.
Na Síria, onde a população sofre com quase 12 anos de guerra civil, uns culpam os outros pela dificuldade nos resgates.
A organização humanitária Capacetes Brancos cobrou das Nações Unidas mais atuação no norte do país. A ONU pediu ao governo sírio mais acesso às áreas controladas pelos rebeldes.
Em Alepo, na primeira aparição pública desde os terremotos, o presidente Bashar al-Assad disse que o Ocidente politizou a tragédia, mas que nunca se importou com a situação humanitária no país.
Quatro dias depois dos tremores de terra, as chances de encontrar alguém vivo são bem menores. “Mas milagres existem”, desabafou um médico alemão, depois de ver uma mulher emergindo dos escombros onde estava havia 104 horas.Em Hatay, uma jovem de 27 anos passou 110 horas presa. Bombeiros espanhóis comemoraram o salvamento de uma mãe com o casal de filhos, em Iskenderum.
Em Adana, um prédio de 14 andares desabou. Entre o desespero e a esperança, as famílias acompanharam as buscas ouvindo os chamados da mesquita do bairro. Até agora, só uma pessoa saiu viva dali.
Os desabrigados da região ficam em uma escola de ensino básico que virou um abrigo improvisado.
Um homem apontou para a nossa equipe o prédio onde mora. “Está muito comprometido, dá uma olhada nisso”, lamentou.
Sem saber se a própria casa é um lugar seguro, milhares de famílias, só com a roupa do corpo, esperam. Mas para uma menina dentro abrigo, tudo parece mais simples. Ela nos mostrou os brinquedos, falou as cores que sabe em inglês. O sorriso puro nasce fácil em meio à tragédia.
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Uma outra família fez questão que a equipe da Globo sentasse para tomar um chá. O pai confessou que é difícil não perder a cabeça nesse momento. Já estava sem emprego, agora está sem casa. A mãe contou que eles têm cinco crianças. Estão assustados, mas confiam no futuro e agradecem a Deus por ainda estarem vivos.
Fonte: G1